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Fernanda Montenegro é eleita para a ABL: conheça os bastidores da disputa pelo título de imortal

Por BBC

Fernanda, que era a única concorrente à vaga, recebeu 32 votos. Aos 92 anos, ela será a primeira mulher a assumir a cadeira 17 e sucederá o diplomata Affonso Arinos de Melo Franco (1930-2020).

Os ocupantes anteriores foram o escritor Sílvio Romero, o poeta Osório Duque-Estrada, o antropólogo Roquette-Pinto, o crítico literário Álvaro Lins e o filólogo Antonio Houaiss.

“Fernanda Montenegro é um dos grandes ícones da cultura brasileira. Intelectual engajada e sensível leitora do real. Sua presença enriquece os laços profundos da Academia com as artes cênicas”, disse o presidente da ABL, Marco Lucchesi.

A atriz é apenas a nona mulher eleita para a ABL ao longo dos 124 anos de história da academia.

Antes de dela, tornaram-se imortais Rachel de Queiroz (1977), Dinah Silveira de Queiroz (1980), Lygia Fagundes Telles (1985), Nélida Piñon (1989), Zélia Gattai (2001), Ana Maria Machado (2003), Cleonice Berardinelli (2009) e Rosiska Darcy de Oliveira (2013).

“Posso estar enganada, mas acho que é inédito algo como o que está acontecendo agora, de ninguém concorrer com Fernanda Montenegro”, observa a acadêmica Ana Maria Machado, ocupante da cadeira 1 e presidente da instituição entre 2012 e 2013.

“Talvez seja um sinal de como ela se constitui num ícone cultural, embora seja uma atriz – a rigor um perfil algo insólito para a Casa de Machado de Assis. Dá ideia de seu valor simbólico hoje”.

Muito antes de Rachel de Queiroz (1910-2003) se tornar a primeira mulher a vestir o fardão de ramos de café bordados com fios de ouro, outras mulheres tentaram.

A primeira delas foi a jornalista Amélia de Freitas Beviláqua (1860-1946). Em 1930, escreveu uma carta ao então presidente da casa, Aloísio de Castro (1881-1959), propondo sua candidatura. Em vão.

Quarenta anos depois, Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982) também cumpriu os protocolos da academia: entregou uma carta oficializando sua inscrição e disponibilizou suas obras para os acadêmicos. De nada adiantou. Um ano depois, tentou novamente. E, em 1979, mais uma vez. Só foi eleita em 1980.

“Historicamente, as candidaturas femininas foram não só reiteradamente condenadas e rejeitadas pela esmagadora maioria dos membros da academia, como sua proibição foi incorporada ao regimento interno da ABL em 1951”, afirma Michele Asmar Fanini, doutora em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e autora da tese Fardos e Fardões: Mulheres na Academia Brasileira de Letras (1897-2003).

“A proibição regimental às candidaturas femininas vigorou até 1976. Em seus primeiros 80 anos de existência, tornar-se ‘imortal’ correspondia a uma prerrogativa exclusivamente masculina”. Hoje, apenas cinco dos 40 acadêmicos, o que corresponde a 12,5% do total, são do sexo feminino.

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