Eu tenho falado sempre quando tenho oportunidade, que as pessoas só devem dizer que “um poste caiu” se realmente ele estiver no chão. Agora imagina se você é um comunicador, essa responsabilidade é dobrada. Atualmente vivemos a era em que todos são comunicadores em potencial, graças ao advento das redes sociais e grupos de whatsapp. O celular tornou-se um meio de comunicação de massa. As pessoas escrevem o que bem entendem e distribuem em 1 segundo para o mundo inteiro. Uns fazem isso para o bem e outros para o mal.
Fiz esse “arrodeio” todo pra falar do DEPASA em Tarauacá, órgão responsável para abastecer a população do município com água potável, um dos campeões de reclamações da população no meu programa de rádio.

Fui convidado pelo atual Gerente Janicélio Marinho, popularmente conhecido com Roque, para fazer uma visita e à ETA – Estação de Captação e Tratamento de Água do órgão e fazer um “raio X” da situação. Roque é um jovem gestor com larga experiência aqui no município em diversos órgãos públicos, que atualmente deve estar vivendo seu principal desafio.
Cheguei por volta das 10 horas de sexta feira, 2/02, na companhia da minha filha Janaina. Para começar, fomos até o local onde fica localizada a estrutura da captação. Uma balsa, com uma poderosa bomba elétrica que suga as águas barrentas do Igarapé Pirajá e as manda através de uma tubulação de espessura considerável até a estação de tratamento.
Agora vocês não imaginam como se chega até esse local. São cerca de 5 quilômetros de puro lamaçal e atoleiros. Só se chega “na pernada”, de trator, boi, cavalo ou a grande conquista desses bravos servidores que é o QUADRICICLO. Um veículo possante que substitui todos os anteriores. É “ralado” o percurso, mesmo na máquina.
Uma rede elétrica leva energia até a captação. Antes, era exclusiva do DEPASA e raramente apresentava problemas. Hoje foi estendida até as propriedades de criadores de gado que ficam no entorno da mesma e frequentemente, com qualquer chuvinha, “a canela do transformador cai”, desliga a rede, interrompe a captação e começa o drama dos homens da Eletrobrás e do DEPASA. Ir pelo ramal ou pelo igarapé para ligar a “canela”, restabelecer a energia e o fornecimento de água para o povo. Enquanto isso, o povo enche meu whatsapp de mensagens denunciando a falta do líquido precioso. (cartas foram aposentadas).
Agora imaginem transportar um transformador, um motor ou coisa do gênero. Aí não cabe no quadriciclo e precisa ser acionado um trator. É uma epopeia. O servidor que fica de plantão lá no “Pirajá” tem que ir “na pernada” para o local e gasta em média uma hora.
No inverno o drama é o acesso. No verão o drama é o baixo nível das águas do Pirajá que exige que os trabalhadores construam barragens com madeira, palhas, barro e tudo que tiver disponível, para represar a água.
Na estrutura de tratamento o negócio é organizado. Um monte de reservatórios, salas com produtos químicos, máquinas que misturam e fazem o tratamento, máquinas que impulsionam, uma caixa que armazena um milhão de litros, amostras são frequentemente colhidas e mandadas pra Rio Branco onde são submetidas a análises de qualidade. O cuidado é total.
Apesar do grande potencial de captação e tratamento, o grande “nó cego” do Depasa em Tarauacá é mesmo a distribuição da água para os consumidores. A rede é antiga, quebrada e insuficiente. Resultante de uma série de questões, especialmente, o crescimento desordenado da cidade. A cidade cresceu e a rede de água não cresceu eu na mesma proporção. Não atende a demanda do povo.
Parte da Cohab (ponta da Tancredo Neves), Bairro Avelino Leal (ponta da Tancredo Neves), Beco da Garagem, Campo do Luiz Madeiro e outras regiões do Bairro da Praia, Triângulo e outras regiões da cidade ou não são atendidas ou o atendimento é precário em relação à distribuição de água.
Segundo o gerente, um projeto está em análise pelo banco mundial para garantir recursos dos investimentos na captação direto do Rio Tarauacá e ampliação da rede em Tarauacá.
Esses investimentos são urgentes. O povo sofre, reclama, desperdiça, compra água mineral, não paga sua conta aumentando a inadimplência, mas, não pode lhe ser negado esse direito universal a ter em seu lar a água potável.
Dados da gerência local do DEPASA nos mostram a real situação do órgão em números.
São 39 servidores para atender o povo de Tarauacá com uma média de 5.000 (cinco mil) ligações, entre residenciais e para órgãos públicos e instituições. Sem contar as clandestinas.
Uma taxa de desperdício no município altíssima chegando ao índice absurdo de 45 % (quarenta e cinco por cento). Já a inadimplência chega ao impressionante percentual de 69% (sessenta e nove por cento).
PEQUENAS ESTAÇÕES DE CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO: No Bairro de Copacabana há um poço e um reservatório com 60 mil litros, distribuídos 3 vezes ao dia para a região alta do bairro. Um reservatório com capacidade de armazenar 150 mil litros, distribuídos 3 vezes ao dia para atender as comunidades dos Bairros Ipepaconha e Esperança e no Convocado há um poço e 1 reservatório com capacidade de armazenar 150 mil litros, distribuídos 3 vezes ao dia aos moradores do Corcovado e Esperança.
ESTAÇÃO CENTRAL – Horário de abastecimento da rede de convencional de distribuição
Das 04 às 09h – Bairro da Praia
Das 09 às 13h – Rua Severiano Ramos, Travessa Rio Muru e Bairro Luís Madeiro
Das 13 às 16h – Capitão Hipólito ,Borges e Buchão
Das 16 às 20h Centro, Benjamin Constant e Cohab
Das 20 às 22h – Bairro Avelino Leal e Vila Seabra
Das 22 às 24h – Copacabana e Região
Há outra situação a ser destacada que se refere aos trabalhadores do órgão. Homens e mulheres que prestam serviço para o povo, ganham seus salários e sustentam suas famílias honestamente. Nenhuma dos problemas apresentados acima é decorrente da vontade deles. Nenhum deles desliga uma bomba, quebra um tubo ou “tolda” a água com o objetivo de prejudicar o consumidor. Por eles tudo estava bem.
Conheço há muitos anos o Diretor Estadual Edvaldo Magalhães, sei da sua capacidade de gestão e já conversamos muito sobre a situação da água em Tarauacá. Se dependesse só da vontade dele não teríamos problemas aqui.
O Roque, gestor local, deve estar assustado com o volume de reclamações e dos problemas da distribuição da água em nossa cidade. Mas, vejo que ele é dedicado, preocupado e muito atencioso na direção do órgão.
Se todos são dedicados, de quem seria a culpa pelos problemas que acontecem aqui e que se arrastam há anos?
A culpa é de todos os atores. Governo, deputados, gestores, vereadores, líderes comunitários e até nossa. Parece que perdemos a capacidade de nos mobilizar e irmos para as ruas fazer pressão e exigir nossos direitos. A mobilização popular ainda é o melhor instrumento de luta. Não basta só votarmos e irmos para casa.
Foi, então, esta, a constatação depois da minha ida até o “Pirajá”.
Antes de criticarmos precisamos conhecer um pouco a realidade. Desse jeito vamos achar que a culpa sempre é do outro.
“O Poste que derrubamos não está no chão”
Raimundo Accioly/Professor e Comunicador em Tarauacá