Franceses, norte-americanos, ingleses e holandeses foram testemunhas do fortalecimento da cultura indígena do Acre nesta segunda-feira, 10, na abertura do 3º Festival Huni Kuin, que ocorre às margens do Igarapé do Caucho, numa região afastada da cidade de Tarauacá, distante 440 km da capital Rio Branco. O evento acontece até o próximo sábado, dia 15, e deve reunir ainda mais pessoas de toda a parte do mundo. Uma grande estrutura foi montada para receber os turistas e um vasta programação durante o dia e noite embalarão os festejos da cultura Kaxinawá através de vivências, apresentações indígenas, trabalhos de pajelança e consagração das sagradas medicinas da floresta.
O festival iniciou no período da tarde com a recepção do Cacique Nasso Kaxinawá que às margens do barranco deu boas-vindas aos visitantes com um ritual marcado com cantos e energia positiva. De mão dadas com os demais índios, os visitantes dançaram e cantaram e conheceram toda a aldeia até chegar a área central onde ocorre os rituais. Um grande Cupixaua, uma espécie de oca comunitária feita em madeira, foi erguido recentemente dando mais conforto para quem for participar das danças e rituais.
Ao anoitecer, o jantar foi servido ao convidados. Barracas com vários tipos de comidas regionais estavam disposição de quem não tivesse interesse em se alimentar com cará, uma batata roxa cultivada pelos huni kuin de sabor adocicado. A caiçuma, bebida fermentada a base de milho também estava disponível para os turistas. Uma escola indígena com várias salas foi local usado para acomodar os visitantes. Lá havia redes e camas disponíveis. Indígenas ficavam responsáveis pela segurança enquanto os turistas conheciam a região, ora se consultando com pajés ou tomando a famosa vacina do sapo Kampô, onde as substâncias presentes na pele do animal penetram na circulação sanguínea das pessoas “fazendo uma limpeza espiritual e biológica”, dizem os mais antigos.
O auge da abertura ocorreu próximo a meia-noite. Índios e visitantes se reuniram dentro do Cupixaua numa noite estrelada e tendo uma grande lua cheia como testemunha. Ali, centenas de pessoas iria provar o Nixi Pae, que é o chá do cipó da Ayahuasca, conhecido como “Espírito da Floresta”
Ao som de cantos e danças, visitantes e indígenas entraram em transe e dançaram até o amanhecer visando fazendo uma limpeza espiritual. Crianças, adolescentes, adultos e idosos da aldeia tem o costume de tomar o chá em grande quantidade, diferente dos visitantes de fora, que geralmente tomam um copo com três a quatro dedos de medida.
“A cura do mundo está aqui”
“Eu respeito os médicos, respeito tudo isso, mas eu toco tudo isso. Deveria haver um maior acompanhamento da medicina tradicional com essa ligação da floresta, uma espécie de projeto piloto. Eu sou a prova do que falo. Eu vivi a um passo da loucura que eu não sabia o que era. Descobri que eu tenho um grau avançado de dislexia e aqui eu encontrei a paz, a cura. Eu descobri esse problema aqui através da expansão do pensamento”. disse Michele, que se emocionou durante a entrevista.
“Larguei tudo e vim parar aqui”
Alanna revela que chegou ao Acre por intermédio de uma amiga que mora em Cruzeiro do Sul. “Encontrei essa amiga nos Estados Unidos fazendo uma cerimônia com Ayahuasca e lá conversei com ela sobre o meu interesse de conhecer o caminho da luz, de levar esse conhecimento para os americanos. Isso tudo foi o suficiente para chegar em Rio Branco e depois conhecer essas regiões isoladas para rezar a criar uma vida melhor’, disse.
Autoridades na abertura do Festival
O deputado Jenilson Leite (PCdoB) liderou uma comitiva formada pelos vereadores Lauro Benigno e o presidente da Câmara de Tarauacá, Carlos Tadeu. O presidente municipal do PCdoB, Chagas Batista também esteve presente nos festejos. Todos foram recepcionados pelo Cacique Antonio Kaxinawá.
O Cacique Nasso Kaxinawá, que também é vereador pelo município de Tarauacá, disse que o Festival serve para valorizar não só a cultura, mas os laços com os demais irmãos do mundo inteiro. “Acreditamos que a difusão de nossos conhecimentos, de nossa cura, o mundo pode se tornar melhor, sem guerra, com paz e prosperidade. Esse é o momento ideal para refletirmos, expandirmos o pensamento no sentido da positividade. Eu quero ressaltar que todos os irmão são bem vindos em nossa festa. Esse encontro é para todos nós”, diz o líder indígena.
Por Marcos Venicios,
AC24HORAS
FOTOS: Jardy Lopes