Depois de tomar uma surra no Congresso, que revogou o aumento do IOF, Lula e o PT resolveram apostar no discurso de ricos contra pobres, de nós contra eles. No discurso divisional da esquerda.
Não importam a falsidade retórica ou o oportunismo eleitoreiro que os leva a apostar em tal discurso, Lula e o PT estão fazendo o certo, ao contrário do que pensam os colegas da imprensa.
Eles estão preocupados com a possibilidade de o estratagema vir a ter efeito contrário ao pretendido e acabar por sepultar a chance de o presidente da República e o seu partido serem vitoriosos na eleição de 2026.
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Lula e o PT estão fazendo o certo, repito, e deveriam continuar nesse caminho, independentemente dos motivos de ocasião, porque eles são de esquerda e até de extrema esquerda, ora bolas.
Entre as várias jabuticabas criadas no Brasil, temos também esta: a de um partido de esquerda que se obriga a fingir que não é ou que é só um pouquinho, vai.
A hipocrisia, o engano, a tapeação, começaram em 2002, com aquela “Carta ao Povo Brasileiro”, escrita em parceria com o empreiteiro Emílio Odebrecht, como soubemos graças à Lava Jato.
Lula vestiu pele de cordeiro para conquistar a relativa confiança do mercado, atrair os eleitores moderados e dar fim a uma série de derrotas eleitorais nos pleitos presidenciais.
O resultado é que, desde então, ele e o seu partido ficaram aprisionados na pele que esconde muito mal os seus verdadeiros instintos canídeos.
Esses instintos são incontornáveis: Lula e os seus companheiros de PT desprezam o capitalismo, o que nem de longe significa ter aversão ao próprio enriquecimento pessoal. Lula e os seus companheiros de PT acham que escorchar a classe média é o suprassumo da justiça social. Lula e os seus companheiros de PT estatizariam até casas de tolerância. Lula e os seus companheiros de PT admiram ditaduras socialistas.
Se fosse possível, o ódio ao mercado financeiro os faria levar ao paredón todos os financistas, assim como ódio à liberdade de imprensa os faria prender os poucos jornalistas não aderentes à sua ideologia.
É preciso dar uma basta à mentira de tentarem parecer o que não são. O presidente da República e o seu partido são de esquerda, até de extrema esquerda, e essa é a condição que deveria ser assumida integralmente por eles, durante todo o tempo, da mesma forma que o fazem os seus congêneres americanos e franceses.
Se vão ganhar ou perder eleição por causa disso, que assim seja, porque a política precisa de um mínimo de verdade, se é que ainda almejamos atingir algum grau de transparência. Chega de ludibriar os brasileiros. Polícia é polícia, bandido é bandido, esquerda é esquerda, direita é direita.