MAIS

    Enem 2021 tem 4 milhões de inscritos, menor número desde 2007

    Por

    O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou, nesta quinta-feira (15), que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 teve 4.004.764 pessoas inscritas.

    O número de inscritos é o menor desde o Enem 2007, quando 3,57 milhões de participantes se inscreveram. Também é o menor desde que a prova adotou o formato atual, em 2009.

    O número final de candidatos habilitados a realizarem o exame pode cair ainda mais, porque o pagamento da taxa de inscrição, de R$ 85, pode ser feito até segunda-feira (19). Sem essa validação, a inscrição não é concluída.

    A quantidade de inscritos também é 34% menor do que no ano passado: em 2020, 6,1 milhões de pessoas se inscreveram no exame, e 5,8 milhões confirmaram a inscrição. Mais de 50% dos inscritos confirmados, entretanto, não fizeram a prova.

    Neste ano, diferentemente da edição anterior do Enem, as versões impressa e digital serão aplicadas nas mesmas datas (21 e 28 de novembro) e terão perguntas iguais. O Enem digital será exclusivo para quem já concluiu o ensino médio ou está concluindo essa etapa em 2021.

    Dos inscritos, 3.903.664 deverão fazer a versão impressa. A versão digital teve as 101.100 vagas ofertadas preenchidas.

    Enem será mais uma vez excludente, diz especialista

    Para Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo da organização Todos Pela Educação, o baixo número de inscritos tem diversos motivos. Um deles é o fechamento das escolas durante a pandemia.

    “Acho que é reflexo fundamentalmente de duas questões: a primeira é a perda do vínculo com a educação e com os próprios estudos em função de um ensino remoto de baixíssima efetividade e com alcance limitado”, apontou Nogueira Filho.

    “E o segundo [motivo] é que é reflexo da necessidade de busca de renda por parte de muitos desses jovens”, completa.

    Outro ponto que contribuiu para queda, diz o especialista, são as regras para obter isenção da taxa de inscrição – que preveem que, se um aluno que pede a isenção da taxa não comparece ao exame, ele não tem direito a recebê-la no ano seguinte.

    Por causa da pandemia, entretanto, mais da metade dos participantes não compareceu às provas de 2020. Para conceder novamente o benefício da isenção aos alunos que faltaram no ano passado, o Ministério da Educação (MEC) aceitava motivos como morte na família ou problemas de saúde – mas não o medo de contágio pela Covid-19.

    Ou seja: quem deixou de fazer a prova porque não queria se expor a aglomerações perdeu o direito à isenção nesta edição.

    “Isso impacta, claro. Ainda mais quando a gente volta pro quadro de que metade dos jovens de 15 a 29 anos tiveram impacto na sua renda familiar. A crise econômica tem afetado muito [os] jovens e naturalmente eh a taxa [de inscrição] incide”, afirma Nogueira Filho, do Todos Pela Educação.

    O especialista diz que a inação do governo federal contribuiu para o cenário.

    “Nós estamos diante de um Enem que prejudicará os mais pobres – em função da pandemia, do ensino remoto [que] foi menos efetivo para os jovens mais pobres de maneira mais forte”, afirma.

    “Quando o governo não toma, por exemplo, uma decisão de rever a regra da isenção da taxa, é essa inação. O governo não enxerga o problema em termos um Enem que prejudica os jovens mais pobres, não parece estar incomodado com o fato de a gente ter, pelo segundo ano consecutivo, um Enem excludente”, diz Nogueira Filho.

    A postura, diz, é “diametralmente oposta à ideia de uma de um país mais justo” e que precisa enfrentar desigualdades.

    “Eu acho que, se fosse um governo de fato comprometido com a educação, com a ideia de que a educação é o grande vetor de transformação individual e coletiva de um país, a pergunta ‘o que fazer pra mitigar esse cenário?’ deveria tirar o sono do ministro da Educação. E não parece ser esse o caso. Não se tomou ações pra atenuá-lo – pelo contrário, permanecemos com uma regra que era evidente que resultaria num cenário como esse”, avalia.

    Por G1