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    A bola está nos pés de Lula para que ele bata o pênalti sem goleiro

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    Quando tudo começa errado, dificilmente dá certo. É o que acontece com o tarifaço aplicado ao Brasil por Donald Trump. Como presidente de um país soberano, ele poderia ter feito o que fez. Mas o próprio Trump reconhece que sua decisão não foi econômica e sim política, para livrar da cadeia Bolsonaro e os golpistas de dezembro de 2022 e de janeiro de 2023.

    Se o Brasil é tão soberano como os Estados Unidos, Trump não poderia ter agido desse modo. Ao advogar em favor de pessoas acusadas de crimes para além de suas fronteiras, ele interfere em assuntos internos de outro país e desrespeita a sua soberania. Infelizmente, não é de hoje que um presidente americano age assim. Quantos governos democráticos já não derrubaram?

    É um fato curioso ao qual se dá pouca atenção: a pátria da democracia, modelo de regime político que ela diz tentar impor ao mundo por ser o mais justo, usa a força para derrubar governos eleitos, abrindo espaço a ditaduras. Amargamos 21 anos de ditadura a pretexto de salvar a democracia. Os Estados Unidos apoiaram os governos dos generais que torturaram e mataram.

    O tarifaço esconde a real intenção de Trump de impedir que Lula governe. Trump quer a volta ao Poder da extrema-direita, se possível com Bolsonaro ou um dos seus filhos; se não, com um nome identificado com eles. Por seu tamanho continental, pela importância de sua economia, o Brasil é a prenda que os ideólogos da extrema-direita mais ambicionam nas Américas.

    Trump atirou em Lula e acertou em Bolsonaro, um morto-vivo a essa altura. A dita direita civilizada dá tratos à imaginação para reparar os estragos produzidos por estilhaços da bala na candidatura a presidente do seu bem-amado Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Tarcísio ainda está longe de respirar por meio de aparelhos, mas seu estado de saúde inspira cuidados.

    O estado de saúde de Lula melhorou com a ajuda de Trump, Bolsonaro, Tarcísio, Eduardo e da direita órfã de um líder que a comande. Somente ontem, Lula colheu duas vitórias: a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o decreto do IOF; e o ok do Congresso para uma emenda à Constituição que lhe permitirá gastar mais R$ 12 bilhões em 2026, ano eleitoral.

    Sem falar dos resultados da pesquisa Quaest. O tarifaço de Trump fez Lula recuperar parte da popularidade perdida. Entre os pobres? Não. Na classe média. Não foi no Nordeste, mas no Sudeste. Trump jogou os moderados no colo de Lula. O fenômeno que deu a Lula a vitória apertada nas eleições de 2022 parece se repetir neste momento, segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest.

    É cedo, porém, para que Lula e a esquerda celebrem. À falta de um acordo com Trump, o tarifaço poderá ser mortal para sua candidatura ao quarto mandato. Não haverá PIX que dê jeito. A Rua 25 de março não sairá em sua defesa. O bolso é o que importa.

     

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