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    Prefeitura estuda criar praça e gradear área onde ficava a Cracolândia

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    Após o “sumiço” de frequentadores do fluxo, a Prefeitura de São Paulo irá construir uma praça na área do centro de São Paulo onde até três semanas atrás estava localizada a Cracolândia. A reportagem apurou que as obras devem começar na próxima semana, quando vence o prazo de desocupação do terreno do Teatro de Contêiner Mungunzá.

    O estudo preliminar da Prefeitura, ao qual o Metrópoles teve acesso, mostra que a praça ocupará todo o terreno triangular na esquina da Rua dos Protestantes com a General Couto Magalhães (veja abaixo).

    6 imagensMuro forma cerco triangular na região da CracolândiaÁrea já é fechada por grades Cracolândia amanheceu vazia no dia 12 de maioRegião da Cracolândia vaziaRegião da Cracolândia vaziaFechar modal.1 de 6

    Estudo preliminar da praça prevê que o local será gradeado e terá apenas dois acessos pelas ruas dos Protestantes e Gal. Couto de Magalhães

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    Muro forma cerco triangular na região da Cracolândia

    Reproduçãp/TV Globo 3 de 6

    Área já é fechada por grades

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    Cracolândia amanheceu vazia no dia 12 de maio

    Divulgação/Craco Resiste5 de 6

    Região da Cracolândia vazia

    William Cardoso/Metrópoles6 de 6

    Região da Cracolândia vazia

    William Cardoso/Metrópoles

    O espaço terá apenas duas entradas, uma em cada rua, e será delimitado pelo muro já existente na General Couto Magalhães e por uma grade de 3,70 metros planejada para a Rua dos Protestantes.

    A construção de um equipamento público com acesso restrito repete a estratégia usada há três anos, quando a Praça Princesa Isabel, no centro, onde antes ficava o fluxo da Cracolândia, foi transformada em um parque pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) e gradeada. Na época, as intervenções da Prefeitura viraram alvo de um inquérito do Ministério Público de São Paulo (MPSP), devido a denúncias de dispersão forçada e limitação de acesso a um espaço público.

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    Depois que a Praça Princesa Isabel foi gradeada, os frequentadores do fluxo migraram para a Rua dos Protestantes e passaram a se concentrar no terreno triangular que pertence à Prefeitura de São Paulo. O local passou a ser limitado por gradis controlados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) e, em junho de 2024, a gestão Nunes ergueu um muro na Rua General Couto Magalhães.

    Em janeiro deste ano, esse muro virou alvo de questionamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob acusações de que a construção fosse uma estratégia de isolamento dos usuários de drogas.

    À época, a defensora pública Fernanda Balera afirmou ao Metrópoles que a gestão municipal vinha pressionando os usuários à internação e que a construção de uma barreira física na área era uma forma de reforçar essa política. Para a Prefeitura, contudo, o muro era uma forma de proteção dos usuários.

    Cinco meses depois da polêmica envolvendo o STF, em 12 de maio, o terreno da Rua dos Protestantes amanheceu vazio. Os frequentadores do fluxo da Cracolândia haviam sumido sem que a Prefeitura divulgasse uma explicação para isso.

    Uma ONG que atua na região denunciou casos de violência da GCM envolvendo a dispersão de usuários, que passaram a ser avistados em outras regiões da cidade.

    Relembre o “sumiço” da Cracolândia

    • No dia 12 de maio de 2025 o fluxo de dependentes químicos que costuma ficar na rua dos Protestante desapareceu.
    • Antes do “sumiço”, o lugar, que costumava ser ocupado por centenas de pessoas nas ruas, vinha passando por uma desocupação progressiva.
    • Segundo a ONG Craco Resiste, que atua na região, os usuários desapareceram de fato após uma ação da GCM, que teria empregado violência para fazer esse deslocamento.
    • A Prefeitura, contudo, negou as acusações e afirmou que não tinha conhecimento sobre o que tinha acontecido com aquelas pessoas.
    • Depois do “sumiço”, a apuração do Metrópoles identificou que o fluxo, que costumava lotar diferentes vias da Santa Ifigênia, se espalhou pela cidade — como já aconteceu em outros momentos nos mais de 30 anos de existência da Cracolândia.

    Veja a região vazia:

     

    Teatro de Contêiner Mungunzá

    O projeto da praça não contempla a área onde hoje fica o Teatro de Contêiner Mungunzá, localizado no mesmo quarteirão da antiga Cracolândia.

    No local, deverão ser construídas torres residenciais de um programa de habitação social da Companhia de Desenvolvimento Habitação e Urbano de São Paulo (CDHU) – autarquia do governo do estado de São Paulo.

    A ideia é que a praça seja uma opção de lazer para os moradores do condomínio da CDHU e os dois projetos devem ser apresentados em conjunto. O quarteirão da Rua dos Gusmões, que fica em frente ao Teatro e onde está localizada uma pequena comunidade, também deverá ser desocupado para a construção das torres.

    Na semana passada (28/5), artistas que utilizam o espaço relataram terem sido surpreendidos com uma notificação extrajudicial de despejo da Prefeitura, estabelecendo um prazo de 15 dias para a desocupação.

    A Companhia de Teatro Mungunzá critica a falta de comunicação da Prefeitura e argumenta que o terreno estava em completo desuso quando foi ocupado em 2016.

    A Prefeitura de São Paulo afirma que vem promovendo, desde o ano passado, reuniões com representantes do Teatro de Contêiner Mungunzá. Uma reunião realizada na última terça-feira (3/6) , segundo a gestão, foi o quarto encontro deste ano para tratar de alternativas de um local para instalação do equipamento cultural.

    Novo centro administrativo

    Artistas do Teatro ouvidos pelo Metrópoles associam as desapropriações à mudança no novo centro administrativo do Governo do Estado de São Paulo, que deve ter seu edital publicado até o fim deste mês. O projeto, que irá transferir toda a gestão estadual para a região do Campos Elíseos, teve sua modelagem final aprovada na semana passada (29/5).

    Além do “desaparecimento” da Cracolândia, o centro de São Paulo passou por uma outra mudança recente com o reassentamento das famílias da Favela do Moinho, onde será construído um parque. A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), contudo, nega correlação entre os três movimentos.