MAIS

    Quais as intenções do chefe do grupo Wagner, que arranhou a imagem de Putin e abalou a Rússia

    Por G1

    Grupo mercenário liderado por Yevgeny Prigozhin, considerado aliado de Putin, tomou uma cidade russa com facilidade e ameaçou chegar a Moscou na semana passada. Negociação e acordo entre as duas partes foram intermediados pelo governo de Belarus.

    O aliado virou traidor — ao menos por algumas horas e nas entrelinhas. De sexta-feira (23) a sábado (24), Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo Wagner, criado quase 10 anos atrás para atender justamente aos interesses de Vladimir Putin, tomou uma cidade russa com facilidade e avançou pelo país ameaçando chegar a Moscou.

    A situação foi resolvida com panos quentes, colocados pelo próprio presidente da Rússia, que viu sua imagem ser abalada.

    “O Putin, me parece agora, e eu acho que é a primeira vez que a gente pode falar isso em quase 24 anos de Putin como presidente, ele dá a sensação de não ser mais intocável como ele foi ao longo desse período inteiro”, avalia Tanguy Baghdadi, professor de Política Internacional na Universidade Veiga de Almeida em entrevista ao podcast O Assunto desta terça-feira (27).

    E o acordo entre as duas partes, feito por Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, é uma incógnita que ainda vai levar tempo para ser entendida, na opinião de Tanguy.

    “Não deu para engolir muito ideia de que ‘ah, ok, eu virei as costas, voltei, vou pra Belarus e vai ficar tudo bem’. A gente aceitar isso seria aceitar que o Prigozhin, depois de toda a carreira que ele fez, de toda a força que ele ganhou, ele teria se aposentado, né? E realmente eu não consigo acreditar nisso.”

    Violento e influente, Prigozhin foi condenado a 13 anos de prisão por assaltos nas ruas de São Petersburgo em 1981. Fora da cadeia, começou a vender cachorro-quente até que o negócio cresceu e virou um restaurante chique, local onde conheceu Putin.

    Vladimir Putin e Yevgeny Prigozhin — Foto: Gavriil Grigorov, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP; Oficina de prensa de Prigozhin vía AP

    Tanguy, entretanto, diz ver claramente intenções políticas nas ações de Prigozhin para as eleições russas do ano que vem.

    “Eu acho que a intenção dele era aparecer eventualmente como um substituto do Putin”, acredita Tanguy — e, justamente por isso, toda a rebelião vista na semana passada não teve Putin propriamente como foco, apesar de ter arranhado a imagem do presidente da Rússia.

    “Então, se o Putin quiser descansar, se ele quiser sair, o Prigozhin seria alguém em que ele poderia confiar, tanto é que ele é muito cuidadoso nessas críticas que ele faz. Eu sei que pode parecer que ele está colocando todo mundo no mesmo balaio, mas ele fala contra a classe oligárquica, que ele faz parte também, […] e contra a classe militar, mas ele não ataca o Putin em si.”