Mesmo no meio de uma guerra – ou até por isso mesmo – Israel não abre mão de tentar conquistar corações e mentes para suas causas, suas razões. Também, claro, oferecer seus produtos premium – armas e vigilância eletrônica.
Neste junho, meia centena de autoridades brasileiras – de médio porte – enroscou-se no anzol do lobby israelense. Convidados, abandonaram suas bases e foram dar rolê de outono com piquenique all inclusive, mas… nas portas do inferno, no inferno da guerra Israel/Palestina.
Chamados para compras e lazer de boca livre, aprenderam o que é estar próximo do fogo do inferno.
Desavisados?
Nem que quisessem.
Aproveitadores? Então…
O caso é que, sem deferências aos visitantes quase ilustres, o país anfitrião decidiu dar gás nas suas guerras. Israel bombardeou o vizinho Irã que, sem vocação pra mocinho nas telas, revidou. Brasileiros com crachá de governador, prefeito, secretário de Estado e outros provaram do sufoco que é viver sob bombas.
Guerras metem medo. No meio delas a vida tem valor quase zero. O maior e mais humano desejo é correr dali pra bem longe. Milhares de pessoas, no mundo, têm o sonho de fugir da guerra, acabar com a guerra, estar em segurança. E não têm essa chance, não conseguem.
Guerras dão lucro. Os pró guerras têm A força.
Hoje, sonham com paz palestinos, israelenses que não apoiam guerras, russos, ucranianos, iranianos, africanos e outras vítimas dos Estados armados e seus governos beligerantes, que só pela guerra conseguem manter o poder.
Israel é um deles. Ali, quem pode, pede colo a Deus pra escapar das barbáries e, um dia, conseguir voltar pra uma casa inteira/o, com água nas torneiras e comida no fogão. Muitos são os que sonham com estar vivo e ser livre.
Protegidos em bunker de hotel, os convidados brasileiros da boca livre israelense provaram das desditas da guerra. Temeram e tremeram.
– Lambeta*, foi “lambetiar” o quê no meio da guerra? Indagam mineiros para o prefeito de BH, paraibanos para o Prefeito de João Pessoa, rondonienses para seu governador, brasilienses para sua primeira dama.
– Disgrama, foi fazer o quê no meio daquela desgraceira sem fim. Não dói dar vitrine e bençãos pra opressão do mais forte sobre o mais fraco? Pensam outros brasileiros.
– Excomungado, levou solidariedade aos que velam seus mortos? Luta por paz. Rezou pelos que matam em nome do que nem sabem direito?
– Porcaria, levou comida e água para os que estão morrendo de fome e sede? Indagam outros tantos.
– Para além do all inclusive, o sem noção, aprendeu com o que viu, com o medo que sentiu?
– Porcaria, valeu a pena a viagem despropositada pra passar sufoco no país que puxa o cordão da guerra e tem praticado intensa crueldade sobre os perdedores?
Com ou sem resultados no business de armas e/ou de vigilância eletrônica, diz aí bendita/o, o melhor da festa tem sido mesmo voltar pra casa, em segurança, né?
Brasileiros não são pra amadores.
*Lambetas, em Minas Gerais, são aquele/as que metem o bedelho em tudo. Enxeridos, convidados ou não, querem fazer e saber de tudo. Costumam acabar dentro de grandes confusões.
Tânia Fusco é jornalista