Setor estratégico para a economia brasileira e que vem impulsionando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos, o agronegócio pode ser um dos segmentos mais afetados pelo novo tarifaço comercial anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nessa quarta-feira (9/7).
O republicano informou que, a partir do dia 1º de agosto, novas tarifas comerciais de 50% serão aplicadas sobre todos os produtos exportados pelo país aos EUA. As taxas serão cobradas separadamente de tarifas setoriais, como as que atingem o aço e o alumínio brasileiros.
Em abril deste ano, o Brasil já havia sido atingido pelo tarifaço de Trump e teve seus produtos taxados em 10%. Além disso, as taxas norte-americanas de 50% sobre aço e alumínio também afetaram o país.
De acordo com Trump, a decisão de aumentar as tarifas contra o Brasil acontece após “ataques insidiosos” contra eleições livres no país. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Trump voltou a criticar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de tentativa de golpe de Estado em 2022.
Trump tem ameaçado o mundo com a imposição de tarifas comerciais desde o início do mandato e tem dado atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil. O presidente norte-americano chegou a ameaçar taxas de 100% aos países-membros do bloco que não se curvassem aos “interesses comerciais dos EUA”.
Após sair em defesa de Bolsonaro, Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre exportações brasileiras. Nessa quarta-feira (9/7), o líder norte-americano alegou que o Brasil não está “sendo bom” para os EUA.
Leia também
-
Dólar alto, inflação e incerteza: o que o mercado espera do tarifaço
-
Apertem os cintos: dólar dispara com tarifaço de Trump contra o Brasil
-
Dólar dispara a R$ 5,50 e Bolsa derrete após Trump ameaçar o Brasil
-
Brasil usará Lei da Reciprocidade contra tarifaço de Trump. Entenda
O impacto no agro
Um dos mais competitivos do mundo, o agronegócio brasileiro concorre diretamente com os EUA, especialmente nos mercados de produtos como soja e algodão. Em outras cadeias comerciais, os dois países são parceiros.
Atualmente, os EUA são o segundo maior destino das exportações brasileiras do agro, de acordo com dados do Ministério da Agricultura e Pecuária. No ano passado, foram exportados 9,4 milhões de toneladas, com uma receita total de cerca de US$ 12 bilhões.
Os EUA também são o segundo maior parceiro comercial do agronegócio do Brasil – perde apenas para a China. Em 2024, a participação norte-americana no volume total das exportações do setor saltou de 5,9% para 7,4%.
Carne
Um dos maiores focos de preocupação, para o agro brasileiro, envolve as exportações de carne bovina. Entre janeiro e março de 2025, o país exportou 181,4 mil toneladas do produto aos EUA, o que representou um volume financeiro de mais de US$ 1 bilhão.
Por meio de nota, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) disse que as tarifas são um “entrave ao comércio internacional” e impactam “negativamente o setor produtivo da carne bovina”.
A entidade afirmou ainda que questões geopolíticas não podem se transformar “em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”.
Suco de laranja
Outro setor importante para o agro brasileiro e as exportações do país é o de suco de laranja. Os EUA são os principais clientes do Brasil também nesse segmento.
Segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), em abril deste ano, quando o governo Trump anunciou uma tarifa adicional de 10% sobre produtos brasileiros, a estimativa era de um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão por ano em exportações.
A entidade estimou, na ocasião, que o setor teria custos adicionais de R$ 585 milhões por ano, levando em consideração uma projeção de 235,5 mil toneladas exportadas aos EUA por ano.
Entre janeiro e maio de 2025, segundo dados do Ministério da Agricultura, o Brasil exportou 570 mil toneladas de suco de laranja para os EUA, somando US$ 692,2 milhões.
Açúcar
Outro segmento que deve sofrer com o tarifaço anunciado por Donald Trump contra o Brasil é a indústria do açúcar, que também tem os EUA como um de seus principais clientes. A região Nordeste é forte nesse tipo de produto.
Hoje, as empresas do setor possuem uma cota de 150 mil toneladas por safra, determinada pelos EUA, com rendimento médio de R$ 600 milhões. Os representantes dessa indústria entendem que a nova taxação norte-americana pode prejudicar fortemente as exportações e afetar os empregos. Atualmente, os EUA têm demanda por açúcar estrangeiro, já que o país não é autossuficiente.
Nos cinco primeiros meses deste ano, o setor sucroalcooleiro do Brasil exportou 322,9 mil toneladas aos EUA, movimentando US$ 210,7 milhões.