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    29 de janeiro é o dia da visibilidade trans, e infelizmente ainda há pouco o que celebrar. É mais um dia de luta, dos quais, nós, cis e héteros, jamais teremos a dimensão. O Brasil atualmente lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans[1], tendo registrado, apenas em 2020, 184 assassinatos motivados pela intolerância e pelo ódio às pessoas que não se enquadram no perfil Cisgênero e heteronormativo. Se este dado não for motivo de reflexão e mudanças, não sei o que será suficiente para recuperarmos nossa humanidade.

    Para início de conversa, precisamos esclarecer alguns termos. Transgênero refere-se a toda pessoa que não se identifica com o seu sexo biológico, é o contrário de Cisgênero (pessoa que se identifica com o sexo de nascimento). Sendo assim, não se trata de uma orientação sexual, muito menos uma “opção”, mas uma identidade ou expressão de gênero, uma vez que o homem ou a mulher trans, podem ser de qualquer orientação sexual (heteroafetiva, homoafetiva, bissexual, entre outras.). Transgênero também inclui transexuais e travestis, cujas diferenças estão basicamente na forma como se sentem psicologicamente em relação ao seu sexo biológico e com as mudanças que decidem fazer em relação a ele.   

    Todas as pessoas com quem abordo este assunto, embora não seja meu lugar de fala, o considera muito difícil de compreender, e, de fato, penso que isto requer que reservemos espaços de aprendizagens e experiências sobre a temática. O primeiro passo – e o menos difícil – é ouvir pessoas trans falarem sobre como se identificam e qual sua experiência. Estas pessoas podem estar ao nosso redor, invisibilizadas pelo nosso olhar preconceituoso, mas não precisamos necessariamente estarmos próximos a elas para ouvi-las, algumas delas já ocupam espaços importantes, como o Tammy Miranda, um dos 9 vereadores mais bem votados de São Paulo em 2020. Outros famosos, como Tarso Brant, e influenciadoras digitais como Gabriela Loran [2] nos prestam um grande serviço, criando conteúdos referentes à compreensão das individualidades das pessoas trans, inclusive tratando teoricamente do assunto. Cabe a nós ouvi-los e compartilharmos suas falas.

    Embora o cenário apontado inicialmente seja desesperador, não só para pessoas trans, mas para todos os que buscam liberdade e justiça social, nos sobra uma pontinha de esperança quando pensamos que nossa geração ainda pode mudar, e que já podemos observar bons resultados das lutas que confrontam o preconceito, embora não haja interesse nisto por parte do poder governamental. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), “pelo menos 27 pessoas trans foram eleitas para as Câmaras Municipais nas eleições de 2020” [3], dado que representa um avanço no seio da política brasileira profundamente branca, masculinizada e heteronormativa.

    Numa democracia, a defesa da liberdade de expressão (inclusive a de gênero) é imprescindível. Todos e todas nós, cis ou trans, temos nossas próprias vivências e individualidades que nos diferenciam de todas as outras pessoas, por que, então, ainda não garantimos O MÍNIMO, que é a vida das pessoas trans? A resposta está bem próxima de cada um de nós. Matamos uma pessoa trans cada vez que deixamos de combater as falas violentas de familiares e amigos que as desprezam e humilham; somos cúmplices do transfeminícídio sempre que vemos graça na ridicularizarão dos corpos trans feita por homens, que consideram uma piada “vestir-se de mulher” ou fingir ser de orientação sexual diferente da sua; o fazemos também cada vez que deixamos de eleger pessoas comprometidas com a liberdade e o respeito a todxs. Pensem nisso. 

    Amor e respeito às pessoas trans.

    Notas:

    [1] https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/01/29/brasil-segue-no-topo-de-paises-que-mais-reportam-assassinatos-de-trans-no-mundo

    [2]https://instagram.com/gabrielaloran?igshid=1pccftzbmvmu1

    [3] https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2020/11/18/eleicao-tem-recorde-de-pessoas-trans-eleitas-para-camaras-de-vereadores

    Por:  Maria José Correia (formada em História – Ufac e Mestra em Educação – Ufac).