No primeiro mês deste mandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Sindicato Nacional de Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi) pressionou o então ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), para autorizar novos descontos junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
O Metrópoles teve acesso a um ofício assinado pelo então presidente da entidade, João Batista Inocentini, em 30 de janeiro de 2023, que fez uma série de reivindicações.
Uma das demandas é para a entidade receber autorização para descontar de beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), para idosos e pessoas com deficiência.
Diferente dos aposentados, quem recebe os programas assistenciais não podem ter descontos de mensalidade associativa direto da folha de pagamento.
O autor do ofício, Inocentini, morreu em agosto de 2023. A entidade agora é chefiada por Milton Cavalo e, desde 2008, tem o irmão de Lula, Frei Chico, entre os filiados. Ele assumiu como vice-presidente, em 2024.
A entidade afirma que os pleitos no primeiro mês do novo governo não têm relação com o aumento dos descontos, que chegaram ao auge no período em que o ofício foi enviado ao governo federal.
“É natural que as lideranças procurem o novo governo para fazer as articulações de suas pautas”, diz o Sindnapi, em nota.
Investigação contra o Sindnapi
- Ligada à Força Sindical, o Sindnapi é investigado pela Polícia Federal (PF) no escândalo da farra de descontos do INSS, revelado pelo Metrópoles.
- O inquérito serviu de base para a Operação Sem Desconto, deflagrada no último dia 23 de abril e que culminou na demissão do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ex-ministro Carlos Lupi.
- A entidade tem autorização para descontos associativos há mais de 10 anos. Entre 2021 e 2023, auge da farra dos descontos, o número de cerca de 170 mil filiados saltou para 420 mil associados.
- No mesmo período, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), o faturamento do sindicato foi de R$ 41 milhões para R$ 149 milhões.
- O Sindnapi, porém, nao foi incluído na investigação aberta pelo INSS, assumida pela Controladoria-Geral da União (CGU), e que motivou uma ação da Advocacia-Geral da União (AGU) contra entidades que ja eram alvo da PF.
- O INSS afirma que a ação mirou em associações com indícios de pagamento de propina ou “tidas como fantasmas e que não tinham condições mínimas para sua existência”, o que não é o caso do Sindnapi.
Renovação automática e desbloqueio de benefícios
No ofício encaminhado ao ex-ministro, o Sindnapi também pede que as associações, que na época eram válidas por cinco anos, fossem renovadas automaticamente, “sem a necessidade de novas assinaturas” e com “prazo indeterminado”.
Questionado sobre a reivindicação, o sindicato disse que era uma pauta geral das associações de aposentados.
“Pedir a renovação automática dos acordos com o INSS está dentro de uma lógica que já vinha sendo operada e não era só nossa pauta, mas de todos que tinham ACT (Acordos de Cooperação Técnica, que permitiam os descontos mensais nas aposentadorias)”, afirma a entidade.
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O Sindnapi também queria que as entidades com acordo firmado pudessem, pelo aplicativo INSS Digital, fazer todos os serviços prestados pela autarquia e ser remunerado por esses serviços.
Carros de luxo apreendidos com o Careca do INSS
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Motos importadas apreendidas na casa do Careca do INSS
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Mala de dinheiro apreendida em apartamento do Careca do INSS
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Polícia Federal deflagrou operação por fraudes no INSS
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PF cumpriu 211 mandados de busca e apreensão e 6 de prisão na Operação Sem Desconto
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Carlos Lupi pediu demissão do Ministério da Previdência 9 dias após operação da PF contra farra do INSS
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PF aponta três operadores da farra dos descontos contra aposentados, entre eles o ”Careca do INSS” (ao centro)
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Jorge Messias, chefe da AGU
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Vinícius Carvalho, chefe da CGU
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Novo chefe da Previdência
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“Ninguém é autorizado a falar em nome do INSS”, enfatizou o presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior
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Outra demanda da entidade era pelo fim do bloqueio de benefícios concedidos a partir de 2019. Eles alegam dificuldades dos aposentados em desbloquear as mensalidades associativas.
“A partir de 2019, os benefícios nascem bloqueados para desconto de mensalidade associativa, dependendo de que o beneficiário ligue para o INSS ou utilize o aplicativo para desbloquear. Ocorre que, nenhum desses canais funciona e tem gerado grande transtorno aos segurados e às entidades”.
A entidade afirmou que apresentou a demanda porque “o sistema utilizado pelo INSS para que o aposentado pudesse desbloquear o desconto associativo em sua folha de pagamento vinha apresentando problemas que não eram solucionados pelo Instituto”.