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    Ainda sobre vacinas* (Por Sávio Maia)**

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    O co-diretor executivo da organização Médicos Sem Fronteiras, Sidney Wong, disse em entrevista recente que a pandemia da Covid-19 poderia ser vencida em um ano, ou menos, se não houvesse o empecilho das patentes das vacinas. Para ele, infelizmente, no ritmo que está não é possível prever como será esse combate.

    O que o Brasil e o seu presidente têm a ver com isso?

    Aos fatos: China, Índia e África do Sul, os três componentes dos BRICS (Grupo que era formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, do qual o Brasil se afastou após a eleição de Bolsonaro), propuseram a “interrupção transitória” da propriedade intelectual dos produtos relacionados à pandemia, tais como, seringas, geladeiras, IFA, incluindo as vacinas, para sob a coordenação da Organização Mundial de Saúde (OMS), dar um trato igualitário às pessoas em todo o mundo. O governo brasileiro, junto com os governos dos EUA (Trump), Reino Unido, Austrália, Suíça e Japão, se opuseram, para defender os lucros dos laboratórios privados e permitir os leilões de vacinas por estes. Um verdadeiro fura-filas entre os países, onde os mais ricos pulam na frente dos mais pobres.

    Os governos da China, Índia, África do Sul e uma enorme quantidade de outros governantes de outros países têm clareza que o MERCADO não tem objetivo, nem eficiência para enfrentar um problema desta monta, que atinge toda a humanidade. Sabem que a ele só interessa lucro, sabem que o MERCADO não sofre, não chora, não tem entes queridos.

    Este é um dos motivos para não termos avançado rumo a uma forma mais eficaz e global de enfrentamento à pandemia, o que nos leva a conviver com essa alta média móvel de mortes e novos casos de contaminação, sem previsão de vencermos a doença.

    Por último, um dado para demonstrar o quanto essas patentes são imorais. Os virologistas e geneticistas que, em tempo recorde, fizeram as descobertas mais importantes a respeito dos vírus das SARS/Covid-19 e da consequente produção de vacinas, pertencem a Institutos e Universidades Públicas, ou seja, fazem parte de um compêndio de conhecimentos que foram ao longo da história sendo construídos coletivamente.

    Não é difícil perceber que será a política, não a economia (MERCADO), que salvará vidas, mas precisamos entender isso e definir centralidades, as duas mais urgentes no Brasil são: Vacinas para todos/as, já! e, Fora Bolsonaro/Mourão.

    * Texto publicado originalmente no perfil do facebook do autor, em 12 de fevereiro de 2021 <https://www.facebook.com/savio.maia.5>

    ** Professor associado da Universidade Federal do Acre (Ufac), Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).