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    Zambelli nega irregularidades e diz que pagamentos a hacker são referentes a serviços em site

    Por G1

    Deputada também disse que, em reunião no ano passado, Bolsonaro questionou a Walter Delgatti Neto se urnas eletrônicas são confiáveis. Nesta quarta, PF cumpriu mandado de busca e apreensão em endereços da deputada, e prendeu hacker da ‘Vaza Jato’. Segundo ele, Zambelli teria solicitado a invasão de sistemas da Justiça.

    A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) negou nesta quarta-feira (2) que tenha cometido irregularidades e afirmou que pagamentos feitos ao hacker Walter Delgatti Neto, da “Vaza Jato”, são referentes a serviços que ela contratou para o seu site.

    Mais cedo, nesta quarta, a Polícia Federal prendeu Delgatti e fez buscas e apreensões em endereços de Carla Zambelli, inclusive no gabinete parlamentar e no apartamento funcional em que mora.

    A PF investiga a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (veja mais detalhes abaixo).

    Segundo Delgatti, os serviços ilegais teriam sido solicitados por Carla Zambelli, com a intenção de levantar dúvidas sobre sistemas da justiça. A PF afirma que Delgatti recebeu pelo menos R$ 13,5 mil de assessores da parlamentar.

    “Como eu poderia ter pedido uma fraude nas eleições no mês de novembro depois de ela ter acontecido? Os fatos não batem. O que eu tinha subcontratado através dele [Delgatti] foi a ligação das redes sociais minhas através do meu site. Ele não conseguiu fazer. Teve a tentativa de trabalhar com ele [Delgatti], mas não deu certo”, afirmou Carla Zambelli.

    Reunião do hacker com Bolsonaro

    Em entrevista na Câmara dos Deputados, Zambelli também confirmou que se reuniu com Delgatti e com o então presidente Jair Bolsonaro, no ano passado. Segundo ela, no encontro, Bolsonaro teria questionado ao hacker se as urnas eletrônicas são confiáveis. Delgatti teria respondido negativamente.

    “Ele [Delgatti] queria conhecer o presidente [Bolsonaro]. Como ele se dizia um esperto em tecnologia, o presidente queria perguntar pra ele se as urnas eram confiáveis, e ele [Delgatti] disse que não”, relatou Zambelli.

    Segundo a colunista do g1 Camila Bomfim, em depoimento à Polícia Federal, Delgatti afirmou que se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da Alvorada, para tratar do sistema das urnas eletrônicas. A reunião teria ocorrido em agosto de 2022.

    Segundo Delgatti Neto, no encontro intermediado por Zambelli, Bolsonaro teria perguntado se Delgatti conseguiria invadir as urnas eletrônicas se estivesse munido do código-fonte dos equipamentos. O hacker disse aos investigadores, no entanto, que “isso não foi adiante”.

    Depoimento de Delgatti

    A prisão do hacker e a busca contra Zambelli acontecem depois do depoimento que Delgatti deu à PF em junho. Entre as declarações estão:

    • Que ele encontrou com Zambelli em setembro de 2022, às vésperas da eleição, em um posto de gasolina e que ela pediu que ele invadisse a urna eletrônica ou qualquer sistema da Justiça brasileira. Segundo ele, a intenção dela era mostrar a fragilidade dos sistemas;
    • Que ele chegou a tentar invadir a urna, mas que o código fonte não estava conectado a um computador em rede e, por isso, não conseguiu;
    • Que ele retornou à Zambelli que não tinha tido sucesso e que ela pediu que ele invadisse o celular e e-mail do ministro Alexandre de Moraes para tentar conversas comprometedoras. Ele disse que já tinha acessado o e-mail de Moraes em 2019 e não havia encontrado nada;
    • Que conseguiu ter acesso ao sistema do CNJ e que foi ele quem deu a ideia de emitir um mandado de prisão em desfavor de Moraes, como sendo emitido por ele mesmo. Disse à PF que ao contar isso à Zambelli, ela enviou a ele um texto para publicar, mas que o português estava ruim. Que após fazer os ajustes, emitiu o mandado incluindo o bloqueio de bens no mesmo montante da multa aplicada ao PL.
    • Que foi levado por Zambelli para um encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em agosto de 2022.

    A operação

    Os investigadores apuram se Delgatti Neto invadiu o site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu documentos fraudados no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões – incluindo um falso mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

    Segundo o hacker, os serviços ilegais teriam sido solicitados por Carla Zambelli. A PF afirma que Delgatti recebeu pelo menos R$ 13,5 mil de assessores da parlamentar.

    A operação desta quarta, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, cumpriu uma ordem de prisão preventiva contra Walter Delgatti Neto e cinco mandados de busca e apreensão contra ele e Carla Zambelli (três no DF, dois em SP).

    Entre outras medidas contra a deputada, Moraes determinou:

    • a apreensão de armas, munições, computadores, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos, e passaporte
    • busca e apreensão em carros eventualmente encontrados nos endereços da deputada e nos armários de garagem
    • apreensão de dinheiro e bens (joias, veículos, obras de arte e outros objetos) em valores superiores a R$ 10 mil, desde que não comprovada cabalmente, no local dos fatos, a origem licita
    • a quebra do sigilo bancário, no período de junho de 2022 a junho de 2023

    A operação desta quarta foi chamada de 3FA. Segundo a PF, o nome faz referência à “autenticação de dois fatores (2FA), método de segurança de gerenciamento de identidade e acesso que exige duas formas de identificação para acessar recursos e dados”.

    O nome se refere ao fato de os mandados falsos de prisão e soltura terem sido inseridos nos bancos de dados do Judiciário Federal após invasão dos sistemas, com o uso de credenciais falsas obtidas de forma ilícita.

    Ainda de acordo com a PF, os fatos investigados “configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica”.

    O que dizem os citados

    Em nota, a defesa de Walter Delgatti Neto confirmou a prisão do hacker, disse que “não teve acesso à decisão” e que ele está detido na Polícia Federal em Araraquara (SP).

    A defesa de Carla Zambelli divulgou nota em que confirma as buscas e nega irregularidades da deputada. Leia abaixo:

    “A deputada federal Carla Zambelli confirma a realização de mandados de busca e apreensão em seus endereços nesta quarta-feira. A medida foi recebida com surpresa, porque a Deputada peticionou, através de seu advogado constituído, o Dr. Daniel Bialski, colocando-se à disposição para prestar todas informações necessárias e em nenhum momento a parlamentar deixou de cooperar com as autoridades. Respeita-se a decisão judicial, contudo, refuta-se a suspeita que tenha participado de qualquer ato ilícito. Por fim, a Deputada Carla Zambelli aguardará, com tranquilidade, o desfecho das investigações e a demonstração de sua inocência.”