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    Acusada de fraude, empresa mantém contrato de R$ 10 milhões com a TCB

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    Acusada de apresentar documento falso em nome da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) para justificar ocupação de um terreno público em Ceilândia, a empresa Rodoeste Transporte e Turismo LTDA mantém contratos milionários com a Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília (TCB).

    Segundo o Portal da Transparência, em apenas sete meses de 2025, a companhia recebeu o equivalente a R$ 10.290 milhões decorrentes de contratos firmados com a TCB.

    Em um documento elaborado pelo Ministério Público de Contas (MPC), inclusive, a Rodoeste é citada como integrante de um grupo econômico que atua em suposto “conluio” com outras empresas pertencentes a uma mesma família para “frustrar o caráter competitivo de licitações” e abocanhar contratos milionários com a TCB.

    Apesar dos valores milionários repassados à Rodoeste, a empresa foi colocada na dívida ativa do Governo Federal. A reportagem apurou que trata-se de multas trabalhistas, cujo montante supera R$ 45 mil.

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    Figuram como sócios da Rodoeste o empresário Pedro Henrique Veiga de Oliveira e Ana Rosa de Oliveira. Pedro é filho do também empresário Ronaldo de Oliveira – condenado por integrar um esquema de lavagem de dinheiro público. Ana, por sua vez, é mãe de Ronaldo.

    Outras empresas ligadas ao grupo econômico de Ronaldo também mantém contratos milionários ativos com a TCB, tais como: Izabely Transportes e Comércio de Alimentos, pertencente a Izabely de Paula Costa, nora de Ronaldo; e a Oliveira Transportes e Turismo, pertencente a Soraya Gomes da Cunha, esposa da Ronaldo.

    No centro de incontáveis polêmicas, a Rodoeste é alvo de apuração do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) por outras supostas irregularidades em contratos com o Poder Público.

    Documento falsificado

    No fim de junho deste ano, o Metrópoles denunciou o uso de um documento fraudado utilizado pela Rodoeste para justificar a ocupação de um terreno público em Ceilândia – e avançado, inclusive, sobre área de preservação permanente (APP).

    De acordo com informações obtidas pela reportagem, donos da Rodoeste costumam apresentar uma suposta autorização emitida pela Codhab para justificar permanência no Parque Pequizeiro, localizado na Área Especial 1 do Sol Nascente.

    Contudo, em um ofício encaminhado à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), a Codhab negou a legitimidade da concessão. Conforme explicou a companhia, o terreno não pertence a ela, e, por isso, “não foi emitida qualquer autorização ou permissão a quem quer que seja para ocupá-lo”.

    A Codhab também alertou que, “caso exista algum documento” supostamente assinado pela companhia “autorizando a ocupação” da área, “trata-se de fraude, cabendo imediata denúncia à Polícia Civil do Distrito Federal”.

    Veja:

    Apesar da existência de um documento falso, bem como negativa da Codhab em ter cedido o terreno para a Rodoeste, a empresa ocupava a área. Oito meses depois, a Terracap suspendeu a concessão.

    No documento em que a agência revoga a ocupação do local, também ficou estabelecido prazo de 90 dias para desocupação, “possibilitando a concessão onerosa de outra área disponível”.

    No entanto, passados seis meses da data estipulada para saída, a Rodoeste permanece no endereço. A área é utilizada como garagem para frota de ônibus.

    Fraude em sistema de bilhetagem

    Metrópoles apurou que Ronaldo de Oliveira e a família dele mantêm contratos com o governo desde, pelo menos, 2018. No ano, inclusive, o TCDF determinou a anulação de um dos procedimentos licitatórios do qual a empresa Rodoeste Transporte fez parte, por suspeita de fraude.

    Apesar da ação do órgão de controle, mandados de segurança impetrados pelos advogados dos empresários devolveram a gestão e execução dos contratos.

    À época, a PCDF também deflagrava a Operação Trickster, para apurar esquema criminoso no qual R$ 1 bilhão teria sido desviado por meio de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do extinto Transporte Urbano do DF (DFTrans).

    As apurações resultaram na prisão preventiva de Soraya e de Ronaldo. A mulher, como tinha filho menor, fez acordo com a Justiça e passou um período usando tornozeleira eletrônica. O homem, por sua vez, fugiu.

    Durante o período, a dupla não perdeu os contratos milionários que tinha com a TCB. A reportagem do Metrópoles confirmou que as empresas do casal permaneceram operando, mesmo sem a presença dos empresários. Várias garagens em que ônibus estavam estacionados eram vigiadas por funcionários e seguranças.

    O esquema criminoso

    Após ser alvo da Operação Trickster, Ronaldo de Oliveira desenvolveu um sistema sofisticado para lavar dinheiro, especificamente mais de R$ 31 milhões. Para isso, o empresário apontado como “dono de Brazlândia” usou um supermercado e contas de poupança em nome de testas de ferro para lavar centenas de milhares de reais. Até mesmo filhos menores de idade de Ronaldo de Oliveira foram aproveitados no esquema, segundo a polícia.

    O empresário teria usado, ainda, um empreendimento para ocultar a propriedade e dissimular valores faturados por meio do estelionato contra a administração pública e da corrupção de agentes públicos.

    O bando, inclusive, teria conseguido cooptar um analista do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que recebia várias transferências bancárias para “cuidar” dos processos do empresário e advogar em defesa dos interesses da organização criminosa.

    O servidor consultava processos e repassava informações sigilosas, segundo as investigações.

    “Laranjas”

    Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curvas” para driblar as autoridades.

    O fluxo do dinheiro começa com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, segundo as investigações, mas os valores são imediatamente lançados nas contas poupanças do grupo, via depósitos e transferências, muitas vezes na boca do caixa.

    Em seguida, ocorrem retiradas diárias de valores das contas poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya, para repasse às contas das empresas, tudo a fim de evitar bloqueios judiciais. Algumas delas chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão, segundo a PCDF.

    Defesa

    O Metrópoles tentou contatar a TCB, mas não teve retorno até a última atualização do texto. A Rodoeste Transporte e Turismo LTDA também foi procurada, mas não encaminhou posicionamento. O espaço segue aberto para futuras manifestações.