Nascido em Rio Branco no dia 20 de setembro de 1959, Jorge Ney Viana Macedo Neves, o senador Jorge Viana (PT), é engenheiro florestal formado pela Universidade de Brasília (UnB). De volta ao Acre, em meados da década de 80, compôs a primeira diretoria da Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), instituição criada pelo então governador Flaviano Melo, para o desenvolvimento de tecnologias de uso de produtos florestais e apoio a projetos sociais e econômicos para populações tradicionais.
Amigo do ex-governador Binho Marques, Marina Silva e Simony Dávila, aproximou-se do movimento sindical e ambientalista do PT, inclusive apoiando o ex-presidente Lula nas eleições de 1989. Nesta época, ajudou a sistematizar a ideia de reserva extrativista, com a introdução da prática do manejo florestal sustentável.
Jorge Viana estreou como candidato em 1990, disputando o cargo de governador do Acre pelo PT. Foi a primeira vez que um candidato do partido disputou o segundo turno de uma eleição majoritária no País.
No ano seguinte, participou do primeiro curso de planejamento estratégico situacional, organizado pelo Instituto Latino-Americano de Desenvolvimento Econômico e Social (Ildes), que representava a Fundação alemã Friedrich Ebert, atual FES-Brasil, uma das mais conceituadas organizações na área de planejamento estratégico. O curso foi ministrado por Carlos Matus, ex-ministro de Economia do governo Allende, no Chile.
Em 1992, tornou-se prefeito de Rio Branco. Sua administração recebeu prêmios de gestão pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Fundação Ford. No final de sua administração, obteve 75% de aprovação popular, de acordo com o Ibope, e uma das melhores avaliações entre prefeitos de Capitais.
Em 1998 foi escolhido, ainda no primeiro turno, governador do Acre. Implantou um programa de desenvolvimento baseado nos ideais de Chico Mendes, ou seja, com utilização racional e sustentável da floresta, visando uma economia verde, de baixo carbono e alta inclusão social. Era o “Governo da Floresta”, onde nasceu o conceito de “Florestania”, a cidadania dos povos da floresta.
A população acreana renovou, em 2002, o mandato de Viana até 2006, com o maior percentual de votos do Brasil. A gestão de oito anos se destacou pela reestruturação do Estado. Na sua gestão combateu fortemente o crime organizado, juntando a força do Estado com o Ministério da Justiça, Justiça Federal, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Justiça Estadual e Ministério Público do Acre, além de contar com o imprescindível apoio da sociedade e da imprensa.
Sua administração foi uma das mais bem avaliadas no país. Ainda em 1999, recebeu o prêmio de Líder para o Novo Milênio da revista “Time” e TV CNN, por sua destacada atuação na área de meio ambiente. Pelo mesmo motivo, a organização World Wildlife Fund (WWF) concedeu-lhe o prêmio Gift to the Earth, em 2003.
Em 2010, foi eleito senador da República. No início do mandato, destacou-se na relatoria do Código Florestal e na presidência da Comissão Especial de Defesa Civil. Atualmente, é presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas, vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores, além de relator da nova Lei da Biodiversidade e do novo Marco da Ciência e Tecnologia.
Em meio a todo esse currículo e trajetória, transformou-se em um político conservador e cometeu pecados capitais, inclusive admitindo alguns deles, como o controle exacerbado da impressa e a sua belicosidade para com os adversários. No entanto, o maior de todos eles [esse ele não admite] foi fazer a defesa do ex-presidente Lula, que saiu da condição de maior líder popular do mundo, para se tornar um degenerado em todos os aspectos. O senador, inclusive, chegou a sugerir que Lula desacatasse o juiz Sérgio Moro para virar ‘preso político’.
Mas Jorge Viana está feliz. Recentemente, a própria Procuradoria da República retirou o seu nome da lista dos políticos envolvidos no escândalo da operação Lava Jato. Candidato à reeleição, esse simpático político recebeu a equipe de ContilNet Notícias em seu gabinete, em Rio Branco. O Senador falou sobre vários assuntos, mas destacou seu amor pelo Acre, a sua identidade cabocla e a vontade de continuar contribuindo com a política brasileira.
Veja os principais trechos da entrevista:
ContilNet – O senhor tem por hábito andar por locais mais remotos do Estado. Por quê?
Jorge Viana – Porque nós moramos em uma das regiões mais fantásticas do planeta, principalmente as cabeceiras dos rios. Temos, inclusive, índios que nunca tiveram contato com isso que chamamos de civilização. Eu aprendi com meu pai a me apaixonar pela História do Acre, pelo lugar em que vivo. Eu disse pra mim mesmo: ‘Preciso ser uma das pessoas que mais conhece o Acre’. Certa vez eu atravessei do Rio Tejo para o Jordão. Foram três dias de caminhada na mata. Perdi cinco unhas. Andei em aldeias e rios. Visitar esses lugares faz a gente falar com mais autoridade e altivez em Brasília. É um mergulho no coração do Acre, mas é também uma satisfação pessoal. O Frei Beto disse, numa palestra aqui na Ufac, que a nossa cabeça está onde estão os nossos pés.
ContilNet – Principalmente quando foi governador, o senhor se caracterizou muito pela belicosidade. O senhor mudou?
Jorge Viana – Eu tenho uma personalidade muito forte, sou virginiano, sou exigente. Sou zeloso ao extremo, sempre buscando a perfeição nas coisas. Eu levei isso comigo para a prefeitura e o governo. E não me arrependi, porque acho muito bacana. Isso é fazer coisas diferentes, mas com cuidado. É a ética da estética para as coisas ficarem bonitas, mas com simplicidade. Eu admito que era muito belicoso. Quando chegamos ao governo, tivemos de reconstruir tudo, inclusive enfrentando o esquadrão da morte. O povo acreano estava com a estima lá embaixo. Eu era mesmo muito belicoso. Essa ação minha de enfrentamento direto acabou por ajudar a criação do MDA. Esse crédito é do Narciso Mendes, que uniu e organizou a oposição. Depois de perder aquela eleição de 2000, eu fui fazer o Amana-Key, do Oscar Motomura, e mudei. Depois disso, como você pode perceber, nós não perdemos mais eleição. Foram dias fazendo o APG (Programa de Gestão Avançada). O meu foco não mudou, mas eu passei a ser mais tolerante com a oposição. Quiseram me colocar a pecha de perseguidor, mas não foi bem assim. Fazer as coisas funcionarem para o benefício comum é difícil. Nós enfrentamos a política arcaica, fisiológica e carcomida. Na prefeitura, por exemplo, nós tiramos 3.700 ambulantes das ruas. Fizemos os camelódromos, organizamos as praças, os mercados, dentre outros espaços públicos. Eu sempre faço autocrítica e me pergunto: ‘Será que o erro não é nosso?’
ContilNet – O que o senhor considera as conquistas mais relevantes do seu governo?
Jorge Viana – Eu acho que a coisa mais forte foi trazer de volta a autoestima do povo acreano. Quando você mexe com as pessoas, elas passam a gostar mais do lugar onde vivem. Elas começam a se orgulhar, a fotografar, a falar, a escrever sobre isso. Então você conquistou o quê? Quem gosta e quem ama, cuida. Nós passamos esse sentimento de amor pelo Acre. Agora isso sem trabalho não é nada. Tudo na gestão pública precisa vir acompanhado de amor e carinho. Eu tenho muito orgulho das equipes que montei no governo e na prefeitura. Na política o essencial é montar um bom time, ter um bom planejamento e fazer isso não para as pessoas, mas com as pessoas.
ContilNet – Neste momento o PT está precisando de uma autocrítica? Vez que foi varrido das principais prefeituras Brasil a fora…
Jorge Viana – Primeiro tem dois momentos que aconteceram. O PT mudou a história do povo brasileiro para melhor. Fazia décadas que não tínhamos um governo tão bom como o do Lula, e o primeiro da presidente Dilma. As conquistas sociais falam por si só. Tiramos o Brasil do mapa da fome. No governo Lula, todo mundo saiu ganhado: do miserável ao pobre, a classe média e os que eram ricos, milionários, ficaram mais ricos e mais milionários. O grande erro nosso foi não ter mudado a política. Não tivemos a ousadia e, convivemos com um sistema político falido, fracassado. Essa classe se empoderou durante os nossos governos. O PMDB é o partido que mais está ligado ao poder. Participou de todos os governos ao ponto de dar o golpe, chegando ao poder sem ter passando pelas urnas.
ContilNet – Mas o PT não teve coragem de fazer reformas. Nem a agrária?
Jorge Viana – O Lula decidiu não mexer nas estruturas do Estado. Talvez tenha sido melhor. Ele fez um governo de inclusão, principalmente colocando créditos na mão dos agricultores, sendo o governo que mais apoiou a agricultura familiar. Tanto é que ele conviveu harmonicamente com o MST. Foi o governo que mais assentou e o que mais criou universidades. Tudo isso é suficiente? Não! O PT não teve coragem de mexer com o sistema político, de fazer uma reforma. Isso talvez tenha sido a bala de prata. Findamos por empoderar uma elite odiosa, que tem preconceito contra o Lula. Tiraram a Dilma e o governo tem corrupção também. Quem fez o golpe? Aquele que é o partido mais fisiológico do Congresso Nacional, que conviveu com a gente apoiando o nosso governo. Foi uma falha conviver com esses setores. Numa entrevista na Carta Capital, no segundo governo da Dilma, eu disse assim: ‘Se é para ficar desse jeito, eu preferia ter perdido’. Aí fui criticado por isso. O segundo mandato do governo Dilma não começou. Ela foi sabotada e também errou muito. Mas setores midiáticos, do Judiciário e da política, ‘se juntaram’ para fazer aquela ação contra a presidente Dilma. Talvez o PT tenha cometido mais um erro. Não era para a presidente Dilma ter sido candidata a reeleição. Já tinha cumprido quatro anos. Ela não foi boa na articulação política.
ContilNet – Por que o senhor quer ser candidato à reeleição? O que vai dizer aos eleitores o ano que vem?
Jorge Viana – Nós temos seis pré-candidatos. Isso numa articulação liderada pela Tião. É algo inédito. Não vai ter nada decidido por levantamento de crachá. Eu já fui prefeito, governador e estou na segunda metade do mandato de senador. Eu também me fiz essa pergunta. Qualquer um que for ser candidato tem que se perguntar por que e pra quê? O Brasil está vivendo uma fase de muita hipocrisia. Todo mundo está indignado. Eu também estou indignado com o que está ocorrendo na política. O Senado é uma hipocrisia. O afastamento da Dilma foi um golpe ridículo de políticos corruptos, não todos, é claro. Estão querendo agora vender o Brasil. Estamos vivendo um caos. A Amazônia está em risco. Aquela região tem o subsolo rico em nióbio, cobre e ouro. Os falsos moralistas estão tomando de conta da política brasileira. Esse é um dos governos mais corruptos da história. Sou candidato porque o Brasil está vivendo este caos.
ContilNet – O PT é contra ou a favor da reforma política em curso?
Jorge Viana – O PT não reúne condição nem de ser contra nem a favor. Nós fomos excluídos do poder. Eu apresentei projeto contra o financiamento empresarial. Querer aprovar um fundo de 3,6 bilhões, pode trazer o povo de novo para as ruas. A opinião pública está indignada. Como candidato, eu quero passar a minha experiência. Não é pelo o que eu fiz, mas pelo o que eu possa fazer para ajudar o Brasil a vencer essa confluência de crises.
ContilNet – O senhor é assumidamente favorável a candidatura do prefeito Marcus Alexandre ao Governo. Por quê?
Jorge Viana – Nós tínhamos uma situação em que o candidato da oposição, o Gladson Cameli, já está estava em campanha há dois anos. A oposição já está até distribuindo secretarias, parecia que eles iriam ganhar até por W.O. A gente quis mostrar que temos alternativas. Desde a eleição do Marcus para prefeito, que ele é o grande favorito. Agora, vou te falar uma coisa: os nossos pré-candidatos são nomes muito bons, altamente qualificados e honrados para serem candidatos ao Governo do Acre. Mas o Marcus Alexandre é o melhor gestor que já formamos.
ContilNet – O que o senhor pode fazer pelo Acre neste momento da escalada da violência?
Jorge Viana – Eu acho que, com a corrupção generalizada na política, os bandidos se empoderaram e estão tentando formar um estado paralelo. Ponto número um: precisamos melhorar a política. Ponto número dois: precisamos sair da crise econômica e gerar oportunidades para as pessoas. O terceiro ponto é a questão da violência que tomou conta do país. Foram 62 mil assassinatos no ano passado, e este ano serão mais. Os políticos e a sociedade têm uma parcela de culpa nisso. O Código Penal é da década de 40, e por causa de algumas questões religiosas não se avança nisso. Não precisamos segregar ninguém para avançar nisso. Os crimes contra a vida precisam ser mudados com urgência. Com as nossas leis brandas, finda existindo um incentivo à impunidade. Nós temos 630 mil presos no Brasil. Cerca de 40% não foram julgados. Precisamos mudar a lei das execuções penais. A segurança pra mim é prioridade, porque não tem nada mais voloroso do que a vida.
Por Jorge Natal / Contil Net