50% ama. 50% odeia. Uns 10% de cada lado padecem de cegueira crônica. São incapazes de enxergar qualquer defeito em seus amados – seja Lula, seja Bolsonaro. Vivem em negação.
A diferença é que um é valente. Encarou 500 dias de cadeia, ainda que nada além de “tudo-indica” tenha sido provado contra ele. O outro nem tanto. Veste com perfeição a clássica farda dos “mia-pra-cima-late-pra-baixo”. Tá mais pro Kgão.
Em cima do palanque, o primeiro, honra seja feita, desde o começo de sua história pública, nos idos dos tristes anos 70, pede parceria por igualdade e justiça social. Coisa de “comunista”, que lhe rende a rejeição de 50% dos brasileiros apegados ao velho mundo da distância social – quem não tem pão que coma brioches. Deixa tudo como está que “pra nóis” tá bom demais. O “comunista”, em depoimento, encarou altivo o juiz parcial.
O outro, o do pijama-farda, no palanque, desde muito, late inclusive palavrões. Diante do juiz miou desculpas. Até alegou que propósitos antidemocráticos, berrados em praça pública, eram apenas jogo de cena do seu jeito brusco de ser e falar. Complementou que está “mudando isso”. O juiz sorriu. 50% do país também. Jura? Pensamos.
É grande a distância no percentual de caráter de um e de outro.
Entre os dois, pintou um Laranja-Cocô-de-Bebê que, eleito no tal maior país do mundo, decidiu tomar partido do Kgão. Boca torta pelo uso do cachimbo autoritário, primeiro ameaçou, depois mandou tarifa de 50% sobre os produtos importados do país. O que, a ser cumprido em agosto, de alguma forma, alcançará 100% dos brasileiros. Gente das todas as vertentes de pensamentos, atitudes e dinheiro – os bons, os nem tanto, os ruins. Sentindo-se protegido, o Kgão, celebra. Que se lasquem todos! Que se lasque o país! Importa que eu escape da cadeia pelos crimes descritos pela PGR.
1. Organização criminosa armada
2. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
3. Tentativa de Golpe de Estado
4. Dano qualifica ao património público
5. Deterioração do patrimônio tombado
Não é coisa pouca. Pode render mais de 40 anos de cana, se o resgate não colar. (E o Laranjão diz que “nem amigo do Kgão é” …)
Porcentagens nem mais nos assustam. Conhecemos parlamentares batizados de 30%. Taxa que obrigatoriamente caia no bolso dos tais pela facilitação de dinheiro público para obras.
Igualmente famosas são as “tarifas” das “rachadinhas” – divisão com os patrões da grana pública de pagamentos a funcionários contratados. Os patrões são senhores eleitos com voto de nós toda/os para os cargos de vereador, deputado estadual ou federal e outros. A divisão aí é mais gulosa, pode chegar até perto dos 90%. A grana é sempre nossa – dos pagadores de impostos.
Vez por outra, a rachadinha deixa rastro. Democraticamente, já alcançou do então deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, a outros que lhe fazem oposição, como o deputado Janones (Avante/MG).
Processado, Janones admitiu “o erro”. Neste ano, está obrigado a devolver 131 mil reais aos cofres da Câmara Federal.
Caso mais antigo, o de Flavio Bolsonaro segue no livro de apurações não concluídas. Culpa do Queiroz, lembra? O que acontece no Rio de Janeiro, fica no Rio de Janeiro.
100% dos brasileira/os sabem da existência de muitos percentuais que nos são tomados dia sim, outro também. O rombo/roubo dos aposentados do INSS ainda nem foi pra cova.
O que não imaginávamos é, um dia, ver cobrado resgate aviltante do governo americano pela absolvição de um brasileiro réu por tentativa de golpe de Estado.
99% dos brasileira/os sabem: não há razão econômica que justifique o tarifaço Trump sobre a importação de produtos brasileiros. Capitaneados pelo ex-presidente réu, 1% tem aplaudido. Pode ser que esses acabem ficando isolados, com a brocha na mão. Quem sabe?
Lula, o presidente que reagiu à chantagem do Laranjão, ganha apoio de empresários – brasileiros e americanos – e mais popularidade.
61% dos brasileiros, em pesquisa Atlas, de ontem, avaliam que Lula representa melhor o país do que Bolsonaro. Toma!
O Laranjão passou do ponto aos olhos a maioria – daqui e mundo afora. Pode ser que consiga o impensável: juntar uma população, até ontem, dividida ao meio e quase irreconciliável.
O feitiço, às vezes, acaba virando contra o feiticeiro.
Tânia Fusco jornalismo