O Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestou pela primeira vez, na noite desta quarta-feira (30/7), após o ministro da Corte Alexandre de Moraes ser alvo de sanções dos Estados Unidos (EUA) através da Lei Magnitsky. Em nota, o Supremo prestou solidariedade a Moraes e destacou que “não se desviará do seu papel de cumprir a Constituição”.
Leia também
-
Os ministros do STF que deverão defender Moraes após sanção de Trump
-
Faculdade de Direito da USP condena sanção do governo dos EUA a Moraes
-
Nikolas protocola impeachment de Moraes após sanção de Trump
-
Mercadante sobre sanções dos EUA a Moraes: “Inaceitável”
O STF citou ainda o processo sobre a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados em uma trama golpista para anular as eleições de 2022. No entendimento da Corte, o julgamento de crimes que implicam “atentado grave à democracia brasileira é de exclusiva competência da Justiça do país”.
“No âmbito da investigação, foram encontrados indícios graves da prática dos referidos crimes, inclusive de um plano que previa o assassinato de autoridades públicas”, diz a nota.
Veja manifestação completa do STF:
“Em razão das sanções aplicadas ao Ministro Alexandre de Moraes, um dos seus integrantes, o Supremo Tribunal Federal vem se pronunciar na forma abaixo:
- O julgamento de crimes que implicam atentado grave à democracia brasileira é de exclusiva competência da Justiça do país, no exercício independente do seu papel constitucional.
- Encontra-se em curso, perante o Tribunal, ação penal em que o Procurador-Geral da República imputou a um conjunto de pessoas, inclusive a um ex-Presidente da República, uma série de crimes, entre eles, o de golpe de Estado.
- No âmbito da investigação, foram encontrados indícios graves da prática dos referidos crimes, inclusive de um plano que previa o assassinato de autoridades públicas.
- Todas as decisões tomadas pelo relator do processo foram confirmadas pelo Colegiado competente.
- O Supremo Tribunal Federal não se desviará do seu papel de cumprir a Constituição e as leis do país, que asseguram a todos os envolvidos o devido processo legal e um julgamento justo.
- O Tribunal manifesta solidariedade ao Ministro Alexandre de Moraes.”
O governo de Donald Trump aplicou, nesta quarta-feira (30/7), a Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O nome do magistrado consta no sistema do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros, que administra e aplica programas de sanções, e também no site do Departamento de Tesouro. A lei é usada para punir estrangeiros.
Veja as imagens:
Leia também
-
Os ministros do STF que deverão defender Moraes após sanção de Trump
-
Faculdade de Direito da USP condena sanção do governo dos EUA a Moraes
-
Nikolas protocola impeachment de Moraes após sanção de Trump
-
Mercadante sobre sanções dos EUA a Moraes: “Inaceitável”
Moraes é alvo da legislação norte-americana que tem como objetivo punir autoridades internacionais acusadas de violação aos direitos humanos.
Na prática, as sanções da Lei Magnitsky afetam os sancionados principalmente por meios econômicos, como o congelamento de bens e contas bancárias em solo ou instituições norte-americanas. De acordo com o governo dos EUA, qualquer empresa ou bem relacionados ao ministro nos EUA estão bloqueados. Cidadãos norte-americanos também estão proibidos de fazer negócios com o ministro. Moraes não pode fazer transações com empresas do país, como usar cartão de crédito com bandeira dos EUA, por exemplo.
Em 18 de julho, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, havia anunciado a revogação de vistos de ministros do STF e de seus parentes, com a citação nominal a Moraes.
12 imagens
Fechar modal.
1 de 12
Ministro do STF Alexandre de Moraes
Igo Estrela/Metrópoles
@igoestrela2 de 12
Trump determinou sanções contra Alexandre de Moraes
Arte Metrópoles / Gabriel Lucas 3 de 12
Bolsonaro e Alexandre de Moraes
Hugo Barreto/Metrópoles4 de 12
Arte Metrópoles5 de 12
O presidente dos EUA, Donald Trump
Andrew Harnik/Getty Images6 de 12
O ministro do STF Alexandre de Moraes
Vinícius Schmidt/Metrópoles7 de 12
STF
Vinícius Schmidt/Metrópoles8 de 12
Lara Abreu / Arte Metrópoles 9 de 12
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto10 de 12
Governo Trump oferece U$1.000 para imigrante que deixar os EUA
Scott Olson/Getty Images11 de 12
Bolsonaro e Alexandre de Moraes
Hugo Barreto/Metrópoles12 de 12
Hugo Barreto/Metrópoles
Na justificativa das ações contra ministros do STF, e especificamente contra Moraes, o governo norte-americano cita o processo na Corte contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que virou réu por tentativa de golpe de Estado após perder a eleição de 2022 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Trump chegou a dizer que a Justiça brasileira promovia uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Nesta quarta, ao publicar uma nota sobre a aplicação da lei, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, citou o ex-presidente.
“Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos politizados — inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará a responsabilizar aqueles que ameaçam os interesses dos EUA e as liberdades de nossos cidadãos”, declarou o secretário.
Entenda a Lei Magnitsky
Criada em 2012 durante o governo de Barack Obama, a Lei Magnitsky permite aos Estados Unidos punir estrangeiros envolvidos em corrupção ou graves violações de direitos humanos. O dispositivo surgiu após a morte de Sergei Magnitsky, advogado russo que denunciou um esquema de corrupção em seu país e morreu em uma prisão de Moscou em 2009, aos 37 anos.
Inicialmente voltada para punir os responsáveis por sua morte, a legislação teve seu alcance ampliado em 2016, para permitir que qualquer pessoa ou autoridade estrangeira suspeita de corrupção ou abusos fosse alvo de sanções.
A primeira aplicação fora do contexto russo ocorreu em 2017, durante o próprio governo Trump, quando três figuras da América Latina – Roberto José Rivas Reyes, da Nicarágua, Julio Antonio Juárez Ramírez, da Guatemala, e Ángela Rondón Rijo, da República Dominicana – foram punidas por corrupção e violações de direitos humanos.