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    TARAUACÁ: Aldeia Puyanawa realiza I Festival Atsa Puayanawa

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    A Terra Indígena Puyanawa, localizada cerca de 20 km do centro da Cidade de Mâncio Lima, está em festa. A aldeia está realizando o I Festival Atsa Puyanawa, na língua portuguesa o Festival da Mandioca. A festa ocorre dos dias 19 a 23 de Julho na Arena da Aldeia. O festival é uma homenagem aos primeiros indígenas que foram capturados pelos coronéis e começaram a trabalhar com o cultivo da mandioca.

    “Este festival é uma referência ao passado, ao presente a o futuro. Durante os cinco dias os nossos visitantes terão a oportunidade de conhecer os produtos derivados da mandioca que nós índios fazemos, é uma festa culinária dos saberes, da nossa cultura, do nosso artesanato tradições e costumes. O que esperamos é que nossos visitantes conheçam e valorizem mais ainda a nossa cultura”, destacou Joel Puyanawa, Cacique da Aldeia.

    Os índios Puyanawas foram escravizados e obrigados a trabalharem nas fazendas de café e roçados dos colonizadores desta região, muitos dos ancestrais foram caçados nas florestas como animais e outros foram mortos. Obrigados a se adequarem a cultura do homem branco por muitas décadas, as tradições e costumes da etnia foram deixados de lado.

    “Nós estamos hoje na quinta geração, após muitos de nossos ancestrais serem mortos e outros deixaram a aldeia. Durante décadas o nosso povo perdeu os costumes, as tradições, seja por vergonha ou porque os parentes não valorizavam. A natureza nos cobrou isso e o nosso povo sofreu e foi tocado para acordar pra realidade para os valores que estavam sendo perdidos. Em 2008, na realização das Olimpíadas Indígenas aqui na aldeia, nossa gente passou muita vergonha porque eu como cacique não era envolvido com a comunidade, era envolvido com outros segmentos religiosos, não conhecíamos nossa língua materno e tão pouco os nossos costumes e tradições. Estamos em um processo de resgate cultural e nesses dias vamos mostrar isso, criando um clima de paz de amor, de comunhão com Deus, mostrando aos nossos visitantes um festival inédito e bonito”, finalizou Joel Puyanawa, Cacique.

    Quem esteve presente foi o Prefeito Isaac Lima acompanhado de vereadores e Secretários Municipais. A Prefeitura de Mâncio Lima é uma parceira do Festival da Atsa com apoio na melhoria do acesso à aldeia e com logística para garantir uma festa bonita e alegre.

    “Este festival é muito importante para a cultura indígena visto que este povo já estava perdendo os seus costumes culturais. Hoje há uma nova visão da importância das tradições dos nossos antepassados e, é importante pro nosso estado e para o nosso Município que sedia esta festa e recebe seus visitantes com muita alegria. Eles estão muito empenhados e felizes em poder apresentar suas tradições, danças, costumes e cultura para os turistas. Estamos ajudando, mas, é uma ajuda insignificante diante da estrutura que foi montada. Aqui temos restaurantes, pousadas em forma de maloca, trilhas, artesanatos e uma estrutura receptiva muita bonita para acolher todos que vierem nos dias de festival”, finalizou Isaac Lima, Prefeito de Mâncio Lima.

    O Presidente da Associação Agroextrativista Puyanawa Barão Ipiranga, José Luiz Puyanawa também falou da satisfação e da espiritualidade que o I Festival Atsa Puyanawa está trazendo para a comunidade. Luiz destacou em um discurso emocionante a relação que seu povo tem com a natureza e com outros elementos que purifica e traz aos indígenas.

    “Nós estamos vivendo um momento de se concentrar e meditar nas melhores coisas para a nossa vida. O cuidado que temos que ter com a natureza e com os recursos que ela nos oferece para que tenhamos um espirito limpo, sadio e purificado. A floresta é o nosso sustento, e a nossa mãe que nos oferece os recursos que necessitamos. Os nossos ancestrais, antes de tudo isso que estamos vendo e falando aqui, nosso povo já existia, nós estamos falando de mais de 104 anos de história. Em 1909 a 1913 nosso povo foi capturado e escravizado, mortos, passaram por um processo de dizimação total da nossa cultura.  Hoje só temos a agradecer aqueles que despertaram e entenderam a nossa mensagem, não é toda a aldeia que está participando e conseguindo ver o bem e o valor de um povo. Todo povo, seja ele branco ou índio, precisa ter os receios e a sabedoria de sua ancestralidade, dos saberes que foram deixados por tios, avós, irmão, pai e parentes. Aqui temos o sol, a lua, o vento, os espíritos dos nossos antepassados que estão nos purificando e purificando os nossos visitantes”, falou José Luiz Puyanawa, presidente da AAPBI.