O Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) deve continuar adotando uma “abordagem cuidadosa” em suas próximas reuniões sobre política monetária, observando com parcimônia os indicadores econômicos para definir a taxa básica de juros do país.
É o que indica a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) da autoridade monetária dos EUA, divulgada nesta quarta-feira (9/7).
Em meados de junho, o colegiado anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. Foi a quarta reunião consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana manteve inalterada a taxa de juros.
Antes das quatro últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos.
Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.
Apesar das pressões públicas e quase diárias do presidente dos EUA, Donald Trump, pela queda da taxa de juros, apenas “algumas autoridades” do BC norte-americano presentes na última reunião do Fomc defenderam uma redução já no próximo encontro do colegiado, marcado para os dias 29 e 30 de julho.
De acordo com a ata, “a maioria dos participantes” da reunião do Fomc em junho projetou eventuais cortes nos juros ainda neste ano, com choques de preços “temporários ou modestos” causados pelas tarifas comerciais.
“Os participantes, em geral, concordaram que, com o crescimento econômico e o mercado de trabalho ainda sólidos e a política monetária atual moderada ou modestamente restritiva, o comitê estava bem posicionado para aguardar por mais clareza sobre as perspectivas para a inflação e a atividade econômica”, diz a ata do Fomc.
“Alguns participantes consideraram o risco de inflação elevada como ainda mais proeminente e alguns participantes consideraram que os riscos para o mercado de trabalho se tornaram predominantes”, diz o texto.
De acordo com a ata do Fomc, as autoridades do Fed “concordaram que continua sendo apropriado adotar uma abordagem cuidadosa no ajuste da política monetária”.
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Comunicado já indicava cautela
Junto à decisão de política monetária, após o anúncio da manutenção dos juros no dia 18 de junho, o Fed divulgou o comunicado que embasou a posição do comitê.
“Ao considerar a extensão e o momento de ajustes adicionais à meta para a taxa básica de juros, o comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o equilíbrio de riscos. O comitê continuará reduzindo suas posições em títulos do Tesouro, títulos de dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências. O comitê está fortemente comprometido em apoiar o emprego máximo e retornar a inflação à sua meta de 2%”, afirmou o Fed no comunicado.
“Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance das metas do comitê”, prosseguiu o comunicado.
“As avaliações do comitê levarão em consideração uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, além de desenvolvimentos financeiros e internacionais.”
No documento, o Fed disse ainda que, “embora as oscilações nas exportações líquidas tenham afetado os dados, indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir a um ritmo sólido”.
“A taxa de desemprego permanece baixa e as condições do mercado de trabalho permanecem sólidas. A inflação permanece relativamente elevada”, diz a autoridade monetária.
“O comitê busca atingir o máximo de emprego e inflação a uma taxa de 2% no longo prazo. A incerteza quanto às perspectivas econômicas diminuiu, mas permanece elevada. O comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato”, concluiu o Fed.
Inflação
A taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Segundo o Departamento do Trabalho, o Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação oficial no país, ficou em 2,4% em maio, na base anual, uma leve alta em relação aos 2,3% registrados em abril. Na comparação mensal, o índice foi de 0,1%, ante 0,2% em abril.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.
Nas últimas semanas, diretores do Fed indicaram que o BC norte-americano poderia avaliar o início do ciclo de queda dos juros já a partir da próxima reunião do Fomc. Falando recentemente na Câmara dos Deputados e no Senado dos EUA, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, adotou um discurso bem mais comedido.
“Nós ainda não vimos muitos efeitos das tarifas, mas não esperávamos que elas se manifestassem neste momento”, afirmou Powell, na ocasião. “Estamos esperando uma inflação um pouco maior no verão, mas ela pode aumentar ou diminuir mais rápido do que o previsto. Ela pode vir mais tarde ou mais cedo do que esperávamos.”