Os mercados de câmbio e ações viveram um dia de festa nesta quinta-feira (26/6) no Brasil. O dólar registrou forte queda de 0,99% frente ao real, cotado a R$ 5,49. Já o Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira (B3), fechou em alta de 1,01%, aos 137.133 pontos.
Houve, na verdade, queda generalizada da moeda americana. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas de países desenvolvidos, chegou a atingir o menor nível em três anos, ao recuar 0,49%, aos 97,200 pontos. Em relação a outros emergentes, a divisa também caiu: às 16h20, ela perdia 0,22% frente ao peso mexicano e 0,31% para o peso colombiano.
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O alívio das tensões no Oriente Médio foi um dos vetores da queda global do dólar, mas não o principal. No cenário externo, teve maior impacto nesta quinta-feira uma notícia publicada pelo Wall Street Journal, afirmando que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estuda antecipar a indicação do próximo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), cujo mandato começa em maio de 2026. Ao tratar do tema, o objetivo do republicano seria desgastar a autoridade de Jerome Powell, atual líder do Fed.
Com o episódio, o mercado voltou a especular a possibilidade de juros menores nos EUA no médio prazo, o que afetou a cotação dos títulos da dívida americana, os Treasuries. A taxa desses papéis com vencimento em dois anos, por exemplo, caiu de 3,793% para 3,738%. Embora a variação pareça pequena, é um importante sinalizador para os investidores. Por fim, a Casa Branca negou que Trump tenha intenção de indicar antecipadamente o presidente do Fed.
Fatores domésticos
Na avaliação do economista, Alexandro Nishimura, diretor da Nomos, fatores domésticos também contribuíram para um alívio no mercado nesta quinta-feira. “O IPCA-15 de junho surpreendeu positivamente, com uma alta abaixo do esperado, desaceleração nos serviços subjacentes e nos núcleos (que excluem os itens mais voláteis), além de queda na difusão”, diz. “Essa leitura reforçou a percepção de uma desaceleração da inflação no curto prazo, ainda que ela permaneça acima da meta por um período prolongado.”
Ele observa que a arrecadação federal superou as expectativas, o que ajudou a reduzir a tensão em torno do cenário fiscal, embora de forma ainda momentânea. “No entanto, os temores fiscais seguiram elevados após o Congresso derrubar o decreto do governo que aumentava o IOF”, afirma. “A decisão também expôs o desgaste da articulação política do Planalto, levantando dúvidas sobre a força do governo nas eleições do próximo ano.”
Juros futuros
Nishimura acrescenta que o real se valorizou, refletindo tanto um IPCA-15 que define como “mais benigno” quanto o “enfraquecimento do dólar no exterior”, em meio a especulações a partir das declarações de Trump sobre a presidência do Fed. “Já os juros futuros recuaram em toda a curva, especialmente nos vértices longos, com o mercado ponderando entre o tom rígido do último comunicado do Copom e a chance de um alívio à frente, caso a inflação continue convergindo para a meta”, diz o especialista.
O analista alerta que, apesar da melhora pontual nos indicadores de inflação e arrecadação, o cenário para os ativos brasileiros continua condicionado ao ambiente político. “A derrubada do IOF foi mais do que um revés fiscal: simbolizou a fragilidade institucional do governo Lula frente ao Congresso, a pouco mais de um ano das eleições”, afirma.
IOF
No contexto doméstico, Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, também destaca a aprovação por parte do Congresso Nacional do projeto de decreto legislativo (PDL), que, na quarta-feira (25/6), revogou o aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciado em maio pelo governo.
“Nos âmbitos político e fiscal, a decisão do Congresso de revogar os aumentos recentes do IOF traz, de um lado e no curto prazo, uma reação positiva ao anular parte da carga tributária sobre operações financeiras”, diz. “Mas sublinha, por outro lado, a questão estrutural que pode continuar pressionando o câmbio daqui para frente, numa situação fiscal ainda delicada e que carece de resolução, seja pelo lado da arrecadação ou do corte de gastos.”
Diferencial de juros
André Valério, economista sênior do Banco Inter, a apreciação do real nesta quinta-feira foi majoritariamente influenciada pelo ambiente externo. “O dólar perdeu força frente a praticamente todas as moedas, refletindo uma percepção negativa em relação às pressões do presidente Trump sobre o banco central, com a ameaça de anunciar o próximo presidente da instituição nas próximas semanas, numa tentativa de influenciar a condução da política monetária”, diz.
Valério nota que o dado do IPCA-15, melhor do que o esperado pelos analistas, aliado a um relatório de política monetária interpretado como mais duro, “contribuiu para a percepção de que o diferencial de juros (a diferença entre as taxas que os investidores ganham no Brasil e em outros mercados) continuará bastante elevado”.
“Além disso, os dados fiscais divulgados foram marginalmente positivos: a arrecadação federal veio acima das expectativas, e o resultado do Tesouro ficou em linha com o projetado”, afirma. “Isso ajudou a mitigar o impacto negativo da derrubada do IOF pelo Congresso.”