A Justiça de São Paulo aceitou nesta terça-feira (22/7) a denúncia do Ministério Público contra Augusto Melo e mais cinco denunciados na investigação a respeito de irregularidades no contrato firmado entre a empresa de apostas Vai de Bet e Corinthians. Agora os seis investigados são considerados réus.
Augusto Melo, Marcelo Mariano dos Santos, Sérgio Lara Muzel de Moura, Alex Fernanda André respondem pelos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Vitor Henrique de Oliveira Shimada e Ulisses de Souza Jorge responderão apenas pelo último delito.
Em nota, a defesa de Augusto Melo afirmou que vai pedir os habeas corpus necessários com o objetivo de fulminar esse processo “kafkiano e ilegal”. Além disso, diz que os advogados já pediram que a investigação recaia sob a Policia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal (MPF) e que uma investigação defensiva está em curso e que “comprovará a inocência do presidente legitimamente eleito do Corinthians”.
Por fim, o posicionamento afirmou que Augusto Melo segue confiante “de que a verdade prevalecerá e reitera “seu compromisso com a retomada da organização financeira do clube, que sofreu grande retrocesso desde que ele foi retirado do cargo por seus adversários políticos”.
Desvio para dívidas
Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) no dia 10 de julho, o dinheiro desviado do Corinthians durante a negociação de patrocínio entre o clube e a Vai de Bet era destinado para o pagamento de “prejuízos e dívidas assumidas na campanha” do presidente afastado Augusto Melo.
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Osmar Stábile, à direita, assume a presidência do Corinthians interinamente.
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Augusto Melo também é investigado
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Impeachment de Augusto Melo será votado nesta segunda-feira (26/5)
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Presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo
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Conselho Deliberativo do clube aguarda fim das investigações.
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Augusto Melo foi afastado na última segunda-feira (26/5)
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Augusto Melo é alvo de processo de impeachment por caso Vai de Bet.
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Augusto Melo é alvo de processo de impeachment por caso Vai de Bet.
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O empresário Augusto Melo, candidato à presidência do Corinthians
Divulgação
O Ministério Público acredita que o esquema criminoso gerou um prejuízo que ultrapassa os R$ 40 milhões ao clube da zona leste de São Paulo. Nessa conta, a promotoria também incluiu o valor da rescisão com a antiga patrocinadora do clube alvinegro, também do ramo de apostas.
Pedido de indenização
Para o pagamento do prejuízo gerado ao Corinthians, no valor de R$ 40 milhões, o Ministério Público pediu que os denunciados paguem a mesma quantia à instituição.
Além disso, para que o valor seja pago em caso de determinação judicial, o Ministério Público também solicitou o sequestro de bens e valores dos denunciados no valor de R$ 40 milhões.
Veja a relação das pessoas físicas e jurídicas mencionadas no confisco dos bens:
- Rede Social Media Design;
- ACJ Plataform;
- Carvalho Distribuidora;
- Thabs Soluções Integradas;
- Wave Intrmediações e Tecnologias;
- Victory Trading Intermediação;
- UJ Football Talent;
- UJ Holding Patrimonial E Investimentos;
- Augusto Pereira De Melo;
- Marcelo Mariano Dos Santos;
- Sérgio Lara Muzel De Moura;
- Alex Fernando André;
- Victor Henrique De Oliveira Shimada;
- Ulisses De Souza Jorge.
O que dizem as defesas
Ao Metrópoles, a defesa de Augusto Melo, chefiada por Ricardo Jorge, afirmou que o trecho da denúncia que cita os desvios de dinheiro para o pagamento de dívidas de campanhas e enriquecimento próprio “não se sustenta diante dos fatos”.
O advogado diz que não havia dívida financeira relacionada a campanha de Augusto Melo à presidência do Corinthians visto que o processo eleitoral foi marcado “pela simplicidade e pelo engajamento espontâneo dos seus apoiadores”.
“Tratou-se de uma candidatura modesta, sustentada basicamente pela arrecadação voluntária das chapas aliadas e de corintianos comprometidos com a mudança. Portanto, a tese de que haveria desvio de verba para quitar compromissos eleitorais cai por terra diante da própria realidade financeira da campanha”, diz a defesa.
Os advogados terminam dizendo que o contrato firmado entre Vai de Bet e Corinthians passaram pelos trâmites institucionais do clube. “Nada foi feito à margem da administração regular, tampouco de forma clandestina”.
“A tentativa de associar a imagem do presidente a um suposto enriquecimento ilícito revela mais uma intenção política do que uma busca genuína pela verdade”.
Já a defesa da empresa UJ Footbal Talent e do respectivo sócio Ulisses De Souza Jorge afirmou que estão “estarrecidos” e que repudiam a acusação do Ministério Público (MPSP).
Segundo a equipe de advogados, chefiada por Daniel Leon Bialski, Ulisses nunca foi chamado ou convocado a prestar esclarecimentos sobre os fatos, o que na visão dos defensores “evidencia o quão absurda é essa imputação”.
A nota de defesa ainda finaliza definindo a denúncia como arbitrária e que irá se manifestar na Justiça.
Dívidas de campanha teriam resultado em ameaça de morte
O Metrópoles também obteve o inquérito policial a respeito do caso. O documento cita que Augusto Melo teria sido ameaçado de morte por um agiota da zona leste de São Paulo, por conta de dívidas acumuladas das campanhas eleitorais para a presidência do Corinthians em 2020 e 2023.
As ameaças foram apresentadas ao Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) da Polícia Civil em uma denúncia anônima, em dezembro de 2024. No documento, o denunciante diz que Augusto Melo recebeu muitas doações nas duas campanhas eleitorais, dando a entender que os doadores seriam “empresários de jogadores de base; esse monte de MC; um empresário com atuação no futebol do time de São Bernardo do Campo, laboratório EMS, de Campinas; e um doleiro do Tatuapé”.
Segundo o inquérito policial, a denúncia diz que as doações foram tratadas como “dívidas” e foi asseverado que um agiota da zona leste paulistana estaria no “encalço de Augusto”, ameaçando-o de morte, caso o valor não fosse pago.
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Outra parte da carta denunciante se refere ao mandatário afastado e ao seu grupo dizendo que “agora ele teria que pagar tudo o que havia recebido nas duas campanhas [2020 e 2023]. Se não pagar já sabe como os caras fazem”.
A carta ainda diz que Augusto Melo teve que usar colete a prova de balas em algumas ocasiões na zona leste porque o agiota que estava lhe ameaçando disse que iria lhe matar se não pagasse a dívida.
Em nota, a EMS informou que não tem relação com o Corinthians.
Indiciamento
A denúncia do MPSP vem após a Polícia Civil de São Paulo indiciar o presidente afastado do Corinthians, os ex-dirigentes Marcelo Mariano e Sérgio de Moura, o empresário Alex Cassundé e Yun Ki Lee, ex-diretor jurídico do clube alvinegro. Os quatro primeiros foram indiciados por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Já Yun Ki Lee foi autuado por omissão imprópria. O ex-diretor jurídico teve inquérito arquivado pelo Ministério Público.
Segundo o inquérito, o contrato entre Vai de Bet e Corinthians não foi intermediado por Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design Ltda, conforme havia sido informado nos trâmites da negociação. A constatação foi feita a partir de algumas inconsistências nos depoimentos dos envolvidos, principalmente sobre o encontro que apresentou o mandatário afastado do Corinthians e Alex Cassundé.
O relatório policial aponta que os verdadeiros intermediadores do contrato firmado entre as duas partes, no valor de R$ 360 milhões foram Antônio Pereira dos Santos (conhecido como Toninho), Sandro dos Santos Ribeiro e Washington de Araújo Silva. “Isso nos está muito claro”, escreve a autoridade policial no inquérito.
O esquema criminoso, segundo a polícia, envolveu outras empresas laranjas Wave Intermediações, UJ Football e Victory Trading Intermediação.
Impeachment
- Augusto Melo foi afastado do cargo de presidente do Corinthians depois do Conselho Deliberativo do clube aprovar, por 176 votos a 57 , o impeachment do mandatário.
- Uma segunda votação, agora com votos do quadro associativo do clube, está marcada para agosto para decidir o afastamento definitivo ou não de Augusto Melo.
- Com a saída de Augusto Melo, quem assumiu a presidência do Corinthians de forma interina foi o primeiro vice-presidente, Osmar Stabile.
O que diz a defesa de Augusto Melo sobre denúncia
Em nota, a defesa de Augusto Melo, chefiada pelo advogado Ricardo Jorge, afirmou que recebeu a denúncia sem surpresa, visto que “uma investigação tão prolongada, mantida ativa por tanto tempo, apontava para o oferecimento de denúncia como desfecho natural, ainda que previsível”.
Apesar de já esperar o movimento da promotoria, o advogado disse que a denúncia carece de clareza e objetividade.
“Não há uma descrição cronológica coesa dos fatos que permita compreender, de forma técnica e precisa, qual seria a conduta delituosa imputada ao presidente.”
Além disso, definiu o documento como uma narrativa genérica e pouco fundamentada. Por fim, os advogados disseram que confiam “que a verdade será restabelecida no curso do processo, com o devido respeito aos direitos e garantias constitucionais do presidente Augusto Melo”.
O Metrópoles não localizou a defesa dos demais denunciados.
Quem é Augusto Melo
- Augusto Pereira de Melo nasceu em 28 de janeiro de 1964 em Itambé, no Paraná.
- Ele se mudou para São Paulo ainda jovem e mora na zona leste da cidade.
- Augusto é empresário no setor têxtil e também é proprietário de quadras esportivas e estacionamentos.
- É sócio do Corinthians há cerca de 40 anos.
- Foi conselheiro do clube entre 2012 e 2017.
- Augusto também foi assessor da base do futebol do Corinthians durante a gestão de Roberto de Andrade, quando a base conquistou Mundial Sub‑17 (2015), Taça BH (2015) e Copa do Brasil Sub‑17 (2016).
- Em 2018, foi candidato a 2º vice na chapa “Corinthians Mais Forte” e ficou em 3º lugar com 803 votos.
- Em 2020, concorreu à presidência do clube e recebeu 939 votos, ficando em 2º lugar, perdendo para Duílio Monteiro Alves, que teve 1081 votos.
- Em 2023, candidato à presidência novamente; venceu com 2771 votos contra 1413 do segundo colocado.