Enquanto aumentam sua presença ao redor do mundo de forma silenciosa, grupos extremistas driblam, com habilidade, o sistema financeiro internacional e autoridades para movimentar o dinheiro que paga os custos de atividades e ataques terroristas.
Terrorismo em 2024
- No último ano, 3.492 incidentes terroristas foram registrados em 66 países diferentes.
- De acordo com o relatório Global Terrorism Index, o Estado Islâmico (ISIS) ainda é o grupo que mais aterroriza o mundo, apesar das derrotas na Síria e Iraque. A organização jihadista foi responsável por 1.805 das 7.555 mortes registradas ao redor do mundo em ataques.
- Atualmente, o epicentro do terrorismo mundial está localizado no continente africano. O foco principal são países que abrangem a faixa do Sahel, que enfrentam instabilidade e um histórico de golpes e guerras.
A última estimativa é de que US$ 11,5 bilhões tenham sido movimentados em 2023 em financiamento a atividades terroristas. O dinheiro, segundo relatório do segundo maior mercado de ações dos Estados Unidos, Nasdaq, foi utilizado em ações como treinamento, mobilização, radicalização, compra de armas e execução de ataques.
O controle de territórios ainda continua sendo a principal forma de organizações extremistas arrecadarem fundos. Isso porque, após se instalarem em regiões, tais grupos passam a ter o controle sobre ativos e recursos naturais que antes estavam nas mãos do Estado. Além disso, atividades criminosas como o tráfico de drogas e de humanos, sequestros e extorsão são outros métodos mais comuns de financiamento.
Nos últimos anos, porém, games, vaquinhas virtuais e redes sociais para movimentar fundos que sustentam o terrorismo. É o que mostra o último relatório do Grupo de Ação Financeira Internacional (FATF), órgão que atua no combate a lavagem de dinheiro e ao financiamento de atividades terroristas.
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Games
De acordo com o relatório, plataformas e jogos on-line se tornaram um novo espaço onde extremistas não só disseminam propaganda e buscam novos membros, como também movimentam e lavam dinheiro.
Ainda que jogos não permitam transferências de altos valores, eles são lucrativos para o terrorismo por outros meios.
Uma delas são transferências, em dinheiro ou outros ativos, realizadas dentro dos próprios jogos. Além disso, fundos podem ser movimentados através de games que oferecem opções de chat, seja por voz ou texto, que acabam sendo não só uma ferramenta de recrutamento ou incitação de ataques, como também um meio para pedidos de doações.
Outra prática utilizada por grupos terroristas é a venda de jogos, como o game Special Force, lançado no início da década de 1990 pelo Hezbollah. Nele, o jogador assume o papel de um combatente do grupo libanês e enfrenta missões que remetem a combates reais contra forças de Israel.
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O jogo Special Forces foi lançado no início da década de 2000
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O game, desenvolvido e divulgado pela ala tecnológica do Hezbollah, simula batalhas contra israelenses
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Vaquinhas
Campanhas de financiamento coletivo — popularmente conhecidas como vaquinhas —, também têm exercido um papel no financiamento do terrorismo global. Geralmente, o crowdfunding para fins terroristas não são explícitos, mas trazem elementos, como frases ou termos específicos, que as ligam a grupos extremistas.
Tal modalidade de arrecadação de fundos impõe alguns desafios para autoridades, que enfrentam dificuldades em obter informações sobre a origem do dinheiro, o fluxo, a identificação dos beneficiários finais ou em provar a ligação das doações com o terrorismo.
Pesquisadores ainda identificaram que muitas vaquinhas são “camufladas”, com o pretexto de levantar verbas para causas humanitárias inexistentes, ou têm suas doações desviadas para fins extremistas.
No último ano, um esquema semelhante foi revelado na Nigéria. Por meio de campanhas de arrecadação coletiva, o Povos Indígenas do Biafra (IPOB) arrecadou mais de US$ 160 milhões, usados posteriormente em atividades de propaganda que vão ao encontro aos objetivos do grupo: a independência do sudeste nigeriano.
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Redes sociais
As vulnerabilidades nas redes sociais já vinham sendo exploradas por grupos terroristas desde o início da década de 2010, com foco na propagação de ideias extremistas e no recrutamento. Essas atividades ainda continuam sendo observadas em plataformas como Facebook, Twitter, WhastApp, TikTok, entre outras.
Em 2024, um jovem brasileiro foi condenado a sete anos de prisão por terrorismo e cooptação de menores, após a Polícia Federal (PF) descobrir um esquema onde o recrutamento e o planejamento de ataques era feito por meio do aplicativo de mensagens instantâneas Telegram.
Contudo, a implementação da monetização de algumas redes sociais abriu uma nova frente para grupos terroristas. Seja por superchats no YouTube durante lives ao vivo, ou da ferramenta Tips do X, que permite usuários verificados a publicarem links para o recebimento de dinheiro ou criptomoeda, ou outros meios, ativos têm circulado pelo mundo das plataformas digitais.
Além disso, as redes sociais possuem ligação direta com outros meio de financiamento ao terrorismo, como a divulgação de jogos ou campanhas de arrecadação coletivas.