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Crime Organizado S.A. (por Felipe Sampaio)

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Crime Organizado S.A. (por Felipe Sampaio)

Do jeito que a coisa vai, não causaria surpresa se Marcos Camacho fosse um dos keynote speakers mais badalados dos debates sobre negócios, na próxima edição do Fórum Econômico Mundial de Davos. Justiça seja feita, o Marcola é o empresário mais bem sucedido de um dos segmentos mais prósperos da economia – o crime organizado. O seu Primeiro Comando da Capital estaria no topo do ranking da categoria “startup unicórnio” (aquelas empresas inovadoras que escalam rapidamente para um faturamento de US$ 1 bilhão por ano).

Marcola é uma espécie de CEO do PCC, líder um mercado ilegal que movimenta por volta de R$ 400 bilhões no Brasil, segundo artigo publicado pelo ex-Ministro da Segurança Pública Raul Jungmann (Correio Brasiliense, 13/07/25). Ou seja, umas 70 vezes aquele primeiro bilhão de dólares dos sonhos de qualquer startapeiro do Vale do Silício. Apenas para se ter uma ideia do que isso representa na economia real, esse valor supera o PIB do setor de mineração brasileiro.

Considere ainda que no Censo 2022 (IBGE) 17 milhões de brasileiros viviam em 12 mil favelas e que, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o cotidiano de 23 milhões de brasileiros – geralmente pobres – sofre alguma influência de facções e milícias em seus locais de moradia e trabalho. Agora, some-se a isso um PIB das favelas que pode chegar a R$167 bilhões (pesquisa Tracking das Favelas 2025). Quem controla essa riqueza?

O presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, completa esse quadro com a informação de que o crime organizado já é o principal empregador em boa parte da região amazônica (Estadão.14/02/25), a exemplo do que acontece há mais tempo em países como o México. Com tal volume de receita e impacto social fica impossível ignorarmos o crime organizado como stakeholder relevante do desenvolvimento econômico na nossa Terra da Santa Cruz.

A novidade é que, do faturamento do crime organizado no Brasil, apenas R$15 bi (4%) ainda vêm do tráfico de cocaína. Jungmann aponta que os R$ 350 bi restantes são obtidos no mercado ilegal de combustíveis, bebidas, cigarro, ouro, agrotóxicos, cyber crimes, roubos e também da prestação de serviços a moradores e empreendedores das favelas. Nas palavras de Renato Sérgio, “Inicialmente os mercados lícitos serviam para lavar o dinheiro da droga, mas acabaram gerando receita tão grande que a droga deixou de ser o negócio mais rentável”.

Vale destacar que cerca de metade dos cigarros e agrotóxicos vendidos no País têm procedência ilegal, assim como 30% do ouro e 15% dos combustíveis. As práticas criminosas vão desde contrabando e falsificação até roubo e lavagem de dinheiro (tudo alinhavado por corrupção e violência). Cabe lembrar que há algumas semanas até os operadores do mercado financeiro formal denunciaram que os negócios da Faria Lima foram contaminados pelo fluxo de dinheiro do crime organizado, sem que o empresariado legal e os executivos do setor tivessem percebido.

Zeloso de seus negócios, Marcola certamente aproveitaria sua palestra na Suíça para criticar a PEC 18/2025 (que prevê a constitucionalização do SUSP) e o fortalecimento do COAF. Discordaria da criação de um GAECO Nacional e da destinação de um percentual das BETs para o Fundo Nacional de Segurança Pública. Defenderia o caos da estadualização das atribuições de legislar sobre matérias penais e a liberação de armas de fogo. Nessa toada, dizer que o Brasil vive um processo de mexicanização é coisa do passado. Em breve alguém dirá que certo país por aí está vivendo uma brasileirização.

 

Felipe Sampaio: Cofundador do Centro Soberania e Clima; atuou em grandes empresas e 3º setor; foi empreendedor em mineração; dirigiu o Instituto de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa; ex-diretor do sistema de estatísticas do Ministério da Justiça; foi secretário executivo de Segurança Urbana do Recife.

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