Incompatível com o universo de luxo exibido nas propagandas usadas para atrair e enganar potenciais vítimas de tráfico humano, a realidade imposta às mulheres capturadas pelo esquema brasileiro de exploração sexual era cruel.
A coluna conversou com o delegado José Roberto Peres, superintendente da Polícia Federal (PF) na capital da República. Segundo ele, as vítimas eram submetidas a um cenário “degradante”.
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O princípio da descoberta
O caso só chegou ao conhecimento da polícia em 2024, quando uma das jovens vítimas do esquema conseguiu escapar do cenário insalubre e, após dias em fuga, retornou ao Brasil.
Traumatizada, ela procurou a polícia e denunciou a rede criminosa. “Ela relatou que foi à Europa a convite para trabalhar e, ao chegar lá, foi surpreendida pela forma como foi submetida à exploração sexual”, contou o delegado.
A partir desse depoimento, os investigadores reuniram provas que permitiram iniciar uma ofensiva para desarticular a organização criminosa.
Durante a apuração, a Polícia Federal descobriu detalhes sombrios sobre a atuação da quadrilha.
Ameaçadas e violadas
De acordo com o superintendente José Roberto Peres, ao chegarem à Europa, as jovens eram submetidas a condições de trabalho análogas à escravidão.
“Elas tinham seus documentos retidos e eram obrigadas a cumprir jornadas exaustivas, completamente diferentes daquilo que havia sido prometido”, relatou. Indefesas em um continente desconhecido, as mulheres, com idades entre 18 e 24 anos, ficavam à mercê dos cafetões.
“Não é diferente de outros casos. Há, inclusive, o questionamento de como isso ainda acontece em um mundo com tanta facilidade de comunicação. Porém, normalmente, estamos falando de pessoas que estão em outro país, sem falar o idioma”, explicou.
Segundo o delegado, esses fatores mantêm as vítimas presas aos seus algozes, mesmo quando querem fugir. “Lá, elas não têm qualquer rede de apoio. Com a barreira do idioma, os documentos retidos e um ambiente hostil, acabam totalmente vulneráveis e dependentes desses grupos”, afirmou.
Ele ainda detalhou que o direito de comunicação não era retirado completamente, mas ocorria de forma controlada. “Todos os fatores vão se somando: a dificuldade com a língua, a retenção dos documentos, o assédio moral constante. É um processo de manipulação que vai fragilizando a vítima dia após dia”, concluiu.
BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto
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Cafetina-chefe atrás das grade
Na noite desta terça-feira (15/7), a mulher apontada como cafetina responsável por operar o esquema de exploração sexual foi presa em São Paulo (SP) após um dia intenso de ações da operação.
“Além da prisão, recolhemos materiais como celulares e computadores em alguns endereços. Dependendo do que for encontrado, a investigação pode se aprofundar ainda mais. Neste momento, estamos avaliando os elementos apreendidos”, explicou o superintendente José Roberto Peres.
Segundo o delegado, o esquema não começou recentemente, apesar de ter sido descoberto apenas no ano passado, quando a primeira denúncia foi formalizada. “Até a data de ontem, esse grupo seguia ativo. Além disso, outras situações foram constatadas ao longo da investigação”, afirmou.
A Polícia Federal informou que a apuração segue sob sigilo para não comprometer os próximos passos da operação.
Divulgação/PF
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