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    Apesar de escalada da guerra, bolsas de NY sobem com falas do Fed

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    Ao contrário do que ocorreu na Europa, que teve os principais índices fechando no vermelho nesta segunda-feira (23/6), as bolsas de valores dos Estados Unidos operavam com ganhos durante a tarde, apesar da escalada no conflito no Oriente Médio que agora envolve Israel, Irã e os EUA.

    Em meio às preocupações acerca dos desdobramentos da guerra, com a resposta do Irã ao ataque norte-americano do último sábado (21/6), os investidores repercutem declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) indicando um possível corte de juros na próxima reunião da autoridade monetária, nos dias 29 e 30 de julho.

    Em declarações durante um evento em Praga, na República Tcheca, Michelle Bowman, vice-presidente de supervisão do Fed, afirmou que os juros podem cair nos EUA caso a inflação siga perdendo força no país. “Se as pressões inflacionárias permanecerem contidas, eu apoiaria a redução da taxa básica de juros já na nossa próxima reunião para aproximá-la do patamar neutro e apoiar um mercado de trabalho saudável”, afirmou Bowman.

    “Enquanto isso, continuarei monitorando atentamente as condições econômicas, à medida que as políticas do governo, a economia e os mercados financeiros evoluam”, completou a diretora do Fed.

    O que aconteceu

    • Por volta das 15h15 (pelo horário de Brasília), o índice Dow Jones subia 0,72%, aos 42,5 mil pontos.
    • No mesmo horário, o S&P 500 avançava 0,74%, aos 6 mil pontos.
    • O Nasdad Composto, que reúne as ações de empresas do setor de tecnologia, registrava alta de 0,93%, aos 19,6 mil pontos.
    • O índice DXY, que mede a relação entre o dólar e uma cesta de moedas de países desenvolvidos, recuava 0,01%, a 96,69 pontos, depois de avançar 0,65% durante o pregão.

    Irã responde aos EUA

    Em retaliação aos ataques dos EUA nesse sábado (21/6), o Irã lançou mísseis, nesta segunda-feira, em direção a Doha, capital do Catar. O alvo era Al-Uldeid, conhecida por ser a maior base militar dos EUA no Oriente Médio. O Iraque também foi atingido por pelo menos um míssel.

    O Catar confirmou o ataque e afirmou que suas defesas aéreas interceptaram os mísseis. O país condenou o ataque iraniano. Já o Departamento de Defesa dos EUA informou que não há relatos de baixas americanas na base de Al Udeid.

    Pelo menos 10 mísseis foram lançados em direção ao Catar e pelo menos um foi lançado em direção ao Iraque.

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    Trump entra na guerra

    Tropas dos EUA bombardearam três instalações nucleares no Irã no sábado (21/6). A ação norte-americana foi parabenizada pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por uma decisão “ousada”.

    Um dos locais bombardeados foi a usina de Fordow, com capacidade para operar 3 mil centrífugas para enriquecimento de urânio, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

    Ao longo dos últimos anos, Netanyahu tentou apoio dos EUA para tentar pôr fim ao programa nuclear do Irã. Segundo ele, a medida seria para evitar que o país persa fabricasse uma bomba atômica.

    Depois da ação norte-americana, aliados do Irã, como os Houthis, no Iêmen, ameaçam atacar navios dos EUA no Mar Vermelho caso a potência persista na guerra.

    O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse, nesse domingo (22/6), que o país persa não vai se render e que não teme as ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump.

    “Ele [Trump] ameaça e, com uma declaração ridícula e inaceitável, pede explicitamente à nação iraniana que venha e se renda a mim. Quando uma pessoa observa essas coisas, fica verdadeiramente surpresa. […] Dizer à nação iraniana para se render não é uma atitude sensata. Pessoas inteligentes que conhecem o Irã, conhecem a nação iraniana, conhecem a história do Irã, jamais diriam tal coisa. Render-se a quê? A nação iraniana não é de se render”, enfatizou Khamenei.

    O aiatolá do Irã indicou ainda que a ação militar dos EUA pode trazer “danos irreparáveis” aos próprios norte-americanos. “O que eles sofrerão nesse sentido é muito maior do que o que o Irã pode sofrer. O dano que os EUA sofrerão se entrarem militarmente neste campo será, sem dúvida, irreparável.”

    Nesta segunda-feira, Trump usou sua rede Truth Social para comemorar a precisão dos ataques norte-americanos.

    “Danos monumentais foram causados ​​a todas as instalações nucleares do Irã, como mostram imagens de satélite. Obliteração é um termo preciso. A estrutura branca mostrada está profundamente incrustada na rocha, com até mesmo seu teto bem abaixo do nível do solo e completamente protegido das chamas”, escreveu Trump.

    Destacando a consquista norte-americana, Trump ainda afirmou que os maiores danos ocorreram bem abaixo do nível do solo. “Na mosca”, comemorou.

    Fechamento de Ormuz

    No domingo, o Parlamento do Irã votou pelo fechamento do Estreito de Ormuz, em resposta aos ataques dos EUA contra o país. A decisão ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional e pelo líder supremo Ali Khamenei.

    O Estreito de Ormuz é um ponto estratégico no Golfo Pérsico, controlado pelo Irã e fundamental para o comércio da região. Passa por ali cerca de 21% de todo o petróleo do planeta.

    O parlamentar iraniano Seyyed Ali Yazdi Khah afirmou que os adversários devem saber que o país possui muitas opções e que, se necessário, as utilizará. De acordo com o jornal Mehr, Teerã poderá fechar a rota estratégica para proteger seus interesses nacionais.

    De acordo com a PressTV, o parlamentar iraniano Esmaeil Kowsari defendeu o fechamento da principal rota marítima do Golfo Pérsico, que é essencial para a exportação de petróleo da maioria dos países da região.

    Nos últimos anos, países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos aumentaram o transporte por meio de oleodutos. Mesmo assim, desvios pontuais do fluxo convencional do petróleo não seriam suficientes para evitar uma grave desorganização da cadeia.

    Segundo relatório da seguradora holandesa ING, uma interrupção significativa nesses fluxos “seria suficiente para elevar os preços para US$ 120 o barril”. “Se isso persistir até o fim do ano, poderemos ver o [petróleo do tipo] brent atingir novas máximas, acima do recorde de quase US$ 150 em 2018”, diz o documento.

    Nas últimas semanas, antes mesmo dos ataques israelenses a Teerã, um número cada vez maior de embarcações tem evitado o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico. A autoridade marítima do Reino Unido (UKMTO) emitiu uma série de alertas a respeito do “aumento das tensões na região, o que pode levar a uma escalada da atividade militar, com impacto direto sobre os marinheiros”. Segundo o órgão, “os navios são aconselhados a cruzar o Golfo Pérsico, o Golfo de Omã e o Estreito de Ormuz com cautela”.

    Israel volta a atacar

    Israel voltou a lançar ataques aéreos contra o Irã na manhã desta segunda-feira. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) estão atacando alvos no centro de Teerã com “intensidade sem precedentes”. O foco é a sede da Guarda Revolucionária do Irã (IRGC). Segundo a IDF, vários soldados iranianos foram mortos.

    De acordo com Katz, o exército israelense está “atacando alvos do regime e órgãos de repressão do governo, no coração de Teerã”, como, por exemplo, “o quartel-general de Basij, a Prisão de Evin para presos políticos e opositores do regime, o relógio da ‘Destruição de Israel’ na Praça Palestina e o quartel-general de segurança interna da Guarda Revolucionária”.

    “Para qualquer fogo direcionado à frente interna israelense, o ditador iraniano será severamente punido, e os ataques continuarão com força total”, acrescentou o ministro.

    O veículo de notícias iraniano Mizan confirmou o ataque israelense à prisão de Evin e afirmou que parte da estrutura foi danificada, mas que a situação está sob controle. O jornal iraniano Nournews divulgou que os familiares dos detidos em Evin “devem saber que estão seguros”.

    De acordo com a IDF, os ataques atingiram a sede da Basij em Teerã, que, segundo a organização, “serve como uma das bases de poder do IRGC e é responsável, entre outras coisas, por fazer cumprir o código islâmico e denunciar civis que o violam às autoridades”.

    Ásia fecha sem direção. Europa cai

    Os principais índices das bolsas de valores da Ásia fecharam o pregão desta segunda-feira sem direção única, com os investidores repercutindo a entrada dos EUA na guerra.

    Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei terminou o dia em baixa de 0,13%, aos 38,3 mil pontos.

    Em Seul, na Coreia do Sul, o índice Kospi teve perdas de 0,24%, aos 3 mil pontos.

    Em Hong Kong, o Hang Seng fechou em alta de 0,67%, aos 23,6 mil pontos.

    Na China continental, o Xangai Composto registrou ganhos de 0,65%, aos 3,3 mil pontos.

    Entre as principais empresas, o destaque do primeiro pregão da semana ficou por conta de gigantes estatais chinesas de petróleo, como a Cnooc, com alta de 0,9%, e a Sinopec, que subiu 0,25%, ambas beneficiadas pela alta dos preços internacionais do petróleo.

    Na Europa, a escalada do conflito derrubou os principais índices. O índice Stoxx 600, que reúne ações de 600 empresas europeias listadas em bolsas, fechou o dia em queda de 0,28%, aos 535,03 pontos.

    Na Bolsa de Frankfurt, na Alemanha, o índice DAX recuou 0,35%, aos 23,2 mil pontos. Em Londres, o FTSE 100 teve perdas de 0,19%, aos 8,7 mil pontos.

    Na Bolsa de Paris, o índice CAC 40 tombou 0,69%, aos 7,5 mil pontos. O Ibex 35, de Madri, caiu 0,08%, praticamente estável, aos 13,8 mil pontos.