Como política, o fascismo surge um ano após a Primeira Guerra Mundial, tendo como principal representante Benito Mussolini, na Itália, e cuja face mais brutal foi a perseguição contra políticos de oposição, judeus, homossexuais, negros, órgãos de imprensa e operários, especialmente os sindicalizados. O fascismo tornou-se referência para regimes semelhantes, como o Nazismo, liderado por Hitler, na Alemanha, responsável pelo assassinato de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, o fascismo como regime político tende a ser rejeitado em razão das mazelas que produziu. Contudo, o comportamento fascista ainda é um mal que nos rodeia e, mesmo nos líderes que dizem defender a democracia, são notáveis as suas características. Não podendo ser declaradamente uma política, o fascismo se manifesta como uma “nova” maneira de pensar a política, em que são adotados determinados comportamentos que não estão munidos de uma reflexão, mas de um sentimento de pertencimento a determinado grupo. Que elementos formam a identidade do fascismo que se revela em nosso cotidiano?
A ausência do diálogo: A raiz da violência é a ausência do diálogo. O diálogo é o exercício que garante constante aprendizagem, respeito e convívio com as diferenças, o que, numa sociedade democrática, é indispensável. No pensamento fascista, o diálogo é impossível, porque sua premissa é transformar a todos em sujeitos ideais, de mesma cor, religião, orientação sexual e, especialmente, conformados com as desigualdades. Não há lugar para as diferenças, nem para a reflexão.
O nacionalismo: O fascista reivindica para si os símbolos nacionais, como a bandeira, e acredita estar defendendo uma nação pura, ordenada, a qual nunca é identificada com clareza. No brasil, tal nação é tida como aquela formada por “cidadãos de bem”, mas quem seriam eles? Precisamente sujeitos truculentos, defensores de ditaduras, que dirigem embriagados e não querem ser multados, que odeiam tudo o que possui relação com arte e pluralidades culturais, que dizem defender uma família específica (e cada um deles tem duas ou mais) e que confundem liberdade de expressão com direito de ofender, ameaçar e ser violento.
O autoritarismo: “O sujeito autoritário”, nos adverte Marcia Tiburi[1], “tem orgulho de seus pensamentos como se fossem verdades teológicas que somente ele detém”. Não é à toa que hoje, no Brasil, o líder da nação diz tranquilamente “quem manda sou eu”, quando questionado sobre qualquer decisão sua no que diz respeito ao seu trabalho como “representante” dos interesses do povo. Esse mesmo sujeito autoritário encontra na violência a sua forma de controle social. Todo aquele que se opõe às suas concepções deve ser punido, eliminado.
O inimigo: De preferência imaginário, o inimigo é o que mantém vivo o discurso do fascista. Ele não vê sentido em qualquer forma de governo que não vise aniquilar aquele que pensa ou vive de forma desproporcional ao modelo de sociedade que ele decidiu como correto. Quando o atual presidente do Brasil veio ao Acre em 2018 e disse “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”[2], pensei ter sido uma ofensa até para quem, assim como eu, não é filiado ao Partido dos trabalhadores, porque, independente disto, a frase foi violenta, intolerante e antidemocrática. Infelizmente, dos que estavam presentes ele só teve aplausos.
O ódio: Todo sentimento é resultado de uma construção. O fascismo se nutre do ódio, enquanto também o nutre pela desinformação. Esses dias ouvi alguém dizer que “índio não tem ganância, que não pensa em acumular, que só trabalha para alimentar-se”, o que poderia ser perfeitamente um belo elogio, mas o tom era o mesmo de quando se expressa que alguém é assassino ou terrorista. Este é um dos exemplos de como o ódio é sempre irracional, programado e repetido.
O negacionismo: Para o fascista não há problemas sociais, mas individuais. Não há homofobia, racismo, misoginia ou qualquer outro problema relacionado à discriminação de grupos por sua condição de existência. O fascista também nega a ciência, principalmente quando ela está munida de fatos que comprovam o contrário daquilo que ele diz, e a política (outside), em que a neutralidade (embora impossível) é defendida e o pensamento político é tido como danoso.
Por essas e muitas outras características, o fascismo está bem mais próximo do que o que somos capazes de perceber. Mais de 57 milhões de brasileiros que apoiaram as falas mais chulas e violentas nas eleições de 2018, acreditando estarem participando de uma caçada aos monstros que eles mesmos criaram e aos sujeitos que desumanizaram, assistem, hoje, as ameaças às instituições democráticas e o aumento da corrupção e da violência. Nosso alento ainda é o mesmo: a possibilidade do conhecimento, do diálogo e do amor.
NOTAS:
[1] TIBURI, M. Como conversar com um fascista / Marcia Tiburi. – 7ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2016.
[2] Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-em-25-frases-polemicas/>. Acesso em: 20/06/2020.
Por: Maria José Correia (formada em História – Ufac e mestranda em Educação – Ufac)