Portal Estado do Acre Notícias

Chuvas no RS: área rural faz bolo de 1 ano sem reconstrução de ponte

chuvas-no-rs:-area-rural-faz-bolo-de-1-ano-sem-reconstrucao-de-ponte

Chuvas no RS: área rural faz bolo de 1 ano sem reconstrução de ponte

As comunidades rurais de Sítio dos Melos, Sítio Alto, Santos Anjos, localizadas em Faxinal do Soturno, e de Ivorá, no Rio Grande do Sul, vivem há pouco mais de um ano em situação de isolamento, desde que a ponte no Km 32 da ERS-348 foi levada pelas enchentes de maio de 2024. Agora, o estado gaúcho sofre novamente com as inundações.

A estrutura ligava os dois municípios da zona central do Rio Grande do Sul e era fundamental para o acesso a serviços essenciais. Formadas por pequenos agricultores, as comunidades dependem da estrada para chegar à cidade, escoar a produção e manter atividades básicas de saúde e educação.

Leia também

No começo, a comunidade buscou alternativas, conta Alceu Barchet, morador de Sítio dos Melos. “Colocamos um barco nosso para fazer a travessia, porque dependíamos do acesso para buscar remédios, roupa, comida. Depois, conseguimos montar uma travessia com madeira, eucalipto”, relembra o agricultor, de 67 anos.

Segundo ele, o Exército chegou a instalar uma ponte provisória sobre o Rio Guarda-Mor, que banha a região, mas ela era retirada sempre que havia previsão de chuva. “Ficávamos isolados. E assim fomos levando, sempre com promessas do governo estadual de que a obra de reconstrução da ponte ia começar, mas passou mais de um ano e nada foi feito”, reclama.

Enchente de 2024

Foi então que, no domingo (22/6), os moradores das cinco comunidades decidiram se reunir às margens do rio, onde a nova ponte deveria estar. Eles levaram balões, cartazes e um bolo para marcar o ano de espera pela reconstrução da estrada.

“Surgiu a ideia do bolo [de aniversário] como ‘homenagem’ a um ano de espera e sacrifício. A gente quis também homenagear a união entre as comunidades. Foi uma manifestação pacífica. Nosso objetivo era mostrar às autoridades a nossa dependência dessa travessia. O nosso objetivo é bem claro: alcançar a ponte, não importa de que lado político seja. A obra é urgente”, reivindica Alceu.

3 imagensFechar modal.1 de 3

Arquivo pessoal cedido ao Metrópoles2 de 3

Arquivo pessoal cedido ao Metrópoles3 de 3

Arquivo pessoal cedido ao Metrópoles

O objetivo era pressionar o governo estadual a cumprir o compromisso de iniciar imediatamente a construção da nova ponte, cuja conclusão havia sido prometida, inicialmente, para o fim deste ano.

Prejuízos para as comunidades

O agricultor Alceu conta que os moradores da região rural dependem da ponte no Km 32 da ERS-348 para tudo: “Levar nossos produtos, acessar saúde, educação… Toda a parte social e a economia da comunidade estão sendo afetadas todos os dias.”

Laura Meneghetti, de 8 anos mora em Sítio dos Melos, mas estuda na Escola São Domingo Sávios, em Santos Anjos. A mãe dela, Liza Meneghetti, alega que, para a filha conseguir ir à aula sem a ponte, é preciso atravessar dois rios em uma rota alternativa.

“A gente ainda continua sem a ponte, mas consegue sair da comunidade por rotas alternativas para trabalhar e levar as crianças à escola — só que com muita dificuldade. O acesso está horrível. Precisamos atravessar dois rios, o que torna tudo muito complicado, e as crianças ficaram vários dias sem aula por causa da enchente”, relata Liza.

Veja:

Segundo a professora Jeruza Bulegon, a falta da ponte também impede o socorro feito por ambulâncias na região. “Aconteceu de pessoas terem de ser carregadas de caçamba até uma parte do trajeto em que fosse possível encontrar a ambulância, porque não tem por onde passar”, conta.

Jeruza explica que, quando o desvio está intransitável, o trajeto entre Ivorá e Faxinal do Soturno pode chegar a mais de 50 km. “E, se alguém fica doente muitas vezes, acaba falecendo antes de o socorro chegar. É tudo muito longe e, em alguns trechos, não passam dois carros. Fica muito complicado”, lamenta.

Chuvas 2025 reacendem alerta

Com a chegada de um novo período chuvas intensas no estado, comuns entre os meses de abril e julho, e a volta das consequências dos temporais e alagamentos, as comunidades rurais banhadas pela bacia do Rio Guarda-Mor e que tentam ainda se recuperar das enchentes de 2024, voltam a se sentir vulneráveis.

Alceu conta que a cheia recente prejudicou ainda mais os agricultores da região, já que, desde o ano passado, produtos da lavoura e árvores estão no leito do Rio dos Melos, que irriga a região. A água acabou sendo redirecionada pelos rejeitos.

“Todo o material que saiu das lavouras, das margens que a gente tinha arborizado, foi parar no leito. O que acabou abrindo vários outros caminhos e, agora, a água passa pelo meio das terras. Vamos depender de máquinas pesadas para poder restaurar nossas pequenas lavouras, mas como é que vai entrar, se nem estrada tem?”, questiona.

Apesar disso, o agricultor afirma que outra grande preocupação da comunidade é a chegada do verão, entre dezembro e março. “Como é um rio pequeno e sem leito definido, a chance de faltar água é enorme. Vamos ser muito prejudicados na irrigação. É algo que estamos prevendo.”

O trecho alternativo que liga os municípios de Ivorá e São João do Polêsine a Faxinal do Soturno está intransitável no momento, já que o desvio feito pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) foi levado pelas águas das fortes chuvas que atingiram o estado na última semana.

O que diz o governo estadual

O Metrópoles procurou o governo do Rio Grande do Sul para esclarecer a situação da ponte no Km 32 da ERS-348, levada pela enchente de 2024.

Entre os questionamentos enviados à gestão estadual estão o atual status da reconstrução da ponte na ERS-348, o motivo de ela ainda não ter sido iniciada e quais medidas estão sendo tomadas para garantir o acesso das comunidades até a conclusão da obra.

Em resposta, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) informou que as obras da ponte da ERS-348, no Km 32, em Faxinal do Soturno, estão previstas para começar no segundo semestre de 2025, com conclusão estimada até o fim de 2026.

O investimento para a nova estrutura, que terá 120 metros de extensão, mão dupla, e será 2,5 metros mais alta do que a anterior, é de R$ 11,7 milhões.

O projeto, que segundo o departamento foi entregue à comissão de engenheiros responsável pela análise técnica, é baseado em estudos hidrológicos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “que consideram os efeitos das mudanças climáticas e o risco de eventos extremos, como os registrados em 2024, para que, futuramente, possam resistir a possíveis novos eventos extremos.”

Em relação ao início das obras, o Daer explica que a maioria das soluções foi aprovada, mas que ainda são aguardadas justificativas por parte da empresa contratada quanto à proposta de fundação, com estaca-raiz de 19 metros de profundidade na rocha, “o que não é usual nesse tipo de obra.”

Por fim, o departamento reforça que a recomposição do aterro sobre o arroio Guarda-Mor foi concluída, “o que permite o tráfego de veículos no local até a conclusão da nova ponte.”

Sair da versão mobile