Isso são lá modos de Bolsonaro tratar os mais devotos entre seus devotos, aqueles que abandonaram suas casas, suas famílias, seu trabalho para enfrentar sol e chuva, a depender da região do país, frio intenso, e acampar em portas de quartéis a pedir que a eleição presidencial de 2022 fosse anulada, Lula impedido de tomar posse e a democracia abolida dando lugar a uma nova ditadura?
Convenhamos: chamá-los de malucos, como fez Bolsonaro em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, é uma tremenda ingratidão. Mostra como Bolsonaro arregou, e logo diante do ministro Alexandre de Moraes, a quem no passado, ainda como presidente da República e em comício na Avenida Paulista, chamou de “canalha” e disse que não respeitaria mais suas ordens.
Quem se dizia imbrochável simplesmente brochou – e o pior, em público, a cores e ao vivo pela televisão. Quem sempre fez questão de se apresentar como homem valente, capaz de enfrentar de peito aberto os mais arriscados desafios, recuou e suplicou por perdão. E quis bancar o engraçado ao convidar Moraes para ser seu vice quando ele se candidatar no próximo ano à vaga de Lula.
De longe, em mais uma viagem ao exterior, Lula deve ter achado graça e ficado satisfeito. A política ensina que abençoado é aquele que pode escolher seu adversário. Lula escolheu Bolsonaro em 2022, e se dependesse dele, escolheria de novo Bolsonaro em 2026. Bolsonaro está inelegível até 2030. Será condenado e preso pelo golpe. Sua inelegibilidade se estenderá por muitos anos.
Lula sabe – como o menos esperto dos apontadores do jogo do bicho que atuam na Praça dos Três Poderes, em Brasília, está cansado de saber. Mas Lula aposta na determinação de Bolsonaro de insistir com a farsa de que será candidato. Enquanto a farsa permanecer em cartaz, o caminho da direita dita civilizada, e da ultradireita golpista, será íngreme e repleto de obstáculos.
À falta de imaginação, Bolsonaro está decidido a copiar o modelo Lula 2018. Condenado e preso em Curitiba, Lula disse que seria candidato a presidente por cima de pau e pedra. Liderou com folga todas as pesquisas de intenção de voto até o final de agosto. E a menos de 30 dias do primeiro turno da eleição, anunciou seu apoio a Fernando Haddad. E Haddad disputou o segundo turno.
Lula nunca buscou um sucessor entre seus consanguíneos. Nunca estimulou um dos seus filhos a seguir a carreira política. Dir-se-á que nenhum deles se interessou. Bolsonaro obrigou os filhos a obedecerem às suas ordens. Serão felizes? Flávio, senador, parece gostar do que faz; Carlos, vereador, não; tampouco Eduardo, deputado de férias, e Jair Renan, vereador em Camboriú.
Felicidade não é métrica para Bolsonaro, só o exercício do poder e a ambição por riqueza. Aceita pagamentos em joias, em dinheiro vivo ou via Pix.