A sociedade não foi construída para nós, não nos víamos nos meios midiáticos, a não ser em subempregos ou visões que reforçavam estereótipos raciais e de gênero (e preciso dizer que isso ainda acontece, e muito). Não tínhamos nem produtos para nossa beleza. A mulher negra foi posta como bonita muito recentemente e sendo a “negra bonita”, “beleza exótica”, “que samba”, “Vênus negra”…
Nossas histórias e legados foram jogados ao fogo da “civilização”, e já não podíamos ser quem somos, logo, recriaram nossa história, determinaram aonde devemos morar, trabalhar e como somos, o que somos.
Nós, como mulheres negras, rompendo com os silenciamentos, precisamos falar sobre a solidão da mulher negra. “A branca para casar, a mulata para fornicar e a preta para trabalhar”. Pior, às “mestiças” foi dada a ideia de “boa na cama”. Nem afeto nos restou. A hipersexualização do corpo negro, oriunda do histórico escravizador (estupros dos senhores as mulheres escravizadas, como um dos exemplos), nos adoeceu e nos adoece.
Não me enquadro no padrão europeu e nem do que foi construído como “mulher negra bonita” e hoje me sinto bem comigo mesma. Me sinto linda por ser eu e quem eu sou. É algo muito profundo, falar sobre estima, hoje eu me auto estimo. Mas foi só aos 14 anos de idade que comecei a usar meu cabelo solto. Foi há pouco tempo que percebi que cada um é lindo à sua maneira e pude me valorizar. E isso só veio a acontecer porque fui procurar minhas origens, valorizar as narrativas da minha cor.
Ainda estou na construção para usar turbante, e a prática de me enxergar, observar meus traços e aspectos é uma (des)construção própria e diária do racismo estrutural que fere, mata e que foi naturalizado por séculos, estando nos olhares, nas falas, nas formas de tratar o outro, na discriminação.
O silenciamento sobre nós é muito presente e constante, temos que seguir, uma subindo e puxando a outra. Se auto estime e estime quem mais você puder.
* Texto e foto publicados originalmente no perfil de Isna Fernanda (https://www.instagram.com/p/BkK-a4DDNKM/?igshid=peq03ge8raaw) no Instagram.
** Isna Fernanda é modelo, Miss Ultranational Acre (2020/2021), formada em nutrição pela Universidade Federal do Acre, produtora de conteúdo para a internet e, claro, uma mulher que inspira muito. Conheça mais em: <https://instagram.com/isnafernanda?igshid=50tdoh73dpul>.