A confirmação da morte da brasileira Juliana Marins, que caiu durante uma trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia, provocou comoção nacional. A jovem sofreu o acidente em 20 de junho, e seu corpo permaneceu preso em um desfiladeiro de difícil acesso por quatro dias, até ser resgatado. Embora a necrópsia tenha indicado que Juliana morreu poucos minutos após a queda, muitos brasileiros acompanharam o caso com a esperança de que ela fosse encontrada com vida.
Durante os dias em que o corpo permaneceu aguardando resgate, brasileiros se uniram em orações, publicações emocionadas e pedidos por agilidade no socorro nas redes sociais. Após o desfecho, a dor deu lugar à indignação — inclusive com críticas direcionadas ao governo da Indonésia no Instagram, por suposta negligência na operação de resgate.
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Para a psicóloga Natália Aguilar, especialista em luto, a repercussão intensa é reflexo de uma identificação coletiva com a história de Juliana.
“Juliana era, sim, uma brasileira, e essas especulações de que demorou muito o resgate, isso reverbera muitas vezes nas nossas próprias dores. O fato de ela ter morrido correndo atrás dos seus sonhos, fazendo algo que ela ama, faz com que muitas pessoas também se identiquem e se solidarizem”, afirma.
Juliana Marins
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Brasileira caiu em um penhasco durante trilha na última sexta-feira (20/6)
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Juliana Marins
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Vulcão Indonésia
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Tragédia ocorreu no vulcão Rinjani, na Indonésia
Reprodução
Segundo ela, o sentimento coletivo é uma espécie de grito nacional por mais cuidado, por mais humanidade. “Acho que o luto coletivo que a gente vivencia hoje pela morte da Juliana Marins é um grito, um grito de cuidado, de mais agilidade, de mais humanidade… que eu acredito muito que seja um grito do povo brasileiro como um todo”, completa.
O papel das redes e o risco das especulações
A força da repercussão também está ligada à velocidade com que informações circulam na internet. “As notícias, elas chegam, elas entram dentro da nossa casa por meio de uma rede social, por meio de um rádio, por meio de uma televisão”, observa Natália.
Ela alerta, no entanto, para os efeitos das especulações — tanto as que culpabilizam Juliana por ter feito a trilha quanto as que responsabilizam diretamente as equipes de resgate. “Essas especulações acabam sendo um problema, porque geralmente vêm de fontes que não têm conhecimento e não ajudam no processo de luto da família.”
Um espelho da nossa própria dor
Para a psicóloga, tragédias como essa funcionam como espelhos da própria finitude e das injustiças enfrentadas no cotidiano. “Essa tragédia acaba reverberando na gente essa dor, esse luto coletivo, muito por questões que a gente vive também aqui no nosso próprio país e que talvez, de alguma forma, sejam negligenciadas também.”
Natália conclui que, embora não seja possível encontrar respostas definitivas para o que aconteceu, a comoção pode servir como gatilho para reflexões importantes: “Que a gente possa usar essa história de exemplo para que a gente reflita sobre todas essas questões que são especuladas, mas que, na realidade, a gente nunca vai ter uma resposta certa do que de fato ocorreu.”