O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira (25/6) em alta, em um dia no qual os investidores repercutiram a “queda de braço” entre o governo federal e o Congresso em torno da votação de um projeto que pretende derrubar o decreto de autoria do governo federal que reajusta as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
No cenário internacional, o mercado segue acompanhando os desdobramentos do cessar-fogo anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que interrompeu a guerra entre Israel e o Irã no Oriente Médio.
Ainda nos EUA, o presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano), Jerome Powell, que na véspera compareceu a uma audiência na Câmara dos Representantes, falou nesta quarta ao Senado.
Dólar
- A moeda norte-americana fechou a sessão em alta de 0,63%, cotada a R$ 5,554.
- Na cotação máxima do dia, o dólar bateu R$ 5,573. A mínima foi de R$ 5,511.
- No dia anterior, o dólar fechou em alta de 0,29%, cotado a R$ 5,51.
- Com o resultado, a moeda dos EUA acumula perdas de 3,48% em junho e de 10,69% em 2025 frente ao real.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), operava em forte queda nos instantes finais do pregão.
- Às 17 horas, o indicador recuava 0,99%, aos 135,8 mil pontos.
- Na véspera, o Ibovespa fechou em alta de 0,45%, aos 137,1 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula ganhos de 0,1% no mês e de 14,03% no ano.
Câmara surpreende governo e pauta o IOF
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), pautou para esta quarta-feira a votação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que derruba o decreto de autoria do governo federal que reajusta as alíquotas do IOF. Como ganhou caráter de urgência, a matéria será analisada diretamente em plenário, sem passar por comissões.
O requerimento de urgência foi aprovado no último dia 16, por 346 votos a favor. Foram registrados 97 votos contrários.
A aprovação da urgência da matéria ocorreu em meio ao impasse entre Legislativo e Executivo causado pela elevação das alíquotas do IOF. O mérito ainda não tem data para ser apreciado pela Casa.
Nesta semana, antes da votação da urgência, o presidente da Câmara afirmou a jornalistas que o governo se comprometeu em apresentar propostas de corte de despesas, mas sem sinalização de recuo no decreto do IOF.
O governo havia anunciado a alta no IOF no fim de maio, para arrecadar mais de R$ 20 bilhões e atingir a meta fiscal deste ano. A medida teve forte reação negativa do mercado e do Congresso.
Diante da repercussão, o governo negociou com parlamentares e ficou acordado que o aumento das alíquotas seria reduzido e que seria enviada uma Medida Provisória (MP) com outras alternativas de arrecadação.
O governo, então, propôs um pacote de medidas fiscais para “recalibrar” a elevação das alíquotas do IOF e garantir o déficit zero, além de editar um novo decreto.
Entretanto, Hugo Motta recuou. Tendo antes classificado a reunião com ministros do governo como um encontro “histórico”, passou a criticar o pacote fiscal costurado com o governo e não garantiu a aprovação.
O recuo deu gás à oposição que, inclusive com apoio de deputados da base do governo, encampou a defesa da aprovação de um Projeto de Decreto Legislativo que revogasse as elevações nas alíquotas do IOF.
O chefe do Planalto afirmou que o líder da equipe econômica trabalha com “seriedade” e que o Executivo “faz o possível” para cumprir o arcabouço fiscal.
“Tem uma hora que a gente tem de deixar os nossos interesses individuais de lado e pensar um pouco neste país. Vocês sabem da seriedade com que o Haddad trata a economia. Estamos há quase três anos tentando consertar a economia”, destacou o presidente.
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Powell fala aos senadores nos EUA
No cenário externo, o destaque da agenda econômica foi a sabatina com o presidente do Fed, Jerome Powell, no Senado dos EUA, um dia depois de o chefe da autoridade monetária norte-americana ter sido ouvido em uma comissão da Câmara.
Falando aos senadores, Powell destacou o ambiente de incerteza na economia e a preocupação do Fed em levar a inflação nos EUA à meta de 2% ao ano.
“Em uma situação como essa, em que o processo pode levar tempo e os efeitos podem ser maiores ou menores, é algo que queremos abordar cautelosamente em um mundo no qual a inflação ainda não retornou para 2%. Esse é nosso trabalho”, disse Powell aos congressistas.
“Se cometermos um erro aqui, as pessoas vão pagar os custos por um longo tempo. Estamos apenas abordando a questão de forma cautelosa”, defendeu o presidente do Fed.
Ainda segundo Jerome Powell, a maioria dos integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed entendem que o início do ciclo de redução dos juros deve ocorrer até o fim deste ano.
“Não decidimos o que fazer ainda. Estamos adotando apenas uma abordagem cautelosa ante uma questão muito crítica”, afirmou Powell.
“Faz mais sentido se mover lentamente quando há muita incerteza. Em tempos como os atuais, você não quer dar muitos ‘guidances’ futuros”, completou.
Nos últimos dias, diretores do Federal Reserve indicaram que o BC norte-americano poderia avaliar o início do ciclo de queda dos juros já a partir da próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), marcada para os dias 29 e 30 de julho.
“As mudanças nas políticas continuam a evoluir e seus efeitos sobre a economia permanecem incertos”, concluiu Powell em sua fala aos congressistas.
No Congresso norte-americano, Powell reiterou o teor do comunicado divulgado pelo Fed na semana passada, quando a autoridade monetária anunciou a manutenção dos juros básicos do país no intervalo atual, entre 4,25% e 4,5% ao ano.
O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,4% em maio, na base anual, uma leve alta em relação aos 2,3% registrados em abril.
Na comparação mensal, o índice foi de 0,1%, ante 0,2% em abril.
Nesta quarta-feira, o presidente do Fed voltou a ser atacado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que disse já estar conversando com potenciais sucessores de Powell no comando da autoridade monetária – seu mandato termina em maio de 2026.
O secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, também criticou o presidente do Fed e pediu a redução dos juros, em comentários publicados nas redes sociais.
Alívio com cessar-fogo entre Israel e Irã
Os investidores também continuam monitorando as notícias envolvendo o conflito entre Israel e Irã, que foi interrompido por um cessar-fogo anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Os ataques entre israelenses e iranianos deixaram pelo menos 634 mortos e um número ainda desconhecido de feridos. Do total de pessoas que perderam a vida, 606 foram declaradas pelo governo iraniano como cidadãos do país. Em Israel, o número de mortes é de ao menos 28.
Pelo mundo todo, circularam imagens de iranianos com bandeiras do país reunidos em pontos de concentração para celebrar a suposta vitória sobre Israel. O combate foi descrito como histórico pelo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, em comunicado divulgado pela mídia estatal iraniana.
“Hoje, depois da posição corajosa da sua grande e histórica nação, estamos a testemunhar um cessar-fogo e o fim da guerra de 12 dias que foi imposta à nação iraniana pelo aventureirismo criminoso do regime sionista”, anunciou Pezeshkian.
Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, fez questão de valorizar a atuação do país no conflito. Ele afirmou que Israel atingiu todos os objetivos contra instalações nucleares do Irã, por meio da operação batizada de Leão Ascendente.
“Israel removeu de si uma dupla ameaça existencial, tanto na questão nuclear quanto em relação aos mísseis balísticos. As IDF [forças do exército de Israel] também alcançaram superioridade aérea completa nos céus de Teerã, desferiram um golpe severo na liderança militar e destruíram dezenas dos principais alvos do regime iraniano”, destacou Netanyahu.
Bolsas da Europa fecham em queda. Ásia sobe
Após um dia de fortes ganhos com o anúncio do cessar-fogo no conflito entre Israel e Irã, os principais índices das bolsas de valores da Europa mudaram o sinal e fecharam no vermelho nesta quarta-feira.
O índice Stoxx 600, que reúne ações de 600 empresas europeias listadas em bolsas, fechou em queda de 0,74%, aos 537 pontos.
Na Bolsa de Frankfurt, na Alemanha, o índice DAX recuou 0,61%, aos 23,4 mil pontos. Em Paris, o CAC 40 cedeu 0,76%, aos 7,5 mil pontos.
Na Bolsa de Londres, o FTSE 100 teve perdas de 0,46%, aos 8,7 mil pontos. Em Madri, o Ibex 35 sofreu o maior tombo do dia: 1,59%, aos 13,8 mil pontos.
Na Ásia, por sua vez, as principais bolsas fecharam em alta. Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei subiu 0,39%, aos 38,9 mil pontos. Em Seul, o Kospi fechou em alta de 0,15%, aos 3,1 mil pontos.
Em Taiwan, o índice Taiex avançou 1,09%, aos 22,4 mil pontos. O índice Hang Seng, em Hong Kong, teve ganhos de 1,23%, aos 24,4 mil pontos.
Na China continental, o índice Xangai Composto avançou 1,04%, aos 3,4 mil pontos, o maior patamar em 6 meses, desde dezembro do ano passado. O menos abrangente Shenzhen Composto subiu 1,41%, aos 2 mil pontos.
Banco Central faz leilões
O dia também foi marcado pela operação do Banco Central (BC), que fez dois leilões simultâneos no mercado de câmbio. O leilão à vista ofertou US$ 1 bilhão. Em paralelo a essa operação, também foram ofertados 20 mil contratos de swap cambial reverso, o que também equivale a US$ 1 bilhão.
Swap (“troca”, em tradução livre) é um derivativo financeiro que promove, de forma simultânea, a troca de taxas ou rentabilidade de ativos financeiros entre agentes econômicos. Por meio desse instrumento, o BC busca evitar movimentos disfuncionais do mercado de câmbio.
A operação combinada anunciada pelo BC é conhecida no mercado como “casadão” e já vinha sendo especulada nas últimas semanas. Trata-se de movimento semelhante ao que foi realizado no fim de 2019, no início da gestão do ex-presidente do BC Roberto Campos Neto.