O advogado Eduardo Kuntz, que representa o coronel do Exército Marcelo Câmara, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), prestou depoimento à Polícia Federal (PF), em São Paulo nesta terça-feira (1/7). A oitiva durou cerca de cinco horas.
No âmbito do julgamento sobre a suposta trama golpista liderada por Bolsonaro, Kuntz alegou que trocou mensagens com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e delator do ex-presidente. As conversas teriam ocorrido pelo Instagram por meio da conta @gabrielar702, que teria o nome da esposa de Cid.
A troca de mensagens motivou Kuntz a pedir a nulidade da delação de Mauro Cid. No entanto, ele foi convocado a depor por suposta obstrução de justiça.
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Kuntz chegou à PF por volta da 14h30 e saiu após às 20h30. Depois do depoimento, ele agradeceu ao delegado Fabio Schor por ter permitido que se explicasse e disse que o policial o ouviu atentamente.
“Minha atuação profissional e legal foi totalmente dentro dos parâmetros, sem qualquer tipo de conduta ilícita ou com falha ética”, disse a jornalistas ao sair da PF.
A defesa de Mauro Cid diz que familiares do tenente-coronel foram interpelados pelos advogados de Jair Bolsonaro, Fábio Wajngarten e Paulo Amador Bueno, Kuntz e o coronel Marcelo Câmara. O ex-assessor de Bolsonaro foi preso preventivamente após o episódio e também prestou depoimento à PF, nesta terça-feira. A oitiva, porém, ocorreu em Brasília.
Em São Paulo, ainda foram ouvidos os advogados de Bolsonaro. Paulo Amador Bueno ficou na PF por cerca de 40 minutos e saiu sem falar com a imprensa. Já Fábio Wajngarten prestou depoimento por cerca de uma hora e disse que não conversa com familiares de Cid desde agosto de 2023.
Entenda o caso
- Os depoimentos foram determinados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi tomada com base em documentos apresentados pela defesa de Mauro Cid.
- Segundo Moraes, os elementos juntados aos autos indicam, em tese, conduta que pode configurar crime previsto no artigo 2º, parágrafo 1º, da Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/2013). O ministro considerou a oitiva dos advogados “pertinente, adequada e necessária”.
- O caso teve origem em um inquérito instaurado para investigar os advogados Luiz Eduardo Kuntz e Marcelo Câmara. No curso da apuração, a defesa de Mauro Cid apresentou declarações de familiares e documentos que relatam abordagens feitas por Kuntz, Wajngarten e Paulo Bueno a integrantes da família de Cid, mesmo após ele já ter firmado acordo de colaboração premiada homologado pelo STF.
- Entre os materiais entregues estão declarações assinadas pela esposa de Cid, Gabriela Ribeiro Cid; pela mãe dele, Agnes Barbosa Cid; e pela filha adolescente do militar, além do celular da menor, com autorização para acesso aos dados. A PF informou que o aparelho foi apreendido e que os dados estão em processo de extração e categorização, com laudo técnico previsto para ser entregue em até dez dias.
- De acordo com a defesa, os advogados teriam tentado entrar em contato com Mauro Cid por meio de sua filha, de 14 anos, enviando mensagens que sugeririam a exclusão de conteúdo do celular. Em uma das conversas, Kuntz teria dito que “toda segunda faz uma limpeza em seu celular”, em referência supostamente a práticas de ocultação de informações.
- Além disso, a esposa e a mãe de Cid relataram ter sido abordadas pessoalmente em ocasiões sociais, como na Hípica de São Paulo. Nesses encontros, segundo os relatos, os advogados teriam tentado convencê-las a interferir na estratégia de defesa adotada por Mauro Cid.
- Com base nessas informações, Moraes determinou também que o laudo técnico sobre o conteúdo do celular da filha de Cid seja anexado ao inquérito no prazo de dez dias. O inquérito segue sob sigilo, e os depoimentos de Wajngarten e Costa Bueno serão conduzidos pela PF como parte das diligências determinadas pelo Supremo.