O conceito de ecossistemas de negócio tem ganhado força justamente por oferecer caminhos viáveis, estratégicos e flexíveis em tempos de alta complexidade. Esse foi o ponto central da Masterclass que conduzi no South Summit Brazil 2025, evento que reuniu lideranças em inovação, tecnologia e empreendedorismo.
Leia também
-
Saiba quais são as marcas que melhor representam o Brasil
-
Marketing editorial: como os livros podem impulsionar as marcas
-
O impacto das boas histórias no sucesso ou estagnação das marcas
-
Marcas que encantam oferecem atendimentos memoráveis
Nosso contexto é desafiador: macrocenário altamente instável – com tensões geopolíticas, juros altos, inflação persistente, cadeias de suprimento pressionadas e um mercado global vulnerável à menor faísca. Só em março, as tarifas de Trump derrubaram US$ 2,5 trilhões de valor da Bolsa dos EUA em um dia.
A empresa norte-americana S&P Global, referência mundial em inteligência financeira, análises econômicas e avaliação, aponta que os riscos geopolíticos têm impacto direto na economia, nos investimentos e na confiança das empresas. E se o cenário macro já é complexo, o contexto cultural não fica atrás.
No SXSW 2025, o futurista Rohit Bhargava cunhou o termo “A Grande Fratura” para descrever nosso tempo. Segundo ele, enfrentamos simultaneamente:
- Vício digital: estamos hiperconectados, mas com menos capacidade de desconectar.
- Negatividade algorítmica: conteúdos polarizadores dominam os feeds, contaminando a percepção de realidade.
- Solidão crescente: mais conectados virtualmente, mas mais isolados na vida real.
- Broligarquia: influenciadores assumem um poder desproporcional sem cargos formais.
- Antinatalismo: cresce o questionamento existencial sobre ter filhos diante das incertezas futuras.
No marketing, vivemos uma revolução silenciosa, mas profunda. De acordo com a Gartner, 84% dos CMOs relatam disfunção estratégica e apenas 15% têm planos de longo prazo. A Forbes lista os cinco maiores desafios enfrentados por quem lidera a área:
- Orçamentos em queda com metas crescentes.
- Complexidade na escolha dos canais certos.
- Pressão por inteligência na gestão de dados.
- Exigência por assumir um papel estratégico no crescimento do negócio.
- Expansão para novos mercados com menos margem de erro.
- Estamos diante de um ambiente de altíssima complexidade para a gestão de marcas.
Há anos, acredito no potencial dos ecossistemas de negócio – principalmente em tempos difíceis.
Segundo a McKinsey, ecossistemas são a resposta para cenários instáveis, e a EY (Ernst & Young), multinacional de auditoria e consultoria, define ecossistemas como arranjos entre múltiplas entidades para gerar e compartilhar valor com um público comum.
A força dos super apps e plataformas digitais mostra como a tecnologia viabiliza a formação desses arranjos. O modelo conecta serviços financeiros e não financeiros, gera inovação, eficiência de capital e novas fontes de receita — tudo isso com mais valor para o cliente final.
No marketing, os ecossistemas também vêm ganhando forma.
Enquanto os grupos tradicionais operam com estruturas fixas e verticais — várias agências sob uma mesma holding —, os ecossistemas operam em rede: descentralizados, colaborativos e flexíveis.
São formados por agências independentes, especialistas, studios e talentos diversos, conectados por valores, tecnologia ou propósito, e, não menos importante, pelo tempo necessário.
Uma maneira alternativa de operar que permite:
Agilidade: as marcas conseguem se conectar com os parceiros certos para cada desafio, com mais rapidez e eficiência.
Eficiência: recursos são otimizados com menos desperdício e mais foco no resultado.
Diversidade: a combinação de repertórios diversos gera entregas mais criativas, relevantes e contextualizadas.
Curadoria sob demanda: cada projeto pode contar com uma equipe sob medida, escolhida por talento e afinidade.
Em tempos desafiadores, o marketing não pode responder com ajustes marginais. Como bem resumiu Ewan McIntyre, da Gartner: “O marketing enfrenta expectativas extraordinárias para 2025+, e os CMOs não podem arriscar mudanças incrementais quando a empresa espera resultados transformadores”.
Estamos na era do Open Source Marketing — um modelo aberto, ágil e conectado com o espírito do tempo. As marcas que souberem operar em ecossistemas terão, não só vantagem competitiva, mas capacidade real de transformação.
Daniel Prianti é fundador e Co-CEO da BPool.