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    Polícia investiga se ex-PM suspeito de matar 12 pessoas em Roraima era ‘pistoleiro’ no garimpo

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    O ex-policial militar, de 41 anos, apontado como responsável por ao menos 12 assassinatos, também é suspeito de envolvimento na atividade de ‘pistolagem’ em região do garimpo ilegal em Roraima, informou o delegado Marcos Lázaro, diretor do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).

    O homem foi preso no dia 30 de junho pela Polícia Civil. Conhecido por “Mutum” ou “Cabeça Seca”, ele foi flagrado com fardamentos e acessórios de uso exclusivo da PM, além de mochilas com kits de sobrevivência na selva, como acessórios de armas de fogo calibre .40 e munições calibre 38.

    Ao G1 e à Rede Amazônica, o delegado contou que, inicialmente, a Polícia acreditava se tratar de um serial killer, porém, o ex-policial confirmou que o material apreendido com ele vinha do garimpo.

    “Ele, realmente, confirmou que aqueles acessórios de armamento restrito vinham do garimpo e que, eventualmente, ele ia para essas regiões. Uma das linhas de investigações, é a atuação dele na atividade de ‘pistolagem’. Não está descartado esse apontamento, por conta dessa declaração dele e, também, de elementos que obtivemos em momento anterior à prisão dele, que indicavam que havia uma movimentação constante para o interior do estado, para região de mata”, informou o delegado.

    Conforme a Civil, desde 2018 há três mandados de prisão em aberto contra o ex-policial. O delegado pontuou que, pelo fato de Boa Vista ser uma cidade “relativamente pequena” e o suspeito ser bastante conhecido pelas forças de segurança pública, “causou estranheza, três anos desses mandados em aberto”.

    Ao delegado, no entanto, o ex-policial militar negou a autoria da maioria dos crimes. “Ele confirma os delitos dos três mandados de prisão, mas os demais homicídios ele nega e também se reservou ao direito de não dar maiores detalhes a respeito desses outros crimes”, disse.

    Primeiros crimes

    Os primeiros registros de homicídios cometidos pelo ex-policial que a Civil tem conhecimento, são de 2011, conforme o delegado. Entre os anos de 2013 e 2014, com a solução de alguns inquéritos, as autoridades pensaram se tratar de um serial killer, que estava em atuação na capital.

    Na ocasião, o homem chegou a ser preso em flagrante, devido a mais um homicídio. O procedimento foi encaminhado à PM, e resultou na expulsão dele da corporação em 2015.

    Marcos Lázaro detalhou que assumiu a direção do departamento de homicídio e proteção à pessoa em março deste ano. Após uma reestruturação na metodologia de rotina de trabalho de investigação, ele e sua equipe ficaram responsáveis por apurarem um atentado a tiros em uma distribuidora, no último mês de maio.

    “Uma pessoa teria chegado de roupa preta, em uma moto preta, perguntado a idade dos frequentadores e começou a atirar. Nesse atentado, duas pessoas foram mortas e duas ficaram feridas. A nossa equipe, já trabalhando com a nova metodologia, conseguiu identificar em poucas horas o suspeito. Essa suspeita recaía, então, ao ex-PM”, contou.

    A partir desse crime, os agentes aprofundaram as investigações sobre o ex-servidor e descobriram que havia vários inquéritos policiais em trâmite de homicídio, no qual ele era suspeito de, ao menos, 12 mortes, somadas essas duas últimas na distribuidora.

    “No curso das investigações, após a [recente] prisão dele, também nos chamou a atenção o fato de que ele estava há tanto tempo praticando esses crimes, sem nenhum tipo de reprimenda do estado, o que leva a crer que, ao menos no caráter preliminar, ele era apoiado. Ele tinha uma rede de apoio, que é bastante complexa, a princípio, e que pode integrar pessoas ligadas à organizações criminosas, não necessariamente facções ou pessoas ligadas à mineração ilegal, o garimpo”.

    Prisão e próximos passos

    O diretor disse, também, que durante a sua prisão, o acusado não reagiu e foi “bastante tranquilo” com relação a ela. Na última segunda-feira (12), a defesa dele pediu sua transferência da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) para a Cadeia Pública de Boa Vista.

    A alegação, é a de que o ex-policial está encarcerado em um local “junto com presos pertencentes a facções criminosas” e pode ser morto caso descubram que ele já fez parte da PM.

    Marcos Lázaro esclareceu que as investigações continuam e que, inquéritos que estavam em aberto na qual ele figura como suspeito, precisam ser fechados. “Vamos aprofundar, através da nossa unidade de repressão ao crime organizado, em conjunto com a DGH, a possibilidade de organizações criminosas comporem uma rede de apoio ao ex-PM”.

    Já sobre a suspeita de um serial killer na cidade, o delegado disse que há provas que apontam o contrário. “Há indícios de que essas mortes não eram ocasionais e nem eram para satisfazer algum interesse emocional ou psíquico do ex-PM. Nós precisamos aprofundar mais e verificar se, realmente, é dessa forma”.

    Questionado sobre o comportamento do preso, Marcos Lázaro falou que, em relação à prisão, ele demonstrou frieza.

    “Não demonstrou arrependimento. Perguntei algumas vezes para ele, se ele se arrependia e ele balançou a cabeça. Eu fiz uma pergunta para ele: em que momento, você sendo um PM, defendia a sociedade, estava do nosso lado, em que momento aconteceu? Ele não soube me responder o momento em que enveredou por esse caminho”, contou.

    Para o delegado, as práticas criminosas começaram por uma “boa causa” e acabaram saindo do controle. Segundo ele, as vítimas do ex-agente eram envolvidas com o crime.

    “Nós, que temos um pouquinho de estrada na segurança pública, percebemos, entendemos e vemos que tudo começa assim, vamos dizer, “por uma boa causa”. Só que evolui. Aquela pessoa que entra nesse caminho, deixa de ser um justiceiro e passa a ser um pistoleiro. Não sabemos se é exatamente isso o que aconteceu com ele mas, há claros indícios de que começou com uma causa do bem e acabou se tornando algo incontrolável”.

    Marcos Lázaro finalizou, contando que espera que a prisão dele represente um fato importante e positivo para a segurança pública, em relação a impunidade. “Queremos que impacte diretamente no número de homicídios daqui para frente, por Boa Vista ser pequena”, disse.

    Por G1