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    Porque fui monitorado pela ABIN nos tristes anos de Bolsonaro

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    O que escrevi neste blog em 23 de julho de 2020 para que naquele dia, sob a batuta do governo Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) me monitorasse durante três horas? Ou foi pelo que escrevi no dia anterior? Ou pelo que vinha escrevendo desde que Bolsonaro se elegeu presidente no final de 2018?

    Segundo a Polícia Federal, as buscas de informações a meu respeito tiveram início por volta das 12 horas. Naquele dia, eu havia escrito dois artigos: o primeiro sob o título “Nada mal que os militares se rendam em definitivo à democracia”; o segundo, “Reforma Tributária: por uma consulta ampla, geral e irrestrita”.

    No primeiro, depois de lembrar que Bolsonaro dobrara o número de militares em cargos antes destinados a civis, disse que nem por isso eles estavam livres de aborrecimentos. O general Braga Netto, chefe da Casa Civil, tentara empregar uma filha na Agência Nacional de Saúde Suplementar com um salário de 13 mil reais.

    Como a notícia vazou, desistiu. Configuraria um caso de nepotismo. O general Hamilton Mourão, vice-presidente, teve mais sorte. Seu filho, funcionário do Banco do Brasil, foi promovido logo no início do governo. Passou a ganhar três vezes mais. Se não fosse seu filho teria sido promovido?

    O general Eduardo Villas Boas, o maior cabo eleitoral de Bolsonaro entre seus pares, saira do comando do Exército direto para um cargo de assessor do Gabinete de Segurança Institucional. E a filha de Villas Boas fora assessorar Damares Alves, pastora evangélica e ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

    Não creio que o segundo artigo atraiu a atenção da ABIN. Tratava de um pedido feito a empresários do setor de serviços pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, para que defendessem junto ao Congresso a aprovação de um novo imposto sobre transações. Os empresários se disseram radicalmente contrários à ideia.

    É fato que no dia 22 abordei de passagem em um nervo exposto de Bolsonaro: sua preocupação com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das fake news e com o inquérito sobre o mesmo assunto conduzido no Supremo Tribunal Federal pelo ministro Alexandre de Moraes. Isso tirava Bolsonaro do sério.

    Escrevi: “É mais que certo que a CPMI e o inquérito apontarão os três filhos Zero de Bolsonaro, e assessores do presidente, como envolvidos diretamente com a produção e disseminação de notícias falsas que já atingiram a honra de ministros do Supremo e de adversários do governo.”

    (A propósito: na semana passada, relatório da Polícia Federal sobre a atuação clandestina da ABIN apontou Bolsonaro, e seu filho Carlos Bolsonaro, como integrantes do núcleo estratégico da organização criminosa instalada no órgão durante o governo do ex- capitão de triste memória e que em breve será preso.)

    Título do artigo aqui postado no dia 24 de julho de 2020: “Como o governo contribui para a matança da Covid-19”. E no dia 25: “Bolsonaro à beira de um ataque de nervos”. E no dia 26: “Bolsonaro sai em defesa de bolsonaristas bloqueados”.  E no dia 27: “Ação de Bolsonaro foi só para afagar seus seguidores”.

     

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