Vozes da direita que veste terno completo, e não se atrapalha à mesa no uso de talheres, acusam de inércia o governo Lula a uma semana da entrada em vigor do tarifaço imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos.
É tudo menos verdade que o governo esteja paralisado. Ou que só muito tarde tenha acordado para a mais séria ameaça econômica sofrida pelo país ao longo da sua história. Trump fechou as portas para a negociação. Não há com quem conversar na Casa Branca.
Essas mesmas vozes da direita dita civilizada acusam Lula e alguns dos seus ministros de fustigarem Trump com um discurso nacionalista, provocador e debochado. Aconselham que falem baixinho, ou melhor, que não falem, apenas ajam.
De volta à realidade: tarifaço é o nome dado à intervenção de Trump nos assuntos internos do Brasil. Sanções seria o termo mais adequado. Ele quer submeter nossa justiça às suas ordens e forçar o país a um realinhamento ideológico com os Estados Unidos.
Quer mais, muito mais: nossos minerais, terras raras e recursos naturais, e que o Brasil se afaste da China, seu maior parceiro comercial. Nada de Ferrovia Transoceânica, que ligará o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, atravessando o Brasil e o Peru.
Se isso acontecesse, adeus soberania, ferida de morte. Por mais gigantesco que seja, o Brasil então escalaria à condição de protetorado americano, com direito a regalias, arrastando outros países do continente, inclusive a outrora orgulhosa Argentina.
Enquanto aqui o encarregado de negócios dos EUA limita-se a postar memes nas redes sociais e a mandar recados para o governo brasileiro, na Argentina o embaixador americano diz o que fazer a Javier Milei e a governadores de províncias importantes.
A um político, peça-se qualquer coisa, tanto mais na era das emendas ao Orçamento, parte delas secreta e sujeitas a escandalosos desvios de finalidade; só não peça que ele se suicide. Político vive em campanha permanente. Lula não é diferente.
Por que ele deixaria passar a oocasião de fortalecer-se junto ao seu público? Não o culpem pela encalacrada em que a direita se meteu graças à família Bolsonaro, atrás de patrocínio internacional. Por que a direita não se separa de uma vez da família molambo?
Simples: porque à direita de bons modos nas refeições faltam os votos necessários para derrotar Lula daqui a um ano e poucos meses. A direita em todos os seus tons de cinza é refém de Bolsonaro e continuará sendo até quando ele quiser.
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