O ex-presidente socialista François Hollande, deputado eleito na Assembleia francesa na bancada da Nova Frente Popular de esquerda, disse neste domingo (22/9) que o novo governo francês de centro-direita, liderado pelo premiê Michel Barnier, é “frágil”, “sem nomes de peso” e “precisa ser censurado”. Entre os novos integrantes do partido de direita Os Republicanos, há vários políticos linha-dura e reacionários. Na imprensa francesa, alguns cientistas políticos evocam um governo que lembra a “velha França”.
“É como se tivéssemos mergulhado a direita no formol em 2012 e a ressuscitássemos hoje. Não há renovação do software ideológico”, afirma ao jornal Le Monde o cientista político Vincent Martigny. Os editoriais dos principais jornais regionais do país, que costumam ter avaliações distintas, fazem a mesma leitura: o governo Barnier dá uma guinada à direita sem precedentes desde a chegada de Emmanuel Macron na presidência, em 2017. Segundo o Courrier International, que repercute as nomeações na imprensa estrangeira, Barnier é o chefe de governo “mais frágil” que a França teve em décadas.
Os 39 ministros e secretários de Estado anunciados no sábado são em sua maioria do partido do presidente Emmanuel Macron, alguns aliados de centro (das siglas MoDem e Horizontes) e dez representantes da velha guarda da direita. A única personalidade de esquerda é o novo ministro da Justiça, Didier Migaud, ex-deputado socialista que presidiu o Tribunal de Contas e a Alta Autoridade para Transparência na Vida Pública. Barnier tentará responder às críticas em uma entrevista neste domingo, no jornal de 20h do canal de TV France 2.
A maioria dos ministros sequer tomou posse, e o novo governo já enfrenta tensões internas. O ex-premiê Gabriel Attal, que agora lidera a bancada do partido fundado por Macron na Assembleia, disse que vai exigir de Barnier garantias de que não haverá retrocessos em leis sobre “a reprodução assistida, o direito ao aborto e os direitos LGBT” adotadas nos últimos anos. Depois de se reunir com deputados macronistas na manhã de domingo, Attal revelou que há “desentendimentos básicos com certas personalidades” do novo governo.
Primeiro chefe de governo abertamente homossexual na história do país, Attal declarou estar preocupado com a presença de ministros que recentemente se opuseram à “constitucionalização do aborto” ou à “proibição da terapia de conversão para pessoas LGBT”. Sem citar nomes, ele se referia à senadora Laurence Garnier, nomeada secretária de Estado para Assuntos do Consumidor, uma representante da direita ultraconservadora.
A chegada do senador Bruno Retailleau ao Ministério do Interior, de perfil muito conservador nas questões sociais e firme na imigração, também preocupa os movimentos progressistas.
Os sindicatos de professores protestam contra a ministra nomeada na Educação, a centrista Anne Genetet, uma médica bastante conhecida em questões de Defesa, mas sem qualquer experiência na área do ensino.
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