Muito antes de se tornar um dos maiores nomes da música brasileira, Ney Matogrosso viveu um episódio marcante — e violento — na Universidade de Brasília (UnB). A história não tem destaque em Homem com H, cinebiografia recém-disponibilizada na Netflix, mas foi contada na biografia de Ney lançada em 2021 pela Companhia das Letras.
Naquele tempo, Ney integrava um grupo vocal da capital. “O Madrigal Renascentista, oficialmente Madrigal da Rádio Educadora de Brasília, liderado pelos irmãos Geraldo e Alexandre Torres, levava Ney a fazer recitais mais íntimos, como uma apresentação realizada a um casal de alemães no apartamento de Tonho.”
Leia também
-
O romance proibido vivido por Ney Matogrosso no quartel militar
-
Ney Matogrosso manda recado para aluno após performance de Homem com H
-
Pai de Ney Matogrosso batizou um filho de Gay em homenagem a militar
-
A história poderosa de Ney Matogrosso chega à Netflix. Saiba a data
Sua voz chamou a atenção de Paulo Machado, estudante de arquitetura e agitador cultural da UnB. Inspirado pelos festivais musicais do Rio e de São Paulo, Paulo decidiu montar um show coletivo para receber uma turma de estudantes vindos de Minas Gerais.
“Inspirado pelos festivais televisivos do Rio e de São Paulo, ele decidiu organizar um show coletivo no campus, com talentos locais e sem caráter competitivo, para receber uma turma de alunos que chegava de Minas. Paulo já tinha os músicos e a canção, ‘Só tinha de ser com você’, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira. Faltava a voz.”
8 imagens
Fechar modal.
1 de 8
Ney Matogrosso durante o serviço militar
Reprodução2 de 8
Marco de Maria, médico que foi casado com Ney e morreu em decorrência do HIV
Reprodução/Instagram3 de 8
Jesuíta Barbosa e Ney Matogrosso
@homemcomh/Instagram/Reprodução4 de 8
Ney Matogrosso com Esmir Filho no set
@esmirfilho/Instagram/Reprodução5 de 8
Jesuíta Barbosa como Ney Matogrosso em Homem com H
Reprodução6 de 8
Jesuíta Barbosa como Ney Matogrosso em Homem com H
Reprodução7 de 8
Jesuíta Barbosa caracterizado com figurino usado para a performance de Bandido Corazón
@esmirfilho/Instagram/Reprodução8 de 8
Jesuíta sendo preparado para entrar em cena
@esmirfilho/Instagram/Reprodução
A escolha foi por Ney. Ele aceitou, mesmo sendo a primeira vez que cantaria uma canção popular diante de uma plateia. “Era a primeira vez que Ney cantaria em público uma música popular. Minutos depois de começar o show, bastante centrado nas dificuldades da melodia de Jobim, ele já havia passado da primeira parte quando ouviu um grito na plateia. ‘Bicha!’”
O ataque homofóbico ecoou pelo ginásio. Ney reagiu de forma imediata.
“O som ecoou pelo ginásio e o rapaz que gritara acabou sendo localizado. Ney o encarou, fez um gesto para a banda segurar o volume e o fulminou: ‘O que foi que você disse?’. Sem resposta, ele ainda insistiu: ‘Repete o que você falou’. Diante do silêncio, retomou a canção, seguiu seguro até o fim e recebeu muitos aplausos.”
O episódio deixou uma marca que atravessa sua trajetória. “Não foram os trejeitos, as danças nem os figurinos a razão da primeira rejeição homofóbica que Ney sentiu num palco. O alvo era a sua voz.”
Naquela noite, Ney Matogrosso não recuou. Transformou um ataque num ato de firmeza. E deu ao Brasil uma primeira amostra do artista corajoso que viria a romper barreiras, desafiar padrões e se tornar símbolo de resistência.