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Todos devem para a união. O que fazer? (por Roberto Caminha Filho)

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Todos devem para a união. O que fazer? (por Roberto Caminha Filho)

Imagine que a União é aquela Vovozinha Rica da família, que empresta dinheiro pra todo mundo nas festas de fim de ano — e agora está cobrando. Mas ninguém tem como pagar. Estamos devendo 827,1 bilhões de reais para a velhinha. Sim, bilhões, com “b” de brasileiro preocupado. E aí vem a pergunta que ecoa dos botecos, praias e piscinas para os gabinetes mais charmosos de Brasília: o que fazer quando todo mundo deve pra mesma pessoa e ela também está com o nome sujo no Serasa moral?

Sabe aquela galera que a gente acha que está bem porque mora em bairro chic, tem Mercedão e fala difícil? Pois é. O Sudeste do Brasil — São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais — deve só 77% dessa monstruosidade. Três estados que, se fossem uma família, seriam o tio que come churrasco todo domingo, mas parcelou o colchão em 24 vezes e está pedindo dinheiro emprestado pra pagar o IPTU e o IPVA.

São Paulo deve horrores. O Rio de Janeiro então, já tá naquela fase da dívida em que você não paga mais o banco, só conversa com o advogado e o agiota está na tua porta. Minas Gerais finge que não é com ela, mas já tá recebendo ligação do “número desconhecido” todo dia, das 12 às 18h.

Hoje temos quatro estados no tal do Regime de Recuperação Fiscal: Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Funciona mais ou menos como uma clínica de reabilitação econômica: o estado jura que vai parar de gastar mal, promete que vai se organizar, pede um tempo, e a União diz: “Tá bom, mas sem festinha e sem contratar parente pra cargo comissionado.”

O problema é que o Rio de Janeiro já entrou na clínica e saiu dando entrevista. “Tô bem, gente! Tô melhor!” — e, segundos depois, foi visto tentando vender o ar-condicionado da escola estadual pra pagar a conta de luz. Ele nem sabe que o “Dono do Bairro” já levou os aparelhos das escolas.

Ah, o governo central… aquele que deveria dar o exemplo. Parece mais o pai que diz pro filho: “Não gaste tudo com besteira!”, enquanto paga a parcela do jet ski com o cartão corporativo. A União não é exatamente um modelo de disciplina fiscal. Se ela fosse uma pessoa, estaria num reality show de descontrole financeiro, sendo entrevistada pela Ana Maria Braga e com o Louro José incrédulo, depois de ter explodido o orçamento com “penduricalhos emergenciais”.

Nós, Brazucas, estamos vendo esse carnaval de camarote. Só que a pipoca tá cara e o ingresso foi parcelado. E o pior: não moramos na União nem no Estado. Moramos nos municípios. Esses sim, são o final da linha. É no município que falta o remédio no posto, o ônibus quebra, o buraco na rua vira ponto turístico e o professor tem que dar aula com o giz emprestado do século passado. Só barulho de dar dor nos dentes. Giz duro e não escreve.

Os municípios estão quase no mesmo estado apocalíptico das coisas infernais (sim, parece exagero, mas pergunta pra qualquer prefeito do interior que não tem dinheiro nem pra trocar a lâmpada da praça: ele vai dizer que exagero é pouco). O jeito é fazer um show com o pagodeiro mais caro do Rio.

Então vem outra ideia: fazer uma auditoria, rever as dívidas, cortar gastos supérfluos, planejar o futuro. Mas essa parte exige o que chamamos de bom senso orçamentário, um ser místico que só aparece a cada passagem do Cometa Halley, e mesmo assim, com medo.

Enquanto isso, vamos vivendo. Porque, no fim das contas, quem mais paga a conta é quem menos pegou emprestado. E esse alguém tem nome: você. Que trabalha, estuda, pega dois ônibus, vota e ainda ouve que precisa “fazer sua parte”.

Mas não se desespere! Afinal, como dizem por aí: o Brasil não é para amadores. É para machos teimosos com senso de humor.

Vamos empurrar com a barriga para a próxima geração! E essa geração, que já começou a pagar, passará só 46 anos pagando.

 

Roberto Caminha Filho, economista, já entregou a sua dívida para os bisnetos, que ainda não nasceram, negociarem com os bisnetos do Trump.

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