Quando estão grávidas, as serpentes do Instituto Butantan recebem cuidados especiais com direito a pré-natal e até licença maternidade. O laboratório de herpetologia — ramo da biologia que estuda os anfíbios e os répteis — acompanha de perto toda a gestação das cobras.
Reconhecido como um polo de recepção de serpentes, o instituto realiza rotinas de extração de veneno para a produção de soro antiofídico. Porém, assim que a gravidez de uma cobra é confirmada, elas passam a receber um tratamento especial.
4 imagens
Fechar modal.
1 de 4
Renato Rordigues/ Comunicação Butantan2 de 4
Renato Rordigues/ Comunicação Butantan3 de 4
Renato Rordigues/ Comunicação Butantan4 de 4
Renato Rordigues/ Comunicação Butantan
Todas as fêmeas admitidas ao laboratório são submetidas a um exame de ultrassom, para que os pesquisadores possam verificar a presença de um botão embrionário ou bolsa gestacional. Mesmo que nada disso apareça no exame, as serpentes que estiverem com os folículos bonitos e bem desenvolvidos são colocadas em avaliação.
Os folículos de uma serpente são como “ovos em desenvolvimento” no ovário da fêmea. É lá onde também está o óvulo, que, se fertilizado, se desenvolverá em um embrião e, eventualmente, em um filhote.
Em 2024, a equipe da Herpetologia confirmou a gravidez de cinco fêmeas que chegaram ao laboratório provenientes da natureza: uma jararaca-pintada (Bothrops neuwiedi), com dez embriões; duas cascavéis (Crotalus durissus), cada uma com seis filhotes; e duas urutu-da-serra (Bothrops fonsecai), uma com dez e outra com 11 embriões.
Licença maternidade e pré-natal das serpentes
Assim que a gravidez é atestada, as serpentes entram imediatamente em regime de licença-maternidade, ou seja, deixam de participar do processo de extração de veneno e são manipuladas o mínimo possível. As cobras com suspeita de gestação também entram no regime.
Além disso, os protocolos de alimentação dos animais também é alterado durante a gravidez. As serpentes grávidas do Butantan continuam sendo alimentadas mensalmente, diferentemente do que acontece na natureza, onde “mamães” tendem a enfrentar longos períodos sem comida para não se expor a nenhum risco de predação.
O pré-natal das serpentes inclui coletas de sangue e ultrassons periódicos para acompanhar o desenvolvimento dos filhotes. Cerca de 7 ultrassonografias são realizadas durante o período de gestação, aproximadamente uma por mês.
No Laboratório de Herpetologia, são necessários quatro especialistas para realizarem os exames de imagem nas cobras grávidas: um tecnologista encarregado de realizar a contenção dos animais; a pesquisadora Kathleen Fernandes Grego, responsável pelas medições e avaliações; a médica veterinária Luciana Carla Rameh; e o aluno de iniciação científica Bruno Araújo Sampaio, incumbido do preenchimento das fichas com o histórico dos animais. A luz do ambiente deve ser baixa. Para facilitar que o aparelho deslize pelas escamas da fêmea, é preciso mergulhar o corpo da serpente em água morna.
Leia também
-
Inóspita e com 3 mil serpentes: como é trabalhar na Ilha das Cobras
-
“Mais segura do que em SP”, diz pesquisadora sobre a Ilha das Cobras
-
Homem solta cobras em prédio após briga por latidos de cachorro. Vídeo
-
Homem picado por 200 cobras ajuda a criar antídoto inédito. Entenda
A pesquisadora científica do Laboratório de Herpetologia do Butantan Kathleen Fernandes Grego explicou que, na maioria das vezes, as cobras entram em trabalho durante a madrugada. “O tempo até o nascimento depende da quantidade de filhotes que cada uma carrega”, pontuou. O número pode ser diferente, a depender da espécie, podendo variar de cinco a 70.
O primeiro desafio dos recém-nascidos, disse Kathleen, é romper a placenta na qual nascem envoltos para, enfim, conseguir respirar.
Durante os primeiros 15 dias de vida, os filhotes tendem a ficar mais quietos, pois nascem com uma reserva de vitelo na barriga, não sentindo a necessidade de se alimentar. Após esse período, os bebês já têm potencial de envenenamento.
Mas, no Laboratório de Herpetologia, os filhotes permanecem em um berçário até os 3 anos de idade, quando, enfim, atingem a “maturidade” e passam a contribuir com as rotinas de extração de veneno.