A disputa da guarda de Leo entre o pai, Murilo Huff, e a avó, Dona Ruth, mãe de Marília Mendonça, ganhou a atenção do público na última semana. O psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Rafael Almeida conversou com a coluna Fábia Oliveira e compartilhou sua análise especializada sobre as implicações emocionais e psicológicas dessa situação na vida do menino de cinco anos.
“Leo é sujeito de direitos emocionais, não apenas legais”, enfatizou Rafael sobre a importância de priorizar seu bem-estar psicológico.
Leia também
-
Murilo Huff é condenado em ação trabalhista em meio à batalha com Ruth
-
Entenda o caminho de Murilo Huff para ter guarda unilateral do filho
-
Ex-funcionária de Dona Ruth foi estopim para processo de Murilo Huff
-
Estilo de vida de familiares de Marília Mendonça alertou Murilo Huff
Para uma criança de cinco anos que perdeu sua mãe recentemente, o processo de luto é delicado e complexo. O psiquiatra explicou que a perda materna, por si só, gera uma série de reações de sofrimento, mas o conflito de guarda acrescenta uma “segunda onda de trauma emocional”. O cérebro infantil, ainda em formação, processa essas emoções de maneiras profundas, que podem se manifestar como regressões comportamentais, distúrbios do sono, queixas físicas e uma constante sensação de insegurança.
Um aspecto especialmente preocupante é o “conflito de lealdades”: Léo, ao tentar amar seus cuidadores, pode sentir-se em uma posição de traição com um deles, o que causa enorme angústia. Além disso, as mudanças de rotina, que parecem tarefas práticas para adultos, representam perdas de segurança para uma criança em fase de formação, que precisa de estabilidade e previsibilidade.
4 imagens
Fechar modal.
1 de 4
2 de 4
Murilo Huff posa com o filho, Leo
Reprodução/Redes sociais.3 de 4
Leo e dona Ruth
Reprodução/Redes sociais4 de 4
Murilo Huff olha apaixonado para o filho Leo
Reprodução
Importância do acompanhamento especializado
Dr. Almeida reforçou que os sinais mais comuns de que uma criança está sofrendo são mudanças comportamentais, muitas vezes difíceis de verbalizar, como regressões (retorno a comportamentos de fases anteriores, como enurese ou dependência exagerada), alterações no sono e brincadeiras que repetem temas ligados à perda, separação ou morte.
Outros indicadores incluem dores físicas vagas, crises de ansiedade e hipervigilância emocional, que mostram um sistema nervoso tenso e em alerta constante. Essas manifestações exigem atenção precoce de profissionais especializados em saúde mental infantil para evitar agravamentos e promover um ambiente de segurança emocional para Leo.
O papel dos cuidadores na proteção emocional
Para o psiquiatra, a presença de figuras constantes e estáveis, como o pai e a avó materna, é fundamental. “Eles funcionam como âncoras emocionais contribuindo para regular o sistema nervoso de Leo, reduzindo seus níveis de estresse e promovendo vínculos que favorecem o sentimento de segurança e pertencimento”, disse ele.
Além disso, a construção de uma narrativa amorosa sobre a mãe, por meio de lembranças e histórias compartilhadas de forma respeitosa e não conflituosa, ajuda a integrar a perda à identidade da criança de modo saudável. A “coparentalidade respeitosa”, mesmo em meio a discordâncias, também é essencial para que Léo perceba que pode confiar nos adultos ao seu redor.
Resiliência e estabilidade emocional
Dr. Almeida destacou que a estabilidade emocional de uma criança não requer perfeição por parte dos cuidadores, mas sim consistência, responsividade e a disposição para reparar eventuais falhas. Essas qualidades favorecem o desenvolvimento da resiliência, uma ferramenta importante para que Leo possa enfrentar as adversidades do
momento.
“A terapia infantil oferece um espaço protegido onde ele pode processar experiências emocionalmente sobrecarregantes através de linguagens acessíveis à infância – brincadeira, arte, narrativas – sem o peso de proteger os sentimentos dos adultos que ama. O momento ideal para iniciar este acompanhamento é agora. A neurociência do trauma demonstra que intervenções precoces podem prevenir a consolidação de padrões neurais problemáticos, aproveitando a extraordinária neuroplasticidade infantil. Esperar pelo surgimento de sintomas evidentes significa perder a janela de oportunidade preventiva”, disse ele.
E completou: “A terapia proporciona a Leo ferramentas de autorregulação emocional essenciais para navegar as transições entre ambientes familiares e processar as emoções complexas do luto. Simultaneamente, oferece aos cuidadores orientações específicas sobre como responder às necessidades emocionais únicas de Leo. Um terapeuta infantil especializado em luto e trauma funciona como ‘tradutor emocional’ – ajudando Leo a nomear sentimentos confusos e validando a legitimidade de suas experiências emocionais contraditórias, como sentir simultaneamente raiva e saudade da mãe ausente”, afirmou.
O especialista em saúde mental ainda destacou: “Investir nesta assistência é assegurar que Leo construa uma base emocional sólida, que será seu sustento para toda a vida. Quanto mais cedo ele tiver acesso a esse espaço de acolhimento e compreensão, maior será sua capacidade de resiliência”.
Conversas difíceis
O especialista ainda deu dicas de como ter conversas honestas com a criança.
“Informações honestas, porém adequadas à sua capacidade cognitiva e emocional. Utilize linguagem concreta e evite metáforas abstratas que podem confundir crianças pequenas (‘mamãe virou estrela’ pode gerar ansiedade sobre outras pessoas “virando” algo). Crie um ambiente seguro para estas conversas – momentos calmos, sem pressa, onde Léo possa processar informações no seu ritmo”, listou.
E acrescentou: “Observe sua linguagem corporal e respeite quando demonstrar que precisa de pausa – crianças processam informações emocionais em doses que conseguem tolerar. Valide ativamente seus sentimentos sem tentar consertar ou minimizar: Faz sentido você estar triste/bravo/confuso. São sentimentos importantes. Esta validação ensina que todas as emoções são aceitáveis, mesmo quando comportamentos precisam ser guiados. Evite transformá-lo em confidente ou mensageiro entre partes em conflito”, falou ele.
Dr. Almeida reforçou: “A sinceridade na comunicação, aliada à sensibilidade, não torna as crianças mais vulneráveis, mas sim mais preparadas para entenderem o mundo e suas emoções. É uma oportunidade de fortalecer vínculos, ao invés de fragilizar relação”.
Luto materno
Ainda na conversa com a coluna, o psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Rafael Almeida fez algumas recomendações específicas para quem enfrenta o luta materno sob o holofote público, como foi o caso de Leo.
“Para crianças como Leo, que enfrentam luto materno sob o holofote público, recomendações específicas incluem a criação de zonas de privacidade (espaços físicos e emocionais protegidos do olhar externo onde possa processar sentimentos sem performar o filho da celebridade). Estes locais permitem a expressão autêntica sem o peso da narrativa pública sobre sua história. Estabeleça limites claros sobre exposição na mídia – controle ativamente o acesso de Leo a notícias, comentários online e conteúdo sobre sua mãe. Crianças em luto frequentemente desenvolvem comportamentos de busca compulsiva por informações que podem retraumatizar quando não processadas por adultos sensíveis”, falou.
E deu outras dicas: “Diferencie cuidadosamente a mãe pública da mãe privada por meio de conversas que humanizem Marília além da pessoa pública. Frases como: ‘Muitas pessoas amavam a música da mamãe, mas você conhecia seu abraço especial’ ajudam Léo a preservar memórias íntimas que pertencem apenas a ele. Prepare-o gradualmente para encontros com o legado público materno – antecipando situações como ouvir músicas da mãe em lugares públicos ou receber comentários de estranhos. Role-plays gentis sobre estas situações funcionam como ‘vacinas emocionais’”.
Ele continuou: “Considere terapia familiar além da individual, incluindo todos os núcleos de cuidado, para construir narrativas compartilhadas que honrem a complexidade da situação sem polarizações. Finalmente, busque orientação especializada sobre como documentar memórias e criar ‘cápsulas do tempo’ que permitam a Léo acessar diferentes aspectos do legado materno em momentos futuros, quando novas capacidades cognitivas e emocionais emergirem”, explicou.
Dr. Rafael afirmou: “Respeitar o espaço da criança e sua individualidade é fundamental para que ela possa honrar sua história à sua maneira. O cuidado deve ser sempre sensível às demandas do seu desenvolvimento emocional e cognitivo, mantendo a privacidade e o direito de sentir suas emoções de forma autêntica”.
O especialista reforçou, ainda, a necessidade de priorizarmos o bem-estar psicológico de Leo nesta fase delicada de sua vida.” Cada gesto de cuidado, compreensão e estabilidade contribui para que essa criança possa explorar o mundo ao seu redor com segurança, confiança e saúde emocional, mesmo diante de uma situação tão complexa”, encerrou.