O Ministério da Defesa cambojano informou que 13 pessoas morreram e outras 71 ficaram feridas no país. A Tailândia, por sua vez, contabilizou 20 mortos em seu território, incluindo seis soldados.
O conflito sobre a demarcação da fronteira comum é antigo, mas essa escalada da violência, iniciada na quinta-feira (24/7), é a pior em mais de um década. Os confrontos envolvem aviões de combate, tanques, tropas terrestres e artilharia.
O número total de mortos já supera o da última onda de violência entre os dois países, que deixou 28 mortos entre 2008 e 2011. Os combates começaram nas imediações de templos centenários e se espalharam ao longo da fronteira, que inclui uma longa cadeia de colinas cobertas por vegetação, cercadas por selva e plantações de borracha, arroz e alho.
Ambos os lados relataram combates por volta das 5h da manhã (22h de sexta-feira, no horário de Brasília) na região costeira. Phnom Penh acusou as forças tailandesas de dispararem “cinco projéteis de artilharia pesada” em vários pontos da província de Pursat, que faz fronteira com a Tailândia.
Situação continua tensa
Os combates atingiram novas regiões na manhã deste sábado. Confrontos foram registrados na província costeira tailandesa de Trat e na província cambojana de Pursat. Esse novo foco de conflito está localizado a mais de 100 km dos outros pontos de tensão ao longo da fronteira disputada.
Um morador tailandês refugiado em um abrigo na província de Sisaket, a cerca de 10 km da fronteira, também relatou o barulho dos canhões. “Só quero que isso acabe o mais rápido possível”, declarou Sutian Phiewchan à agência de notícias AFP.
O músico cambojano Visal, entrevistado pela correspondente da RFI Juliette Buchez, também espera uma solução pacífica. “Tenho vários amigos tailandeses. É triste porque, nessa situação, sentimos a necessidade de proteger nosso próprio país. Espero que nossos dois países ainda possam encontrar uma solução pacífica e que possamos retomar a amizade de antes”, declarou.
Os confrontos forçaram mais de 138 mil pessoas a deixarem regiões tailandesas próximas à fronteira, enquanto, no Camboja, mais de 35 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas.
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Reunião de emergência do Conselho de Segurança
Após uma reunião a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU, realizada na sexta-feira em Nova York, o embaixador cambojano nas Nações Unidas, Chhea Keo, declarou que seu país deseja um cessar-fogo.
“O Camboja pediu um cessar-fogo imediato e incondicional, e também apelamos por uma solução pacífica para o conflito”, disse ele à imprensa.
Já o ministro das Relações Exteriores da Tailândia, Maris Sangiamposa, desejou neste sábado que o Camboja demonstre “sinceridade genuína para encerrar o conflito”. “Peço ao Camboja que pare de violar a soberania tailandesa” e que retome o “diálogo bilateral”, declarou o ministro à imprensa.
Na sexta-feira, antes da reunião na ONU, a Tailândia afirmou estar aberta a negociações, com a Malásia como possível mediadora. A Malásia atualmente preside a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), da qual Tailândia e Camboja são membros.
Ambos os lados se acusam mutuamente de terem iniciado os disparos. A Tailândia afirma que o Camboja atacou infraestruturas civis, incluindo um hospital e um posto de gasolina, o que Phnom Penh nega. Já o Camboja acusa as forças tailandesas de usarem munições de fragmentação.
O ex-primeiro-ministro tailandês Thaksin Shinawatra, figura influente no país, visitou neste sábado vários abrigos para se encontrar com pessoas deslocadas. “O Exército precisa concluir suas operações antes que qualquer diálogo possa acontecer”, declarou Thaksin à imprensa.
Escalada no conflito
Esses combates representam uma escalada significativa no conflito sobre a fronteira comum de 800 quilômetros entre Camboja e Tailândia. Os dois países contestam o traçado da fronteira, definido na época da Indochina francesa.
Uma decisão da Corte Internacional de Justiça da ONU, em 2013, havia resolvido a disputa por mais de uma década. No entanto, a crise atual começou em maio, quando um soldado cambojano foi morto durante uma troca de tiros noturna na chamada “Zona do Triângulo de Esmeralda”.
As relações entre Bangkok e Phnom Penh se deterioraram ainda mais no mês passado, quando o ex-primeiro-ministro cambojano Hun Sen divulgou uma gravação com declarações da então primeira-ministra tailandesa, Paetongtarn Shinawatra, sobre a disputa territorial.
O vazamento provocou uma crise política na Tailândia. As declarações da líder, filha de Thaksin, foram interpretadas como um desrespeito aos generais de Bangkok e levaram à sua suspensão pela Corte Constitucional.
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