Os jornalistas petistas estão preocupados com Lula. Parece que o presidente da República resiste a admitir a realidade sobre si próprio e sobre o mundo no qual vive. Não entende por que a sua aprovação desabou.
Ele ainda acha que o seu gogó populista tem o apelo de vinte anos atrás e não compreende que as redes sociais são muito mais efetivas do que comício para pobre.
Claro que a idade pesa na compreensão das mudanças que ocorrem conosco e à nossa volta, mas pesa bem mais o congelamento da nossa autoimagem no período em que se experimentou o auge. Ou seja, a negação de aceitar as novas condições objetivas com as quais se tem de lidar. É demonstração de certa alienação.
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Longe de mim dizer que Lula está maluco — maluco é o eleitor brasileiro que vai com o primeiro que lhe aparece pela frente —, mas quem se enxerga maior do que sempre foi ou se vê do tamanho que já tem mais lembra o biruta que se acha Napoleão Bonaparte.
O aspecto interessante é que, no final da sua vida, nem Napoleão Bonaparte se achava Napoleão Bonaparte durante todo o tempo.
Um dos primeiros biógrafos do corso, Stendhal conta que, ao visitar Napoleão no exílio em Elba, um admirador se surpreendeu com a tranquilidade com a qual ele suportava a mudança do seu destino. Ao manifestar a sua supresa, o visitante ouviu a explicação:
“É porque todo mundo ficou, acho, mais surpreso do que eu. Não tenho opinião muito boa sobre os homens e sempre desconfiei da sorte; além disso, gostei pouco do poder; meus irmãos foram muito mais reis do que eu. Eles tiveram os prazeres da realeza, eu não tive quase nada além dos deveres”, disse o ex-imperador da França.
Ainda assim, Napoleão Bonaparte insistiu em voltar a reinar e seria exilado outra vez, agora em Santa Helena, por ter cometido erros de governo idênticos aos do seu primeiro reinado — erros que lhe foram mais fatais do que a batalha de Waterloo, segundo Stendhal.
Não importa o grau de consciência sobre nós próprios e sobre o mundo que nos cerca, as nossas reprises são sempre ruins.