MAIS

    Se emparedado, Lula dará meia volta e irá pela esquerda

    Por

    A direita, bolsonarista ou a dita civilizada, e boa parte da mídia que a apoia com crescente desenvoltura e sem nenhum disfarce, parecem não se dar conta de que sua oposição ferrenha ao governo pode empurrar cada vez mais para a esquerda o PT e Lula.

    Se essa é a melhor forma que encontraram para derrotá-los nas eleições do próximo ano, saberemos mais adiante ou quando os votos forem contados. Mas, ao contrário do que imaginam, talvez estejam prestando um involuntário favor ao PT e ao seu líder.

    Lula, até aqui, tem-se comportado como um político moderado, de espírito conciliador. Não só por cautela e conveniência, dado que governa em minoria, mas porque sempre foi assim desde que chegou pela primeira vez à presidência da República em 2002.

    Mal tomou posse, ele reuniu seus ministros e deixou-os atônitos com o comentário que fez:

    “Toda vez na minha vida que fui para a esquerda, me dei mal”.

    E repetiu o breve aviso que dera na manhã seguinte à sua eleição à equipe que cuidou de sua campanha:

    “Lembrem-se: aqui só foram votados eu e José de Alencar [o vice-presidente]”.

    A história ensina que não é inteligente acuar o adversário a ponto de deixá-lo em saída. Ninguém quer morrer. E, no desespero, reage à ameaça da morte por todos os meios ao seu alcance. Se emparedado pela direita, só restará a Lula ir para o tudo ou nada.

    Tudo será expurgar do seu governo os aliados de ocasião cujos partidos atuam em seu desfavor e reconciliar-se com a esquerda do PT, hoje mantida à distância dele. Cair lutando pelos pobres fará menos mal à sua biografia do que simplesmente cair humilhado.

    À vista, a retomada do discurso do “nós contra eles”. No passado funcionou. Bolsonaro, o copista, usou-o invertido para governar: [são] “eles contra nós”. Bolsonaro diz ter sido derrotado pelo “sistema”. Com mais razão, Lula também poderá dizer um dia.

     

    Todas as colunas do Blog do Noblat