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    Como negociar com Trump se ele não quer negociar?

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    Você só negocia com quem quer negociar. Se do outro lado da mesa não tiver ninguém, sua disposição ao entendimento dará em nada. Sei disso porque sou pai e avô. E a partir de certa idade, filhos e netos só fazem o que eles querem.

    Não ajudei a formá-los para que dissessem amém a todas as minhas vontades. Bolsonaro, por exemplo, criou os filhos para que obedecessem a ordens de comando. Basta apitar e eles logo perfilam e batem continência. São infelizes e talvez não saibam.

    Meu neto David, de dois anos e meio, diz não a tudo. “Está na hora ir dormir” – não. “Vamos almoçar” – não. “Quer jogar bola?” – não. Descobri que com ele só funciona o contrário. “Você não vai dormir agora” – então ele vai. “Não quero beijo” – ele me dá.

    Lula está sob pressão para que negocie com Trump ao invés de enfrentá-lo no caso do tarifaço e de sua intervenção descabida nos assuntos internos do Brasil. Lula está ficando ainda mais rouco do que é de tanto proclamar sua disposição ao diálogo.

    Ontem mesmo, Lula afirmou:

    “Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações”.

    Desde maio, quando o tarifaço aplicado por Trump ao Brasil era de 10%, repousa numa gaveta da Casa Branca a proposta detalhada de Lula para dar início às negociações. Não houve resposta. Ou melhor: a resposta foi o aumento da taxação para 50%.

    A resposta foi a série de declarações de Trump a favor de Bolsonaro, que ele diz não ser seu amigo. Em carta a Lula via redes sociais, Trump escreveu que “deve parar IMEDIATAMENTE” no Supremo Tribunal Federal o julgamento de Bolsonaro.

    Em carta agora endereçada a Bolsonaro, Trump escreve:

    “Tenho visto o tratamento terrível que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto que se voltou contra você. Este julgamento deve terminar imediatamente! Não estou surpreso em ver você liderando as pesquisas; você foi um líder altamente respeitado e forte que serviu bem ao seu país”.

    Na carta a Lula, Trump mentiu ao dizer que é deficitária para os Estados Unidos a relação comercial com o Brasil. Na carta a Bolsonaro, voltou a mentir ao dizer não estar surpreso em vê-lo liderar as pesquisas de intenção de voto para presidente em 2026.

    O que Lula tem a ver com o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe, abolição violenta da democracia, organização criminosa e danos ao patrimônio público e a bens tombados? Nada. O Judiciário é um Poder autônomo, segundo a Constituição.

    É de supor que a Suprema Corte dos EUA também seja. Dos atuais juízes, três foram nomeados por Trump, três por presidentes Republicanos como ele, e três por presidentes Democratas. A política desempenha um papel importante nas nomeações.

    Não se fala de corda em casa de enforcados. Mas Trump fala porque ele não tem compromisso com a realidade. Bolsonaro, que o copia, também não tem. Muito menos seus filhos amestrados. Eduardo agradeceu o reiterado apoio de Trump ao seu pai:

    “Obrigado, Sr. Presidente. Sem seu apoio, o Brasil não só estaria condenando Jair Bolsonaro, como também jogando o país em uma aventura semelhante à da narcoditadura de Maduro na Venezuela”.

    Chega de complexo de vira-lata!

     

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