O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) desativou a única unidade estadual voltada ao acolhimento social de pessoas com deficiência visual da cidade de São Paulo para inaugurar um centro para a população autista.
Em 2024, a gestão decidiu fechar o Serviço de Reabilitação Lucy Montoro Jardim Humaitá, que oferecia, além de atendimento de saúde, atividades culturais, de lazer e inclusão social para pessoas cegas e de baixa visão, para a construção do Centro TEA Paulista – inaugurado nesta quarta-feira (4/6) com a presença do governador e de outras autoridades.
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Entenda o caso
- Segundo a Secretaria estadual da Pessoa com Deficiência, os antigos pacientes foram encaminhados temporariamente para a unidade do Centro Lucy Montoro no Hospital das Clínicas. Lá, eles têm recebido acompanhamento médico, mas as atividades de acolhimento social ficaram suspensas.
- O Metrópoles apurou que a ideia da gestão Tarcísio é transferir esse público em definitivo para a unidade Lucy Montoro na Lapa, local que está em obras e deve ser reaberto somente no final deste mês. Ainda assim, na Lapa, os pacientes não terão acesso às atividades de acolhimento social que tinham no Humaitá.
- Como a unidade desativada era a única do sistema estadual que oferecia esse serviço na capital, as pessoas com deficiência visual que dependiam do serviço estão há seis meses desassistidas.
Descartados
Ricardo Silva Bezerra, de 46 anos, era um dos usuários do serviço no Humaitá. “Eu fazia curso de escrita em braille e ele foi cortado pela metade porque o centro fechou antes do encerramento do curso”, conta. Ele diz concordar que a população autista precise de espaços voltados a ela, mas critica a decisão do governo de substituir um atendimento pelo outro.
“Não adianta você atender um público e descartar o outro. Tem pessoas que não tinham condição nenhuma, na época que o centro [para pessoas com deficiência visual] foi fechado, de ficar sem atendimento psicológico e os outros serviços que aconteciam ali”, afirma.
Em 2024, os então pacientes da unidade fizeram protestos contra o fechamento, acionaram o Ministério Público do estado (MPSP), e reuniram mais de duas mil assinaturas em um abaixo-assinado que pedia pela continuidade do serviço, mas as ações não surtiram efeito.
Durante o evento desta quarta (4/6), o secretário de estado da Pessoa com Deficiência, Marcos da Costa, sugeriu que essas pessoas podem continuar acessando os serviços de acolhimento no agora Centro TEA, ainda que os atendimentos médicos sejam redirecionados à unidade do Lucy Montoro na Lapa — que fica a oito quilômetros do Jardim Humaitá.
“A parte de saúde do Lucy Montoro [do Humaitá], da reabilitação de saúde, essa vai ser atendida na unidade Lapa, que fica pertinho. Está sendo feita uma grande reforma e com uma qualidade profissional melhor. Nós vamos ter profissionais ligados à saúde fazendo a reabilitação visual. O lado do acolhimento social, por exemplo o tanque vôlei, que é uma atividade que os cegos gostam, vai ser oferecido aqui [Centro TEA]. Então a parte do acolhimento do ambiente para a pessoa com deficiência, para a pessoa cega, também vai ser oferecido aqui no centro”, disse o secretário Marcos da Costa.
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Tarcísio inaugurou Centro TEA ao lado de secretários e aliados
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Governador visitou instalações do Centro TEA na zona oeste
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Unidade foi inaugurada em local onde antes havia serviço de atendimento a população com deficiência visual
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Muro do Centro TEA Paulista tem símbolo de autismo
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Centro TEA Paulista, no Jardim Humaitá, zona oeste de São Paulo
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Número de atendimentos
O Centro Lucy Montoro Humaitá oferecia três tipos de atendimentos às pessoas com deficiência visual: o programa de apoio à inclusão, com iniciativas voltadas à educação, trabalho e ações culturais; os cursos de formação de orientação e mobilidade; e o programa de reabilitação visual, com serviço de avaliação e atendimento terapêutico.
Em 2024, esses serviços de acolhimento social, o programa de apoio e os cursos de formação contabilizaram mais de 6 mil atendimentos, segundo dados divulgados pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), que administrava o local.
Em 2025, contudo, os dados mostram que o serviço de cursos de formação e mobilidade foi totalmente extinto, enquanto que os atendimentos de apoio aconteceram somente para 16 pessoas em janeiro, último mês de contrato com a SPDM, com 31 atendimentos registrados no mês.
Promessa eleitoral
O centro TEA aberto nesta quarta-feira (4/6) é o segundo desse modelo inaugurado na cidade de São Paulo este ano. Em abril, a Prefeitura de São Paulo inaugurou o Centro Municipal para Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo ‘’Dra. Marina Magro Beringhs Martinez’’, em Santana, na zona norte da capital.
O projeto faz parte de uma promessa eleitoral do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que deve entregar outros três equipamentos desse tipo até 2028.Já a gestão estadual deseja implementar um centro para cada região administrativa do estado.