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    O que está por trás do selo “imbrochável” de Bolsonaro para Kassab

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    Além dos acenos feitos por Jair Bolsonaro (PL) a Gilberto Kassab (PSD) durante seu discurso em uma feira agropecuária na cidade de Presidente Prudente, no interior paulista, nessa terça-feira (17/6), chamou a atenção de aliados a entrega do selo “imbrochável, incomível e imorrível” feita pelo ex-presidente ao secretário estadual de Governo e presidente nacional do PSD.

    Nos bastidores, o gesto foi lido por interlocutores dos dois políticos como um sinal de que Bolsonaro não quer mais se indispor com o establishment político, além de sinalizar uma união em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem Kassab é um importante aliado no estado.

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    O “agrado” de Bolsonaro ao ex-desafeto político se dá no momento em que ex-presidente está no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de tentativa de golpe de Estado, e vê crescer as chances de ser preso ainda neste ano. “É um aceno único, porque Bolsonaro só dá aquela medalha a quem ele quer distinguir”, afirmou um aliado.

    A cena em que o ex-presidente entrega a medalha a Kassab foi postada das redes sociais pelo próprio presidente do PSD (veja abaixo).

     

     

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    Uma publicação compartilhada por Gilberto Kassab (@gilbertokassab_)

    “Bolsonaro está reconectando pontes que haviam sido destruídas. O que vi [no evento] foi um ‘ser político’ que já está conformado com o futuro que o espera. Ao meu ver, os afagos ao Kassab estão incluídos na mesma categoria do depoimento dele ao STF”, afirmou ao Metrópoles outro aliado de Kassab, comparando a situação com o estilo “paz e amor” adotado pelo ex-presidente ao ser interrogado pelo ministro Alexandre de Moraes no julgamento do inquérito da trama golpista.

    Além da entrega do selo dos “3Is”, com o qual Bolsonaro costuma presentar amigos e aliados, o ex-presidente fez diversos acenos a Kassab durante discurso feito na abertura de uma feira agropecuária em Prudente, em que ambos estiveram ao lado do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, de quem o presidente do PSD é secretário de Governo.

    Aliados chamam a atenção ao fato de que Kassab foi o primeiro a ser cumprimentado por Bolsonaro em sua fala, mencionado como o “presidente do maior partido do país, depois do PL”.

    Logo depois, o ex-presidente se dirigiu ao líder do PSD para projetar um cenário favorável ao bolsonarismo nas eleições de 2026. “Eu tenho dito, Kassab: Me deem 50% da Câmara, 50% que eu mudo o Brasil. O outro 50% fica com o PSD, fica com o PL, fica com os partidos aí”, afirmou.

    Na avaliação de um membro do PSD, Bolsonaro percebeu que “não tem sentido ter problema com o maior partido de centro do Brasil hoje”.

    “Homem forte de Tarcísio”

    • Este mesmo interlocutor afirma também ser “natural” que Bolsonaro se aproxime de Kassab, já que é atualmente um “homem forte de Tarcísio”. “Natural não seria ele ter qualquer desavença, como tinha antes. Kassab é o homem forte do governo junto com o Tarcísio e tem que se relacionar”, disse.
    • De acordo com o entorno de ambos, a aproximação começou após um almoço no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, em fevereiro deste ano, em que Bolsonaro e Kassab conversaram e apararam as arestas. Logo depois, Kassab liberou a bancada do PSD para apoiar o projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de janeiro de 2023, o que agradou Bolsonaro.
    • Aliados de Kassab ainda enxergam nos afagos uma tentativa do presidente do PSD em se cacifar como possível sucessor de Tarcísio no governo de São Paulo, caso o mandatário paulista tenha a benção de Bolsonaro para ser seu candidato ao Palácio do Planalto.
    • Interlocutores também aventam que Kassab esteja especulando uma vaga de vice para o PSD em uma eventual chapa nacional liderada pelo governador paulista.
    • Filiado ao Republicanos, Tarcísio é o protagonsita da propaganda partidária do PSD veiculada em São Paulo no estado ao longo desta semana. O governador aparece em cinco dos sete vídeos do partido que está na gestão do bolsonarista e tem três ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
    • Enquanto Tarcísio domina as propagandas, as lideranças do próprio partido foram excluídas: nem Kassab, que é secretário estadual de Governo, nem o vice-governador, Felício Ramuth (PSD), aparecem nas inserções.