Senadores e deputados repudiaram, nas redes sociais, a abordagem truculenta dos policiais Gustavo Gonçalves Suppa e Victor Baracho Alves na Asa Norte. O episódio revoltou a população do Distrito Federal.
Na última quarta-feira (9/7), Gustavo Suppa e Victor Alves, que são agentes da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), foram flagrados por populares agredindo um motorista na 112 Norte, após um acidente de trânsito sem gravidade. O filho da vítima, de 5 anos, acompanhou tudo.
Os policiais detiverem o publicitário e o levaram para a delegacia, deixando a criança com estranhos na rua.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, Damares Alves (Republicanos-DF) publicou nota em seu perfil do Instagram se solidarizando com a família da vítima e informando que acompanhará o caso de perto.
“Conversei por telefone com o diretor da PCDF, José de Carvalho, e ele adiantou que já foi aberto procedimento para apurar o ocorrido. Estou especialmente preocupada com a saúde mental da criança”, disse.
“Aproveito, portanto, para me solidarizar com a família e colocar o mandato à disposição para qualquer apoio que necessitarem”, acrescentou.
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Victor Baracho Alves (de camiseta preta) afastava testemunhas enquanto a vítima era agredida
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Gustavo Gonçalves Suppa (de camiseta branca) imobilizou Danilo contra o chão após dar socos e um “mata-leão”
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Victor Baracho Alves
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Gustavo Gonçalves Suppa
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Gustavo Gonçalves Suppa
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Criança de 5 anos presenciou agressão e prisão do pai após suposto acidente de trânsito
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5ª DP registrou o caso
Kebec Nogueira/Metrópoles
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O deputado federal Fred Linhares (Republicanos-DF) também lamentou o caso. “Sou um grande defensor da segurança pública e dos nossos policiais, sempre fui. Mas também sou pai. E ver uma criança de 5 anos presenciar o próprio pai sendo levado daquele jeito e depois ficar sozinha no local não dá pra aceitar”, escreveu.
“Autoridade se exerce com responsabilidade. Ainda mais quando há uma criança envolvida. Isso não é sobre enfraquecer a polícia, é sobre fortalecer a atuação com preparo, respeito e humanidade”, acrescentou em seu perfil no Instagram.
“Quem defende de verdade também cobra o que precisa ser corrigido. Segurança pública de verdade protege vidas, inclusive das crianças que estão assistindo a tudo, em silêncio”, declarou.
Por meio de vídeo, também publicado no Instagram, a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) narrou os fatos aos seguidores. “Uma pessoa bateu numa viatura que não estava caracterizada como tal, e os policiais fizeram uma abordagem violenta contra o motorista”, disse.
“Arrancaram [o motorista] do carro, apontaram armas, e ele [vítima] estava com o filho de 5 anos. Inclusive, eles levaram o motorista para a delegacia e deixaram a criança no carro, acompanhada de pessoas desconhecidas, de estranhos, que por sorte acolheram essa criança”, declarou a deputada.
Na gravação, ela mencionou a nota de repúdio da governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (Progressistas), e disse: “Essa não é uma abordagem típica dos nossos policiais do DF. A nossa polícia é uma das melhores do país e merece todo nosso respeito, mas a gente não pode concordar com uma atitude como essa”.
“Quero me solidarizar aqui com o motorista, agradecer também a essas mulheres que cuidaram da criança. […] Nós não podemos concordar jamais. Que isso não se repita”, disse.
“Que se investigue essa conduta e que as pessoas que agiram de forma desproporcional e totalmente errada sejam devidamente punidas”, finalizou a deputada.
Inaceitável
Presidente da Frente Parlamentar da Primeira Infância, o deputado federal Zacharias Calil (União Brasil-GO) publicou nota criticando a conduta dos policiais. “A Constituição e o ECA são claros: proteger a criança é prioridade absoluta”, declarou.
“Requisitei providências imediatas à Corregedoria da PCDF, ao MPDFT, à Secretaria de Segurança Pública, ao Conselho Tutelar e ao Ministério da Justiça. Essa situação pode configurar abuso de autoridade e abandono de incapaz”, disse o deputado.
“A maioria dos agentes de segurança atua com responsabilidade, mas esse caso exige uma resposta firme do Estado. Não podemos admitir que isso se repita! Seguirei acompanhando de perto e propondo medidas que garantam o respeito aos direitos das nossas crianças” pontuou Calil.
CLDF
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CDH-CLDF) informou que acionará o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) e o Conselho Tutelar para que seja investigado o abandono do menino.
O deputado distrital Fábio Feliz (PSol), presidente da comissão, informou que a a CDH está prestando assistência à vítima e que irá formalizar denúncia contra os agentes.
A deputada distrital Paula Belmonte também se manifestou por meio de nota. “Nenhuma criança deveria presenciar a cena de um pai sendo espancado, muito menos ser deixada sozinha, no meio da rua, em estado de pânico”, disse.
Segundo a parlamentar, o episódio envolvendo policiais da DCA “escancara algo grave”: “O Estado, que deveria proteger, falhou. Não é admissível que agentes públicos ajam com violência diante de uma criança. Falhou a formação, falhou o protocolo, falhou a sensibilidade”.
“Como mulher, mãe e parlamentar, faço um apelo por respostas imediatas, responsabilização exemplar e, acima de tudo, um compromisso real com a humanização da segurança pública. Precisamos de agentes preparados para proteger, não para traumatizar”, declarou.
O caso
Ao Metrópoles, o videomaker e cinegrafista Diego Torres Machado de Campos, de 42 anos, detalhou a dinâmica do acidente de trânsito que culminou na prisão truculenta dele.
Segundo Diego, a confusão teve início no final do Eixão Norte. O homem estava acompanhado do filho, Tito, de apenas 5 anos. Os dois tinham como destino o Parque da Cidade.
O publicitário relatou que conduzia seu veículo pela faixa da esquerda quando foi surpreendido por um carro preto, que o ultrapassou pela faixa do meio e entrou bruscamente em sua frente sem sinalizar.
O motorista freou repentinamente, forçando Diego a buzinar para evitar uma colisão. Ainda assim, houve um contato entre os veículos. “Fiquei assustado, achei que era algum doido. O carro estava descaracterizado, não tinha nada de viatura”, relatou.
Temendo pela sua segurança, ele acelerou e tentou se afastar, pegando a saída da 114 Norte. No entanto, o outro carro iniciou uma perseguição, chegando a fechá-lo mais uma vez e quase o empurrando para fora da pista, na tesourinha.
“Até que eu ouvi uma sirene, mas não sabia se era deles, não tinha identificação alguma”, contou.
Desesperado, Diego seguiu em direção à comercial da 112 Norte para buscar um local seguro. Lá, foi interceptado novamente. “O agente que estava dirigindo veio exaltado, eu nem levantei a voz. Ele disse que eu estava preso. O colega dele veio me algemar. Eu só pedi que ajudassem meu filho, que estava sozinho no carro”, afirma.
Durante a abordagem, ele foi derrubado com uma rasteira e teve o rosto pressionado contra o chão, mesmo sem oferecer resistência. “Pedi ajuda, disse que meu filho estava lá dentro, mas fui colocado na viatura mesmo assim. Um dos agentes chegou a apontar uma arma para mim.”
O filho dele presenciou toda a cena e foi abandonado pelos policiais dentro do carro, chorando. O garoto foi acolhido por uma mulher que se comoveu e o retirou do veículo.
Diego foi levado inicialmente à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) e, posteriormente, à 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), onde foi fichado por acidente de trânsito, dano e evasão do local.
Também passou por exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML), apresentando hematomas no pescoço e escoriações no joelho.
O carro de Diego foi apreendido para perícia. “Foi um total abuso por parte dos agentes. Fiquei com medo. Em nenhum momento resisti. Só queria proteger meu filho e entender o que estava acontecendo”, desabafou.
Prisão filmada
A ação truculenta dos policiais foi filmada por diversos pedestres. Em um dos vídeos, um dos agentes envolvidos dá socos em Diego, que está de costas, rendido e sem oferecer qualquer resistência.
Momentos depois, o filho dele aparece dentro do carro. O menino vê o pai ser algemado. A criança começa a chorar e é ignorada pelos agentes.
Diego foi imobilizado, como mostram imagens gravadas por testemunhas. Depois de alguns minutos, mais viaturas chegaram.
O publicitário foi liberado da delegacia por volta das 19h30.
Brutalidade
Sofia Veríssimo trabalha na quadra e classificou a ação policial como brutal. “O [policial] careca de camisa branca puxou o pai do menino de dentro do carro.”
“Ele deu um mata-leão no cara, bateu nele e jogou ele no chão. Brutos, muito brutos. Não precisava disso tudo porque encostou no carro de um policial civil. Ele [Diego] encostou no carro. Foi só um arranhão”, disse.
A mãe de Tito, a colunista do Metrópoles Gabriella Furquim, 34 anos, conta como soube da prisão.
“Me ligaram do celular dele falando que o Tito estava sozinho, muito assustado, e me dando endereço pedindo pra ir rápido. Chegando lá, o policial me abordou dizendo que eu tinha que entrar na viatura, prestar depoimento porque o pai do meu filho tinha cometido um crime. Eu disse que queria ver meu filho primeiro e aí encontrei o Tito com outras pessoas desconhecidas que me falaram que o pai foi arrancado do carro, espancado, preso e que tinham deixado o Tito sozinho.”
Policiais afastados
Os policiais civis Gustavo Gonçalves Suppa e Victor Baracho Alves, envolvidos na abordagem, foram afastados da atividade operacional e realocados em funções administrativas.
Em nota, divulgada nessa quinta-feira (10/7), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) disse que após tomar conhecimento do caso “foram adotadas de forma imediata todas as providências legais e administrativas cabíveis”.
“A Corregedoria-Geral da instituição instaurou inquérito policial e procedimento administrativo disciplinar para apurar, de forma rigorosa, os fatos sob os aspectos criminal e funcional. Os policiais envolvidos foram afastados das atividades operacionais e realocados em funções administrativas”, declarou a corporação.
Segundo a Polícia Civil, a Corregedoria “sempre atua com autonomia, isenção e respeito ao devido processo legal”. “Condutas incompatíveis com os valores institucionais serão responsabilizadas nos termos da lei”.