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    “Gênero não é uma essência biológica”, defende ativista não-binária

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    Junho é o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+ e, ao longo desse período, a Pouca Vergonha abordará reportagens para todas as letras da sigla. Uma das pautas pouco conhecidas dessa luta é a vivência não-binária e a constante busca por respeito e reconhecimento de identidades além do binarismo.

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    A não-binariedade é um termo “guarda-chuva” para identidades de gênero que não são estritamente masculinas ou femininas, estando fora da binariedade e da cisnormatividade.

    A não-binariedade é um termo “guarda-chuva” para identidades de gênero que não são estritamente masculinas ou femininas

    A coluna conversou com Alinne Grazielle Costa, psicóloga e especialista em Direitos Humanos e Diversidade, a fim de compreender melhor a sigla e seus desafios diários. Segundo ela, o primeiro passo é entender gênero como algo construído socialmente.

    “Segundo alguns estudiosos, o gênero não é uma essência natural ou biológica, mas sim algo socialmente construído. A não-binariedade, portanto, se refere a identidades de gênero que não se enquadram no sistema binário tradicional de ‘homem’ ou ‘mulher’ construído em nossas sociedades normativas e patriarcais”, explica.

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    A profissional destaca que o sistema binário é uma norma regulatória que força as pessoas a se conformarem a papéis pré-definidos. A não-binariedade, por sua vez, rompe com essas normas, demonstrando que o gênero pode ser vivido de formas diversas, múltiplas e mutáveis.

    Alinne ainda comenta que, segundo a escritora Judith Butler, a vivência de gênero afeta diretamente como o desejo é socialmente construído. “Pessoas não-binárias podem formar relações que rompem com expectativas normativas e podem criar novas formas de afetividade que não dependem dos papéis “masculino/feminino”, ou seja, elas performaram formas distintas e diversas de afetividade.”

    5 imagens Esta data é uma referência à Revolta de Stonewall, que ocorreu em 1969, em Nova YorkA comemoração do mês do orgulho e do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ é uma forma de celebrar a diversidade e reivindicar direitos e igualdade para a comunidadeO mês do orgulho também serve como um período para conscientizar a população sobre a importância de combater o preconceito e garantir uma sociedade mais inclusiva e respeitosaA visibilidade da comunidade LGBTQIAPN+ durante o mês do orgulho ajuda a quebrar o silêncio e o preconceito e a promover a inclusãoFechar modal.1 de 5

    O mês do orgulho LGBTQIAPN+ é comemorado em junho, sendo 28 de junho o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+

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    Esta data é uma referência à Revolta de Stonewall, que ocorreu em 1969, em Nova York

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    A comemoração do mês do orgulho e do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ é uma forma de celebrar a diversidade e reivindicar direitos e igualdade para a comunidade

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    O mês do orgulho também serve como um período para conscientizar a população sobre a importância de combater o preconceito e garantir uma sociedade mais inclusiva e respeitosa

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    A visibilidade da comunidade LGBTQIAPN+ durante o mês do orgulho ajuda a quebrar o silêncio e o preconceito e a promover a inclusão

    Hugo Barreto/Metrópoles
    @hugobarretophoto

    Maiores desafios

    Para a profissional, um dos maiores desafios da não-binariedade é a violência normativa, o que gera uma pressão para se conformar ao binarismo e a patologização de identidades dissidentes.

    “Estamos falando de pessoas, da sua dignidade humana e subjetividade que não são aceitas e, consequentemente, lhe é negado o direito de existir. A invisibilidade social e institucional ocorre pois hoje muitas estruturas (como documentos oficiais, escolas, sistemas de saúde) ainda reconhecem apenas o masculino e o feminino e dificultam a utilização da linguagem não binária ou o próprio reconhecimento da sua identidade”, comenta Alinne.

    Além disso, a psicóloga acrescenta, por fim, ser necessário refletir sobre o preconceito e exclusão, inclusive dentro da própria comunidade LGBTQIAPN+, em que ainda há resistências ao reconhecimento pleno da não-binaridade, dificultando o processo de acolhimento.